A manhã de terça-feira nasceu lenta e pesada sobre a casa de Candeias. Cada hora que passava sem notícias de Marina esticava a tensão entre Gabriel e Lara até um ponto quase insuportável. O celular descartável jazia sobre a mesa da cozinha, um pequeno totem preto que continha todo o poder sobre o futuro deles. Eles o circulavam como se fosse uma bomba-relógio.
Lara descobriu que a ansiedade era uma força motriz. Ela não conseguia ficar parada. Limpou a casa inteira, esfregando o chão, tirando o pó de móveis que não viam um pano há uma década. Era uma tentativa fútil de exercer algum controle sobre um mundo que havia saído completamente de seu eixo. Gabriel a observava em silêncio, reconhecendo o processo. Ele fazia o mesmo, mas sua arrumação era interna, organizando planos, contingências e possíveis desfechos, cada um mais sombrio que o outro.
Foi Lara quem quebrou o silêncio, a voz prática, despida da emoção crua do dia anterior.
— Se a Marina encontrar alguma coisa — ela começou, pa