Episódio 07 — Falcão

Faz exatamente uma semana que aquela loirinha entrou na minha vida e, sinceramente, eu ainda não sei por que diabos a trouxe comigo. Talvez fosse o calor do momento, talvez porque o desgraçado do Marcos merecia pagar caro pela dívida. O problema é que, nesse tempo, ela se aproximou demais da minha mãe e da Sophia. As duas a tratam como se fosse uma de nós, e isso me tira do sério. Minha mãe, com aquele coração mole, acha que todo mundo merece uma chance, enquanto a Sophia parece ter encontrado uma nova melhor amiga. E aí estou eu, o dono do morro, vendo uma estranha invadir o meu espaço. Não posso deixar isso acontecer, não mesmo. Preciso tomar as rédeas dessa situação antes que saia ainda mais do controle. Eu já dei espaço demais. Ela está na minha casa, sob o meu teto, e isso tem um preço. Nada nessa vida é de graça, muito menos a estadia dela. Se o Marcos me entregou ela como pagamento, então ela vai pagar a dívida do jeito dela.

— Ela vai fazer minha comida, lavar minhas roupas, e se brincar ainda vai ser a minha puita, e trabalhar nessa porra de casa. Não vou tolerar mais mordomia. — penso, minha mente fervendo enquanto organizo meus próximos passos.

Minha mãe e Sophia podem não gostar, mas é isso. Esse é o meu mundo, são as minhas regras, e ninguém fica de fora delas. Afinal, eu sou o Falcão, o dono do morro, e aqui não tem espaço para fraqueza. Estava imerso nos papéis espalhados pela mesa, tentando focar nos números e nas pendências, mas minha mente insistia em me arrastar de volta para o caos que estava minha casa. A imagem da Jade, da minha mãe e da Sofia rindo como se fossem uma família feliz me incomodava mais do que eu gostaria de admitir. Eu preciso botar ordem naquela porra, ou vou acabar perdendo o controle. E isso, no meu mundo, não é uma opção.

Hoje ainda tem o baile, e eu não posso me distrair. O morro precisa me ver no comando, preciso ser visto como o Falcão de sempre, o dono dessa porra toda.

— Tá com que caralho no ouvido, Falcão? — a voz do GW invadiu minha concentração, me fazendo erguer o olhar furioso para ele.

Ele me encarou com aquele jeito debochado de sempre, sem nem perceber que estava a um fio de cabelo de levar uma resposta atravessada.

— Qualquer dia tu vai levar uma bala na testa, tá ligado? — provocou o Faísca, encostado na parede com aquele sorriso despreocupado. Soltei um suspiro pesado, tentando não explodir. Eles sempre faziam isso, testavam os limites, mas não era o dia para brincarem com a minha paciência.

— Vocês dois, somem daqui. Tenho coisa mais importante pra resolver do que aturar as merdas de vocês — rosnei, voltando meu olhar para os papéis à minha frente, embora minha mente já estivesse longe dali, pensando em como vou ajustar as coisas antes que a noite caia e eu tenha que enfrentar o baile. GW e Faísca trocaram olhares rápidos, claramente se divertindo com minha irritação, mas sabiam que estavam pisando em terreno perigoso. Mesmo assim, eles não conseguiam simplesmente calar a boca e sair.

— Tá estressadinho por quê, chefe? Não dormiu bem na mansão, foi? — provocou GW, cruzando os braços e me encarando como se estivesse diante de um colega de bar, e não do cara que podia acabar com ele em um estalar de dedos.

Respirei fundo, tentando segurar a explosão, mas minha paciência estava por um fio.

— GW, vou te dar dez segundos pra sumir da minha frente antes que eu arranque tua língua fora — rosnei, levantando da cadeira e encarando ele de frente. Minha voz saiu baixa, mas carregada com todo o peso da ameaça.

— Beleza, chefe, tô de saída — disse ele, levantando as mãos como quem se rende, mas com um sorrisinho malicioso que me deu vontade de socar.

Faísca, por outro lado, ainda parecia achar que podia me provocar mais um pouco.

