Episódio 06 — Jade

Entrar nessa casa foi como mergulhar em um pesadelo sem fim. Meu coração parecia apertado, e a sensação de estar completamente vulnerável me desolava. Não sabia o que fazer, para onde ir ou se ainda havia alguma chance de escapar. Só de olhar ao redor, já era evidente: essa casa era um verdadeiro cárcere, rodeada por homens armados que pareciam viver para proteger aquele que me trouxe até aqui. A mãe dele, Helena, me acolheu assim que pisei os pés neste lugar. Ela parecia ser uma mulher de coração bom, o oposto de seu filho, mas ainda assim... confiar era algo impossível. Cada gesto dela, mesmo sendo gentil, parecia distante, como se nada pudesse preencher o vazio e o desespero que dominavam meu peito.

Minha tia... ela viu quando fui levada. Seu rosto de desespero e os gritos implorando para que me deixassem foram a última coisa que vi antes de ser colocada no carro. Saber que ela sabe onde estou deveria me trazer conforto, mas, na verdade, me fazia sentir ainda pior. Eu sabia que ela estava sofrendo, que provavelmente estava se culpando por não ter conseguido me proteger, mesmo quando isso estava além de seu alcance. Presa. Era essa a palavra que martelava na minha mente, ecoando cada vez mais alto. Presa nessa casa sufocante, cercada por paredes luxuosas que não significavam nada. Presa ao domínio de um homem que fazia questão de deixar claro que o poder dele era absoluto. Um homem que não só me arrancou da minha casa, mas também da única pessoa que eu sabia que faria de tudo para me salvar.

— Não tenha medo, eu estou aqui. — A voz suave de Helena soou como um bálsamo em meio ao caos, e, sem pensar, me aconcheguei ainda mais em seus braços. As lágrimas continuavam a escorrer pelo meu rosto, formando pequenos rios de desespero que eu não conseguia conter.

Por um momento, senti o calor de um lar que há muito não sentia, mas fui arrancada de meus pensamentos ao ouvir uma voz vinda das escadas.

— Mãe? — chamou, com um tom de curiosidade.

Helena virou o rosto em direção à escada, e eu acompanhei o movimento, notando uma jovem parada nos degraus. Ela parecia ter por volta de 16 ou 17 anos, com um olhar curioso e uma leve desconfiança.

— Oi, meu amor. — respondeu Helena com um sorriso afetuoso.

— Quem é essa moça? — perguntou a garota, descendo um pouco mais os degraus, mas parando ao perceber o clima tenso no ar.

Instintivamente, me afastei de Helena, sentindo a necessidade de justificar minha presença ali.

— Seu irmão trouxe ela, filha. — explicou Helena, mantendo o tom tranquilo, como se quisesse evitar mais desconforto.

Engoli em seco, sentindo o peso de todos os olhares sobre mim.

— Perdão, senhora. — murmurei, abaixando a cabeça num gesto automático de respeito. — Me chamo Jade.

Só então percebi que, com toda a confusão, não havia sequer me apresentado. As palavras saíram quase em um sussurro, carregadas de timidez e exaustão. A garota continuou me olhando por alguns segundos antes de desviar o olhar, e eu me perguntei o que passava por sua cabeça.

Helena afagou meus cabelos com cuidado, como se quisesse aliviar o peso que eu carregava nos ombros.

— Não precisa se desculpar, Jade. Você está em um lugar seguro agora. — ela disse, lançando um olhar firme para a jovem na escada, como se pedisse que ela fosse compreensiva.

A garota franziu a testa levemente, mas não disse nada. Desceu os últimos degraus e se aproximou, agora mais curiosa do que desconfiada.

— Eu me chamo Sophia, mas todo mundo me chama de Soph. — ela falou, estendendo a mão em minha direção.

Demorei um momento para entender o gesto, mas, hesitante, aceitei o cumprimento. Sua mão era pequena e quente, e por um breve instante, um vislumbre de normalidade pareceu surgir naquele ambiente estranho.

— Obrigada, Sofia. — respondi com um sorriso tímido, embora meu coração ainda estivesse apertado. Helena observava a interação com um semblante tranquilo, mas seus olhos pareciam atentos a qualquer sinal de desconforto meu.

— Por que meu irmão trouxe ela? — Sophia perguntou, dirigindo-se à mãe, mas com o olhar ainda em mim.

Helena respirou fundo, como se estivesse escolhendo cuidadosamente as palavras.

— Isso não é importante agora, filha. O que importa é que Jade está aqui e precisa de nossa ajuda. — respondeu, com um tom firme, mas acolhedor.

Sophia parecia querer insistir, mas, ao notar o olhar da mãe, apenas deu de ombros.

— Tá bom... Vou para o meu quarto. — disse ela, virando-se e subindo as escadas novamente.

Fiquei observando até que ela desaparecesse pelo corredor no andar de cima. Helena, então, voltou sua atenção completamente para mim, segurando minhas mãos com firmeza, mas sem ser invasiva.

