Ava

Ava Narrando

Mandaram que eu tomasse banho. Sem explicações, sem conversa, apenas ordens secas e diretas. A mulher me olhou de cima a baixo, como se eu fosse um objeto sujo que precisava ser polido. Me guiou até um banheiro luxuoso, com mármore por todos os lados, mas mesmo ali, tudo me parecia frio. Frio como o que eu sentia dentro de mim.

Tomei o banho. A água escorria pelo meu corpo, mas não levava embora o medo. A cada segundo, eu me sentia mais exposta, mais vulnerável. Quando saí, enrolada apenas numa toalha branca, ela estava me esperando, com algo nos braços.

— Vista isso — disse, me entregando um vestido preto de festa.

O tecido era fino, colado ao corpo, com um decote profundo e uma fenda que deixava minhas pernas praticamente à mostra. Junto com o vestido, ela estendeu a mão com uma máscara. Negra, detalhada com pedras brilhantes, cobria parte do meu rosto, mas deixava os olhos completamente visíveis.

Peguei a máscara nas mãos e olhei pra ela, confusa, assustada, com o coração batendo mais forte a cada segundo.

— É uma festa? — perguntei, tentando parecer calma, mas minha voz saiu trêmula.

Ela sorriu. Um sorriso seco, sem calor algum.

— É um espetáculo — respondeu. — Escute bem o que eu vou te falar. Esse é um leilão de mulheres. E você é a atração da noite.

Senti o chão sumir sob meus pés. Atração da noite? Leilão? Meu estômago virou, o pânico subiu pela garganta, mas eu engoli seco. Ainda assim, ela continuou:

— Então se comporte. Ande com a cabeça erguida, mantenha a postura, não ouse desafiar ninguém. Seu valor está nos olhos deles. Entendeu?

— Isso é um absurdo — rebati, dando um passo pra trás. — Eu não sou um objeto.

— Mas é assim que eles vão te enxergar hoje — ela respondeu, fria como gelo. — Então use isso ao seu favor, ou vai tornar tudo ainda pior pra você.

Não falei mais nada. Minhas mãos tremiam enquanto segurava o vestido e a máscara. Ela saiu do quarto, deixando a porta se fechar atrás de si com um estalo seco. Fiquei parada no meio daquele quarto enorme, com a toalha molhada grudada na pele e o coração em pedaços.

Vestir aquele traje foi como vestir a própria humilhação. O zíper subia fácil, como se o vestido já soubesse onde pertencia. A fenda deixava minha coxa quase inteira à mostra, e o tecido justo marcava cada curva do meu corpo. Quando coloquei a máscara, senti como se estivesse colocando um disfarce, como se pudesse me esconder ali dentro. Mas os olhos ainda estavam nus. E era por eles que eles iriam me ver.

Me olhei no espelho. A mulher refletida ali não parecia comigo. Era uma versão apagada de mim mesma. Linda por fora, destruída por dentro.

Bati na porta.

Ela abriu. Me olhou da cabeça aos pés e assentiu com um pequeno sorriso.

— Perfeita. Você terá que encantar o público, essa noite você receberá um lance e terá um novo dono. Vamos terminar de te arrumar.

Caminhei atrás dela, cada passo mais pesado que o anterior. Me sentia como uma prisioneira sendo levada para a exposição. A cada corredor, meu medo aumentava. Cada luz, cada sombra, parecia me julgar. Mas o pior ainda estava por vir. Eu não sabia quem estaria do outro lado daquelas cortinas, mas uma coisa era certa: estavam esperando por mim.

E eu era a atração da noite, fizeram meu cabelo, maquiagem. Parece até que estou indo para um baile, o baile da minha morte.

Estou sentada em frente a um espelho gigante, num camarim tão luxuoso quanto uma jaula dourada. Os olhos estão inchados de tanto chorar, mas ainda assim sou obrigada a parecer perfeita. Pele impecável. Cabelo ondulado, penteado com spray caro. Vestido preto colado, decotado e com fenda na coxa.

Eu pareço uma mulher. Mas me sinto uma criança assustada.

Seguro a máscara preta que vou usar no rosto. Ridícula. Uma tentativa patética de fingir que isso não é o que é: um leilão de carne.

Eu sou a Virgem da Noite.

Eles usam esse nome bonito pra disfarçar a podridão.

Virgem. Porque sim, nunca estive com homem nenhum. Nunca beijei alguém, nunca fui tocada.

E essa é a minha “joia”, o motivo de estarem dispostos a pagar dinheiro por mim.

Nojento.

— Cinco minutos, Ava.

Respiro fundo. Não há mais lágrimas. Já chorei todas.

Agora só existe esse vazio que me engole por dentro.

Levanto, ainda com a máscara na mão. Encaro meu reflexo uma última vez.

— Você consegue — minto para mim mesma.

O salão está cheio.

Homens de terno, máscaras elegantes. Alguns fumam charutos. Outros bebem whisky como se estivessem num clube exclusivo.

Mas todos têm algo em comum: os olhos.

Olhos famintos.

Eles me olham como se eu fosse um pedaço de carne fresca. Um prêmio. Um capricho caro.

Sou guiada até o palco por uma mulher que provavelmente já passou por isso. Ela não sorri. Seus olhos são tão mortos quanto os meus.

Subo os degraus com os joelhos tremendo. A luz me cega por um segundo.

Silêncio.

A máscara cobre metade do meu rosto, mas não me protege de nada. Não me impede de ver os números subindo.

Quinhentos mil.

Oitocentos.

Um milhão.

Um milhão e meio.

— Dois milhões.

— Dois milhões e quinhentos.

— Três milhões.

Sinto náusea.

Quero correr. Me esconder. Me jogar de um prédio. Qualquer coisa.

Mas fico parada. Porque se eu me mexer, eles descontam.

Se eu fugir, eu morro.

— Quatro milhões — Fala um homem, baixo de cabelos grisalhos.

— Cinco Milhões.

Silêncio. Um novo silêncio. Um silêncio diferente.

O tipo de silêncio que pesa no ar.

— Cinco milhões de dólares, senhores — A voz do apresentador ecoa no microfone — Pela Virgem da Noite. Arrematada. Lote encerrado.

Um aplauso contido.

Não é celebração. É posse.

E eu sou o prêmio.

Sou levada pelos bastidores, para outro corredor, outra porta.

Atrás dela, está ele.

O homem que me comprou.

Perfeito. Um monstro rico, arrogante e impiedoso.

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