— Relaxa, Falcão. Tá precisando de uma boceta pra desestressar. Ou será que a loirinha lá em casa não tá servindo? — Ele riu, achando que estava sendo engraçado.

Foi a gota d’água.

Em um movimento rápido, agarrei a camisa dele com força e o empurrei contra a parede. O sorriso sumiu na hora, e os olhos dele se arregalaram.

— Escuta bem, seu filho da puta — disse, pressionando meu antebraço contra o pescoço dele. — Da próxima vez que você abrir essa boca imunda pra falar dela ou pra brincar com a minha cara, vai ser tua última palavra. Tá entendendo?

— Tá, tá, chefe, foi mal! — ele disse, tentando puxar o ar enquanto eu o mantinha preso contra a parede.

Soltei ele com força, fazendo o corpo dele quase desabar no chão, e apontei para os dois.

— Agora sumam daqui antes que eu resolva o problema de vocês com chumbo. Vai! — gritei.

Sem hesitar, os dois saíram, quase tropeçando nos próprios pés para chegar à porta. Fiquei ali, respirando fundo e tentando acalmar a tempestade dentro de mim. Mas porra, como é que eu ia manter o controle quando todo mundo parecia querer me testar? Eu não sou santo, nunca fui. E no meu mundo, fraqueza é convite pra desgraça. Hoje ainda tem o baile, e vou mostrar que quem manda nessa porra sou eu. O dia inteiro foi uma sucessão de irritações e pensamentos que não saíam da minha cabeça. Embora o GW e o Faísca sejam indispensáveis no meu comando, eles precisam lembrar que sou eu quem dita as regras aqui. Não importa se são meus braços direitos, ninguém fica brincando com a minha paciência. Já a maldita loira... só de pensar nela, sinto o sangue ferver de novo. O que me deu na cabeça de aceitar aquilo? Nem sei se é virgem mesmo ou se foi só uma jogada barata do desgraçado do Marcos pra me enganar. Essa porra de dúvida está me corroendo, e eu odeio isso.

O dia passou voando, mas antes de eu ir ao baile, decidi relaxar um pouco. Kamily apareceu, como sempre pronta para servir, e eu aproveitei. É uma vagabunda, mas sabe muito bem o que faz. O boquete dela é impecável, e pelo menos por alguns minutos ela conseguiu me fazer esquecer a merda que é lidar com tudo isso. Quando terminei, mandei ela embora sem rodeios. Não gosto de enrolação, muito menos de deixar essas putas se sentirem à vontade. Antes de qualquer coisa, fui direto pra casa. Precisava de um banho urgente pra me livrar do cheiro dela. O perfume barato e o suor que ficou grudado em mim são insuportáveis. Cheiro de puta é algo que eu detesto no meu corpo, e só de sentir aquele odor misturado com a lembrança de tudo, minha irritação voltou. Hoje à noite eu vou mostrar no baile por que ninguém mexe comigo.

Subi as escadas da casa já irritado, passando pela sala sem sequer olhar para ninguém. O dia tinha sido uma merda, e minha cabeça estava prestes a explodir. Enquanto caminhava pelo corredor em direção ao meu quarto, avistei a loira. Ela estava saindo de um dos quartos com um olhar distraído, carregando umas roupas dobradas nos braços. Assim que me viu, parou no mesmo instante, com aquele olhar meio assustado, meio perdido.

— Olha só quem resolveu aparecer no corredor como se fosse dona da casa — comentei, com sarcasmo escorrendo em cada palavra. Cruzei os braços e a encarei de cima a baixo, reparando no jeito dela ficar inquieta. — Tá confortável aqui, princesa? Quer que eu te traga uma coroa também?

— Eu... eu só estava ajudando a senhora Helena com as roupas... — respondeu, a voz baixa, quase tremendo. Ela desviou o olhar, mas ainda estava ali, parada, como se não soubesse se deveria correr ou continuar.