— Sei que tudo isso deve estar sendo muito difícil, querida, mas quero que saiba que você pode contar comigo aqui. Não precisa ter medo. — ela garantiu, olhando diretamente nos meus olhos.

As palavras dela eram sinceras, mas algo dentro de mim ainda relutava em acreditar. Minha mente estava presa à imagem de Dante, aquele homem frio e impiedoso que havia me arrancado de casa como se eu fosse um objeto.

— Obrigada, senhora Helena... Eu... Eu realmente não sei o que fazer. — confessei, a voz embargada pela emoção.

Helena apertou levemente minhas mãos, como quem tenta passar força.

— Vamos dar um passo de cada vez, Jade. Por agora, você só precisa descansar. Deixe que eu cuido do resto, tá bem?

Assenti, embora a ideia de descansar parecesse impossível. Minha mente ainda estava a mil, e o peso daquela situação parecia maior do que eu poderia suportar. Lembrar de tudo o que Marcos fez é como um golpe direto na alma. Não sou um objeto, mas ele me tratou como se fosse. Ele me entregou sem sequer hesitar, sem pensar nas consequências para mim. Minha tia... Ela não tinha o que fazer, e vê-la impotente diante daquela situação me destrói por dentro. Tudo isso está me consumindo, me deixando mal de um jeito que não consigo explicar.

Mas talvez... Talvez eu possa confiar na senhora Helena. Ela tem algo diferente, algo que parece sincero e acolhedor.

Com delicadeza, ela se levantou do sofá e estendeu a mão para mim. Fiquei hesitante, mas, no fim, segurei sua mão. Ela me guiou pela sala até as escadas, os passos dela eram calmos, quase tentando transmitir segurança. Subimos devagar, e minha mente continuava presa no caos que se tornou minha vida.

Quando chegamos ao andar de cima, ela me levou até um quarto. Assim que entrei, meus olhos percorreram cada canto do espaço. Era um quarto bonito, grande demais para alguém como eu, que sempre viveu com tão pouco. Mas aquele lugar me deixava apreensiva, mesmo sendo confortável. A sensação de estar presa me consumia. Eu não sabia por quanto tempo teria que ficar ali, nem como seria minha vida daqui para frente. Tudo o que eu queria era voltar para a minha vidinha simples, para o meu lugar, onde, mesmo com dificuldades, eu ainda era dona das minhas escolhas. Mas agora... Agora estou aqui, tentando encontrar forças para suportar o peso de tudo isso.

Já era tarde da noite quando o peso da situação começou a cair sobre mim de forma ainda mais avassaladora. O quarto estava mergulhado em uma penumbra tranquila, iluminado apenas pela luz fraca de um abajur próximo à cama. A senhora Helena sorriu para mim, um sorriso gentil, quase maternal, que parecia querer envolver o caos dentro de mim em um manto de tranquilidade. Mesmo assim, o vazio e o medo ainda se agarravam ao meu peito com força. Depois de um breve momento, ela se despediu com suavidade, saindo do quarto e fechando a porta com cuidado, como se temesse perturbar minha fragilidade.

Fiquei sozinha novamente, o silêncio preenchendo cada canto do ambiente. Olhei ao redor, tentando absorver o espaço, mas tudo ali parecia frio e distante, como se não me pertencesse. Meu olhar percorreu os móveis, as paredes, o abajur ao lado da cama, tentando encontrar algo que me transmitisse um pouco de conforto ou familiaridade.

Respirei fundo, reunindo coragem, e dei alguns passos cuidadosos pelo quarto. Era como se cada movimento precisasse de um esforço enorme, meu corpo carregando o peso de tudo o que havia acontecido até ali. Passei a mão pela superfície de uma cômoda, sentindo a textura da madeira, e por um momento desejei que aquilo fosse apenas um pesadelo do qual eu poderia despertar. Por fim, caminhei até a cama e me sentei na beirada, as pernas balançando de leve, enquanto encarava o chão. O turbilhão de pensamentos na minha cabeça era incontrolável. Meu coração doía ao pensar na minha tia, sozinha, provavelmente tão perdida quanto eu. E o Marcos... O ódio e a decepção se misturavam em meu peito, criando um nó impossível de desfazer.

Deitei-me devagar, puxando o cobertor que a senhora Helena havia trazido e me encolhi em posição fetal. As lágrimas começaram a descer silenciosas, quentes contra o frio do meu rosto. Pressionei o travesseiro contra mim, como se pudesse sufocar o choro, mas ele continuava, insistente.

Naquele momento, eu não sabia o que o futuro reservava para mim, nem se teria forças para enfrentá-lo. Tudo o que me restava era aquela noite interminável, marcada por um misto de dor, medo e solidão. O cansaço e a exaustão de tudo, acabou me fazendo adormecer ao poucos. Mas meus pensamentos ecoavam que tudo aquilo era um pesadelo, e quando acordasse tudo voltaria ao normal.

Sigue leyendo este libro gratis
Escanea el código para descargar la APP
Explora y lee buenas novelas sin costo
Miles de novelas gratis en BueNovela. ¡Descarga y lee en cualquier momento!
Lee libros gratis en la app
Escanea el código para leer en la APP