Narrado por Camila

O tempo não passava. Cada minuto ali dentro parecia uma eternidade sufocante. O cheiro de umidade impregnava meu nariz, misturado ao suor, à sujeira e ao perfume barato de Daniel — enjoativo, persistente, quase tão insuportável quanto ele.

Daniel vinha e ia como um vulto. Às vezes calado, às vezes falando de nós como se um “nós” realmente tivesse existido. Na mente dele, talvez. Na minha, sempre foi asco. Medo. Raiva. Desprezo.

Mas naquela tarde, ele entrou diferente.

Nos olhos dele havia uma loucura mais viva, mais clara. Um brilho perigoso. E eu soube, antes mesmo de ele abrir a boca, que algo estava prestes a acontecer.

— Está mais bonita hoje — disse ele, trancando a porta atrás de si. — Mesmo com esse cabelo bagunçado... continua linda.

Revirei os olhos, mantendo a coluna ereta no colchão velho. Eu não deixaria ele ver medo. Não mais.

— O que você quer agora, Daniel?

Ele andou devagar até a beirada do colchão, largou a bandeja no chão com desdém e se sentou ao