Théo

Théo Narrando

Acordei antes do despertador. Meu corpo já se acostumou a levantar às cinco e meia em ponto. Ainda deitado, peguei o celular e conferi os relatórios que chegaram durante a madrugada. Petróleo em alta. De novo. Sorri de canto. Levantei, caminhei até o banheiro e tomei um banho gelado. Gosto da sensação de controle. Me visto sempre do mesmo jeito: camisa social branca impecável, abotoada até o colarinho, calça de alfaiataria escura, relógio importado no pulso. Imagem é tudo.

Desço, tomo um café preto e forte. Sem açúcar. Do jeito que tem que ser. Entro no meu carro, o motorista já está com o motor ligado. No caminho, respondo e-mails, faço duas ligações para Londres e marco uma call com Houston. Quando a gente lidera uma das maiores empresas de petróleo do mundo, não tem hora pra nada.

Chego no prédio da empresa e o segurança já abre o portão na hora que vê o carro. Cumprimento com um leve aceno de cabeça. Subo direto para minha sala. O andar inteiro é meu. Porta automática, persianas de vidro que se abrem com comando de voz. Tudo de última geração. O luxo é apenas uma consequência do que eu construí com estratégia, frieza e muito trabalho.

Às oito em ponto, entro na sala de reunião. Os investidores árabes já estão me esperando. Roupas tradicionais, perfumes marcantes, postura elegante. Cumprimentos formais, nada de firulas. Me sento na ponta da mesa, cruzo as mãos e começo a reunião. A pauta é clara: expansão da minha empresa para os Emirados. Um investimento bilionário, que pode elevar o nosso faturamento em pelo menos 30% só no primeiro ano.

— Senhor Theodoro, temos interesse real nessa parceria. Mas, como tudo nos Emirados, relações vêm antes de negócios — disse um dos sheiks, ajeitando o turbante.

Assenti com a cabeça, profissional. O jogo deles é diplomacia disfarçada de festa.

— Hoje à noite estaremos em um evento particular. De um amigo nosso. Gostaria que o senhor comparecesse como nosso convidado — disse outro, mais velho, sorrindo com um ar de superioridade.

Não sou fã desse tipo de evento. Gente demais, bebida demais, falsidade demais. Mas entrar nos Emirados seria uma potência a mais pra minha empresa. Eu não sou burro.

— Claro, será um prazer. Posso levar um amigo?

— Sem problema. Já participei de vários eventos assim aqui no seu país. Vocês sabem receber muito bem.

Ele sorriu. Aquilo me soou com um tom de malícia. Fiquei curioso. No mínimo deve ser um bordel, pensei. Esses homens só se contentam com sete mulheres pra cima. Fiz uma expressão neutra, mas por dentro ri.

A reunião terminou com um aperto de mãos firme. Promissor. Assim que os árabes saíram, voltei pra minha sala e sentei na minha cadeira de couro. Encostei, fechei os olhos por um segundo. Respirei fundo. A jogada estava começando. Peguei o telefone fixo e disquei direto pra recepção.

— Chama o Bryan. Diz pra ele vir aqui agora.

Cinco minutos depois, ele b**e na porta e entra.

— Fala, chefe.

— Fecha a porta.

Ele obedeceu.

— Hoje à noite tem uma festa. Coisa que árabe gosta. Mulheres, luxo, segredos. Quero você comigo. Fica de olho em tudo. Eles estão testando. Se a gente passar, entramos de vez no mercado deles.

— Pode deixar. Tô dentro.

Assenti, firme.

— E põe o terno novo. Nada de parecer segurança. Hoje você é sócio.

Ele deu uma risada e saiu da sala com aquele olhar de quem sabia que a noite prometia.

Mal sabem eles, os sheiks, o quanto eu posso jogar esse jogo melhor que todos eles juntos.

No final do expediente, desliguei o notebook, peguei meu paletó e saí do escritório com a cabeça cheia.

Cheguei na minha mansão, larguei as chaves sobre a mesa e fui direto pro banheiro. Liguei a banheira, deixei encher com água quente e óleo de sândalo. Deitei ali, fechei os olhos e por alguns minutos tentei esvaziar a mente. Mas ela não parava.

Depois do banho, escolhi um traje de gala: terno preto italiano sob medida, camisa preta, gravata de seda vinho. Relógio de luxo no pulso e perfume importado marcante, um aroma que não deixa espaço pra esquecimentos. Olhei no espelho e vi exatamente o que o mundo espera de mim: poder, elegância, domínio.

Às 21h em ponto, liguei para o Bryan.

— Já tô aqui embaixo, Théo — respondeu ele, sempre pontual.

Desci, entrei na SUV blindada e seguimos rumo ao endereço que os árabes enviaram. O lugar era afastado, uma mansão fora da cidade, cercada por seguranças armados e carros de luxo. Bryan ficou o tempo todo atento, olhando tudo ao redor.

Quando entrei no salão, fui atingido por uma mistura de perfume doce, luz baixa e música ambiente. Tudo sofisticado, silencioso, quase íntimo demais. Homens com roupas de gala conversavam baixo, taças de champanhe nas mãos. Mas o que me incomodou de cara foi a ausência total de mulheres.

Olhei em volta, confuso. E então os vi: os sheiks. Caminhei até eles, cumprimentando com um leve aceno de cabeça.

— Que bom que veio, amigo — disse um deles, sorrindo. — A noite promete.

Antes que eu pudesse responder, outro me entregou um catálogo preto, de couro.

— Isso, é o quê? — perguntei, folheando.

Foi então que percebi. Mulheres. Cada página uma mulher diferente, todas vestidas com máscaras e roupas provocantes. Nome fictício, idade, altura, país de origem e um número de identificação. Um leilão.

Um maldito leilão de mulheres.

Minhas mãos congelaram na metade do catálogo. E então meus olhos pararam numa imagem. Uma mulher de pele clara, corpo esguio, vestido preto colado ao corpo e uma máscara que cobria quase todo o rosto. Mas os olhos. denunciavam tristeza. Solidão. Medo. Aquilo me prendeu. Fiquei encarando a foto dela por tempo demais.

— Quanto vale essa? — perguntei, sem pensar.

Bryan me olhou com uma expressão estranha, como se tivesse certeza de que tinha entendido errado.

— Não tem um valor específico. O maior lance leva — respondeu um dos sheiks, sem nenhum constrangimento. — Gostou da mulher, amigo?

Hesitei. Por alguns segundos, pensei em dizer que aquilo era uma loucura. Que estavam ultrapassando limites. Mas não disse nada. Só balancei a cabeça devagar, concordando.

Fui até uma das poltronas de couro e me sentei.

Minha mente girava. E por mais que eu tentasse racionalizar, algo naquela mulher me desestabilizou.

Eu vou dar o maior lance, quando for a vez, irei arremata-la.

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