(Narrado por Clara)
Faz tempo que a verdade bate na minha porta.
A questão é: até quando vou fingir que não escuto?
Hoje pela manhã, encontrei Camila sentada na varanda, com o olhar perdido. Os olhos pareciam inchados, mas ela não chorava.
Estava… vazia.
Ela sorriu quando me aproximei, mas o sorriso dela era oco.
Algo aconteceu.
E ela não quer me contar.
O pior é que não preciso nem perguntar.
Sei exatamente onde mora o peso que ela carrega nos ombros.
Gabriel passou por nós pouco depois, murmurando um “bom dia” e indo direto pra oficina improvisada no celeiro. Nem olhou pra Camila.
Ela desviou o olhar assim que ele passou.
O silêncio entre eles era alto demais.
— Aconteceu alguma coisa? — perguntei, sentando ao lado dela.
Ela hesitou.
Depois balançou a cabeça.
— Só tô cansada.
— Você nunca foi boa mentirosa, Cami.
Ela soltou um riso fraco, e então, finalmente, me encarou.
— Às vezes, a gente quer muito uma coisa… mas ela vem cheia de coisas que a gente não sabe se está pronta pra lid