O meu primo é um caso perdido. Sempre arruma problema, sempre faz as escolhas erradas, e no fim, quem paga o preço é a minha tia. Ela carrega um fardo pesado demais, se desgastando por alguém que não quer nada com a vida. Eu fico triste por ela, por vê-la se acabar tentando salvar quem já decidiu afundar. Enquanto isso, sou eu quem tem que ajudar em casa, trabalhar, dar um jeito de fazer as coisas andarem.
Mas hoje, pela primeira vez em muito tempo, senti uma pontinha de felicidade. Consegui arranjar um emprego na padaria aqui perto, e isso já me deu um pouco de esperança. Não é muita coisa, mas já é um começo. Além de ajudar nas despesas, vai me distrair, ocupar minha cabeça com algo útil. Amanhã é meu primeiro dia, e eu tô determinada a fazer tudo certo. Quem sabe, dessa vez, eu consigo ficar tranquila e levar a vida com um pouco mais de leveza?
Estava sentada no sofá, tentando relaxar. A TV estava ligada, mas eu nem prestava atenção no programa. Era só barulho de fundo para afastar os pensamentos ruins. De repente, ouvi batidas fortes na porta. Estranhei, mas levantei, achando que podia ser algum vizinho. Porém, antes mesmo de chegar perto, a porta foi arrombada com um estrondo que fez meu coração disparar.
Minha reação foi automática: dei um passo para trás, assustada, enquanto meu primo Marcos, que estava sentado do outro lado da sala, se levantou num pulo. Ele correu desesperado, mas não chegou longe. Os homens que invadiram a casa o pegaram rápido, como se já soubessem exatamente o que fazer.
O medo tomou conta de mim. Minhas mãos tremiam, meu corpo parecia preso ao chão, incapaz de reagir. Fiquei ali, paralisada, enquanto eles seguravam Marcos e o arrastavam para perto da porta. A sala, que antes era um espaço de refúgio, agora parecia o cenário de um pesadelo do qual eu não conseguia acordar.
— Ora, ora, ora, Marcos. — disse um homem aparecendo diante da porta.
— Qual foi Falcão, não precisava arrombar a porta assim. — as vozes estavam por todo o lado, mas eu estava em choque, paralisada em um canto da sala, a minha tia apareceu na porta da cozinha e ao ver a cena ficou desesperada.
— Por favor, não façam nada com o meu filho. — implorou, mas eles não ligaram muito.
— Qual foi tia, não vamos fazer nada com ele aqui, pode ficar tranquila. — disse um dos homens que o segurava forte, os olhos do homem que estava na porta pousaram em mim, aquilo me deixou completamente em pânico, acabei dando um passo para trás.
— Eu só vir aqui atrás do meu dinheiro mané, tá me devendo porra. — disse ele com a voz firme.
— Amanhã eu levo o dinheiro lá. — disse Marcos para o Falcão.
— Não tem negócio de amanhã porra. — um dos homens que o seguravam, deram um soco na barriga dele.
— Meu Deus. — gritei assustada.
— Calminha ai gracinha. — o homem que bateu nele, sorrio ao falar para que eu ficasse calma.
— Por favor Falcão, tenha piedade do meu filho. — minha tia começou a intervir.
— Fica na sua tia, que o negócio é com esse desgraçado aqui. — disse nervoso. — Eu quero os quarenta mil que ele me deve. — minha tia levou as mãos a cabeça, eu fiquei ainda mais em choque, tentei me aproximar da minha tia, mas parecia que meu corpo estava paralisado, como se eu não conseguisse sair do lugar.
— Jesus, meu filho, você deve isso tudo para esse homem. — as lágrimas molharam o rosto da minha tia, só então conseguir andar até ela, me abracei nela. — Como você pode? — Pergunta incrédula.
— Você sempre dando problemas para a titia. — digo abraçando ela, enquanto ela chora.
— Cala a boca, filha da puta. — quando ele falou alto os caras o bateram de novo, dessa vez eles não pararam eles continuaram a bater e os socos eram fortes, estava completamente assustada com isso.
— Eu não tenho o seu dinheiro. — ouço o Marcos falando.
— Tu vai morrer, vai ser exemplo para todos que me deve e sabe muito bem das regras. — o Falcão disse com um brilho mortal em seu olhar.
— Não, por favor, vamos fazer um acordo. — ele falou nervoso, sua voz era de medo.
— Você não tem nada a oferecer. — disse um dos homens, e a minha tia já estava chorando desesperada, tentei acalmar ela, mas não conseguia, assim como ela chorava, eu estava com muito medo, e tentando bancar de forte para não desamparar ela.
— Tenho, eu tenho ela. — ele acena com a cabeça na minha direção. — Ela é virgem, nunca teve um namorado, nunca foi encostada por homem nenhum. — disse o Marcos, me deixando completamente em pânico, o medo estava tão profundo em meu corpo, que a tremedeira atingiu forte.
