POV Bennet
Aquela dor, que não tem nome, que ultrapassa qualquer definição médica, nos consome por inteiro.
Choramos como família. Como quem entende que o tempo agora é uma contagem regressiva.
Até que batem à porta. Enfermeiros vêm me buscar para os exames.
Minha mãe segura minha mão com força, como se pudesse impedir que o tempo me levasse.
Meu pai apenas fecha os olhos e sussurra uma prece em um idioma antigo.
Sou levado em silêncio. O corredor parece estreito demais. O som das rodas da maca ecoa como um relógio, tic-tac, tic-tac... cada segundo, um passo mais perto do fim.
Ressonância. Tomografia. Luzes fortes.
O barulho incessante da máquina martela meu crânio como um tambor de guerra. Meus olhos doem, minha cabeça pulsa. O mundo inteiro vira um borrão.
Peço algo para a dor. A enfermeira sai. Volta com o oncologista.
— Vai sentir alívio rápido — ele diz. E aplica a morfina com a habilidade de quem sabe o que está por vir.
E então, no meio do torpor, penso nela.
Kali.
Seu toque. S