Théo Narrando
Eu já havia frequentado muitos leilões na vida. Obras de arte, cavalos de sangue puro, imóveis em lugares paradisíacos. Mas nada, absolutamente nada, chegava perto da tensão e da excitação de estar ali, naquele salão exclusivo, onde os mais poderosos do mundo disputavam o que o dinheiro podia ou não podia comprar. Um leilão de mulheres. Um mercado subterrâneo onde tudo tinha um preço, até a pureza. A iluminação era baixa, criando um clima quase teatral. Os homens à minha volta eram conhecidos, rostos que estampavam capas de revistas de negócios, bilionários do petróleo, magnatas da tecnologia, príncipes, políticos corruptos, e eu. Ali, não éramos nomes, éramos predadores em uma caçada, pelo menos era assim que estava me sentindo. As primeiras garotas começaram a ser exibidas como joias raras. Algumas belas, outras exóticas. A cada batida do martelo, um sorriso satisfeito no rosto de algum velho asqueroso ou jovem sedento por poder. Mas nada disso me interessava. Eu aguardava a última. O ápice da noite. A Virgem. A garota de olhos gritantes, como haviam anunciado. E então ela surgiu. Luzes focaram naquela figura que parecia perdida no palco. Cabelos longos, destacavam um rosto delicado e assustado. Os olhos que meio por baixo da máscara. Eram de um tom que eu não sabia definir. Algo entre o mel e o âmbar, tão intensos que pareciam atravessar a alma de quem ousava encará-los. Ela tremia, os lábios entreabertos, e aquilo só serviu para alimentar o desejo animalesco dos homens na sala. Inclusive o meu. O leiloeiro, um sujeito de terno impecável e sorriso treinado, começou o espetáculo. — Senhores, a última e mais aguardada da noite. A Virgem. Dezenove anos. Nunca tocada. Olhos que hipnotizam. Vamos começar os lances em um milhão de dólares. O silêncio foi quebrado pelo primeiro interessado. Um sheik gordo e coberto de ouro levantou a placa. — Um milhão — anunciou o leiloeiro. — Um e meio — disparou um CEO americano ao meu lado, limpando o suor da testa. Eu apenas observava. Ainda não era a hora de me mostrar. — Dois milhões — gritou um político europeu, conhecido pelos escândalos abafados com dinheiro. O clima esquentava. A garota estava cada vez mais pálida, os olhos arregalados varrendo a plateia como se buscassem uma saída. Não havia. Não ali. — Dois e meio — bradou um magnata russo, levantando o copo de vodca em um brinde invisível. Os lances subiam como fogo em palha seca. Cada um tentando impor sua superioridade. Mas eu já sabia como aquela noite terminaria. Eu nunca perdia. Nunca. — Três milhões — exclamou o sheik, abrindo um sorriso largo, convencido de sua vitória. Eu sorri de lado. Inocente. Achava mesmo que poderia levar o prêmio máximo daquela noite? Achava que ouro e petróleo compravam tudo? Patético. Levantei meu braço devagar, fazendo questão de que todos vissem o gesto. O salão silenciou por um instante. Os olhos se voltaram para mim. O leiloeiro, com as pupilas brilhando em antecipação, apontou na minha direção. — Temos cinco milhões de dólares — a voz dele ecoou, triunfante. O sheik perdeu o sorriso. O rosto vermelho de raiva e incredulidade. Os demais homens recuaram. Ninguém ousou cobrir meu lance. Não apenas pelo valor, mas porque ali, o preço falava mais do que o número: era o preço do desejo de um homem que não admitia derrotas. O leiloeiro levantou o martelo, quase saboreando o momento. — Vendida! Cinco milhões de dólares para o senhor. O som seco do martelo batendo foi a sinfonia da minha vitória. Cinco milhões. O preço do meu desejo. Me levantei, ajustando o terno sob medida, e caminhei até o palco, onde a garota era entregue como um prêmio ao vencedor. Ela tremia. Tão frágil que dava vontade de rir. Mas seus olhos ainda resistiam. Aqueles olhos ainda me desafiavam. Fui levado até o escritório improvisado, e fiz questão de fazer a transferência bancária ali naquele momento, nada de cartão de crédito, de cheque. O pagamento foi a vista. Recebi as informações sobre ela, em seguida me conduziram a uma sala especial, enquanto esperava minha nova conquista, tomava uma taça de champanhe. A porta se abri. Por um instante, meus olhos encontram os dela, assustados como uma presa. — Bem-vinda à sua nova vida, Ava — Falei com a voz baixa, mas cortante — Você é minha agora. — Por favor, não faz isso comigo — a voz dela era um sussurro quebrado. — Você não está em posição de pedir nada, pequena. — respondi, com um sorriso torto no canto da boca. — Cinco milhões de dólares, lembra? É quanto vale o que você carrega aí — toquei de leve o queixo dela. — E eu vou cobrar cada centavo. Os seguranças se aproximaram para escoltar a nova aquisição até a saída privada do salão. Antes que ela fosse levada, fiz questão de encarar todos os homens ali presentes. Muitos desviaram o olhar, outros me fitaram com inveja disfarçada. Eu adorava aquilo. O poder, a supremacia, o gosto da vitória que só os fortes conhecem. A caminho da limousine, enquanto o ar da noite parecia menos denso que o clima do salão, afaguei o braço da garota, que caminhava ao meu lado quase arrastada, o olhar perdido. — Vai se acostumando, princesa. A vida como você conhecia acabou hoje. Agora você vai aprender o que significa pertencer a alguém como eu. Ela não respondeu. As lágrimas silenciosas já escorriam pelo rosto. Parte de mim se divertia com aquele desespero. Parte queria mais. Queria quebrar toda a resistência, apagar aquele brilho desafiador dos olhos gritantes. Quando entramos no carro, me acomodei no banco de couro, cruzando as pernas, enquanto a observei ser colocada ao meu lado. — Olha pra mim. — ordenei. Ela hesitou, mas obedeceu. — Vai ser mais fácil se você entender logo que eu não aceito não como resposta. — minha voz era calma, mas cortante como lâmina. — O que você quer de mim? — sussurrou, quase inaudível. — Tudo. E mais um pouco. E você vai dar. Porque agora, você é minha. E eu nunca desperdiço o que compro. O carro arrancou, deixando para trás o salão, os homens frustrados e a noite que marcaria o início de algo que nem ela nem eu poderíamos prever. Afinal, cinco milhões é o preço do meu desejo. E eu sempre cobro o que pago.