— Claro que estava, uma verdadeira fada do lar — retruquei, rindo pelo nariz. Dei um passo na direção dela, só para ver a reação, e não me decepcionei. Ela recuou, apertando as roupas contra o peito como se fosse um escudo. — E você acha que isso paga alguma coisa, Jade? Acha que lavar umas roupas ou arrumar uns pratos te dá o direito de estar aqui? Porque eu não acho.

Ela engoliu em seco, e eu podia ver o medo tomando conta dela. Meu olhar se prendeu ao dela por um momento, aqueles olhos verdes grandes, assustados. Droga, essa garota me irritava e me intrigava ao mesmo tempo. Ela abriu a boca pra falar algo, mas hesitou.

— Eu... eu não pedi pra estar aqui... — murmurou, a voz quase um sussurro. — Eu só... só quero fazer o que é certo...

Dei mais um passo, e agora estávamos tão perto que dava pra ver o tremor nas mãos dela. O cheiro dela... suave, diferente do perfume barato que ainda impregnava na minha pele por causa da Kamily. Aquilo me atingiu de um jeito estranho, como uma brisa que apagava o incêndio na minha cabeça por um instante. Inalei o aroma sem perceber, e, por um momento, minha raiva deu lugar a uma calma inesperada.

— Certo? — repeti, com um tom mais baixo, quase zombeteiro, inclinando-me levemente. — Aqui não existe certo, loirinha. Só existe o que eu mando fazer. E você tá aqui porque eu decidi que seria assim. Não esquece disso. — Ela mordeu o lábio, claramente nervosa. De repente, parecia ainda menor, quase encolhida diante de mim. O medo dela era palpável, mas havia algo mais ali... talvez fosse apenas a inocência dela que me fazia sentir uma estranha vontade de mantê-la inteira. Não sabia ao certo. — Boa garota — murmurei. Depois, me endireitei e dei um passo para trás, deixando espaço para ela passar. — Agora some da minha frente antes que eu mude de ideia e resolva cobrar outra coisa de você.

Ela passou por mim quase correndo, sem olhar para trás, e eu fiquei ali no corredor por alguns segundos, encarando o nada, enquanto aquele cheiro ainda pairava no ar, me lembrando que, por mais que eu tentasse, essa loira do inferno mexia comigo de um jeito que eu não entendia. Entrei no quarto com o humor ainda pior depois daquele breve encontro com Jade no corredor. Tranquei a porta e segui direto para o banheiro. Liguei o chuveiro no máximo e deixei a água quente cair sobre mim, limpando não só o cheiro da Kamily, mas também a irritação que parecia grudar na minha pele. O vapor tomou conta do banheiro enquanto eu esfregava o corpo com força, como se estivesse tentando apagar o dia inteiro.

O rosto da loira do corredor não saía da minha cabeça. Aquele olhar assustado, como o de um animalzinho encurralado, me provocava de um jeito que eu odiava admitir. Só de pensar nisso, acabei cerrando os punhos e murmurando um xingamento para mim mesmo. Que merda estava acontecendo comigo? Depois de terminar o banho, me enxuguei rapidamente, vesti uma camisa preta justa e uma calça jeans escura, ajustando o cinto. Coloquei o relógio no pulso, finalizei com o meu perfume usual, algo amadeirado e marcante, e saí do quarto sem olhar para os lados, determinado a focar no que importava.

A casa estava em silêncio, exceto por alguns murmúrios vindo da cozinha, provavelmente minha mãe conversando com Jade ou Sophia. Não me incomodei em conferir. Passei pela sala sem desviar o olhar e saí porta afora, sentindo o ar fresco da noite me envolver. Fui direto para o baile. Era o momento de mostrar quem mandava naquele morro, de lembrar a todos que eu era o dono dessa porra. A música já podia ser ouvida à distância, os graves das batidas ecoando pela rua enquanto eu me aproximava. Os meus homens estavam espalhados, mantendo a ordem no local. Assim que cheguei, todos me notaram, e alguns começaram a abrir espaço para mim. O baile era minha zona de poder, onde ninguém ousava questionar minha autoridade. Eu precisava disso. Hoje, mais do que nunca, precisava lembrar quem eu era e porque todos me respeitavam – ou temiam.

 

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