Narrado por Lucca
Quando saí do quarto e a vi pela porta entreaberta da varanda, sozinha, com uma taça de vinho na mão e o olhar perdido, meu peito apertou.
Clara sempre teve um brilho natural. Até nos silêncios, ela parecia iluminar tudo à volta. Mas ali, sentada, com o rosto abatido pela luz baixa, ela parecia pequena demais para tanto peso.
Não pensei muito.
Peguei uma blusa leve e caminhei até ela. Meus pés descalços mal fizeram som no piso frio.
— Clara?
Ela virou lentamente.
Me ofereceu um sorriso fraco, quase triste, e assentiu como se dissesse que estava tudo bem.
Mas eu via que não estava.
— Oi… — respondeu, baixinho.
— Posso ficar? — perguntei, parando a poucos passos.
— Pode. Só não precisa falar nada. O silêncio me faz bem agora.
Sentei ao lado dela, respeitando o espaço, mas próximo o suficiente para mostrar que estava ali — por inteiro.
O vento noturno soprava devagar.
O silêncio entre nós durou longos minutos, e foi ela quem quebrou, com uma voz rouca de exaustão emocio