— Você ficou louco? — gritou a minha tia para ele. — Ela é sua prima, é como sua irmã, ela não é um objeto para ser dado em sua dívida. — foi nesse momento que percebi o quanto a minha tia me ama, assim como eu a amo, embora ela seja um pouco rigorosa, mas eu a amo.
— Tá me achando com cara de idiota, Marcos? — os homens se entreolhavam, e mesmo assim voltaram a bater nele.
— Estou falando a verdade, ela nunca foi tocada. — ele cuspiu o sangue que estava em sua boca, só então o homem olhou para mim, aquilo me deixou em pânico, o medo se instalou dentro de mim.
— Não olhe para ela. — disse a minha tia, mas era tarde demais, ele entrou na casa, minha tia me colocou atrás dela, só então ele veio para mais perto, o mesmo empurrou a minha tia e segurou com força no meu braço.
Seus olhos penetravam os meus olhos como se fosse uma lâmina afiada, meu corpo estava tremendo todo, eu não conseguia me mexer, parecia que ele estava me analisando, o medo estava tomando conta de mim.
— Você é tudo o que ele falou? — Perguntou, mas eu não conseguir responder.
— Não é dá sua conta, diabo. — disse a minha tia.
— Cale-se ou matarei o seu filho de merda. — disse nervoso, seus olhos voltaram para mim. — Responda-me porra. — disse nervoso. Não conseguia responder mais acenei com a cabeça, as lágrimas molhavam o meu rosto. —Irei levá-la. — disse me arrastando para a porta.
— Tia, por favor tia. — as lágrimas molhavam meu rosto, a minha tia se levantou e tentou me puxar mas ele era mais forte.
— Sua dívida está quitada, mas se eu ouvir ou alguém me falar que você está tentando arrumar drogas aqui dentro do meu morro, eu vou meter uma bala na sua testa sem pensar duas vezes seu filho da puta, saco de merda. — disse sério, os homens soltaram ele.
Só então, o Falcão me agarrou pelo braço e começou a me arrastar para fora de casa. Minhas pernas pareciam fracas, quase incapazes de me manter em pé. Eu me debatia, tentando me soltar, enquanto gritava desesperada:
— Me solta! Eu não fiz nada! Por favor, eu não tenho nada a ver com isso! Tia! TIA!
Mas ele continuava firme, como se minhas palavras fossem invisíveis. Sua força era implacável, e por mais que eu tentasse me libertar, não conseguia. Os homens que estavam com ele até tentaram interferir.
— Chefe, solta a garota, ela não tem nada a ver com a dívida do Marcos. Você sabe que não se pega mulher como pagamento. Isso não é certo.
— Cale-se GW. — disse sério.
Mas Falcão sequer desviou o olhar. Continuou me puxando, com o rosto sério e olhos que pareciam não demonstrar emoção alguma. Não sei se era raiva, frieza ou algo pior, mas o silêncio dele era ainda mais assustador do que seus movimentos.
Antes que eu pudesse entender o que estava acontecendo, ele me colocou dentro de um carro. Sentei à força, ainda ofegante e tremendo de medo. Falcão entrou logo em seguida e se sentou ao meu lado. Não disse nada, apenas fechou a porta com força. Os outros entraram no carro também, e sem que ninguém explicasse nada, o veículo começou a se mover.
Eu olhava ao redor, tentando reconhecer o caminho, mas era inútil. A rua que o carro seguia era completamente desconhecida para mim, um lugar que eu nunca tinha visto antes. O silêncio no carro era sufocante, quebrado apenas pelo som do motor.
Alguns minutos depois, o carro parou em frente a algo que me deixou sem palavras: uma mansão gigantesca, cercada por muros altos e portões reforçados. Não era apenas uma casa grande; era uma fortaleza. Tudo ao redor parecia gritar que aquele lugar era impenetrável. Eu sabia onde estava. Aquela era a lendária mansão do Falcão, o lugar que todos no morro falavam, mas que poucos haviam visto de perto. Agora, eu estava ali, dentro de um pesadelo que parecia cada vez mais real.
Falcão desceu do carro primeiro. Seus movimentos eram lentos e calculados, como se ele controlasse não apenas a situação, mas o tempo. Quando abriu a porta ao meu lado, não precisou dizer nada. Seu olhar mandava uma ordem clara, e mesmo relutante, minhas pernas obedeceram. Enquanto ele me guiava para dentro, eu tentava entender o que estava por vir. Seus olhos eram impossíveis de decifrar. Não demonstravam ódio, nem piedade, mas havia algo neles que fazia meu coração acelerar ainda mais.
Eu estava presa na fortaleza do homem mais temido do morro, sem saber o que esperar.