As ruas de São Paulo na madrugada eram um labirinto de solidão. Para Gabriel, elas eram um velho conhecido. Ele se moveu por elas como um espectro, o cheiro de fumaça em suas roupas sendo a única prova do inferno que deixara para trás. A adrenalina que o mantivera de pé começou a abandoná-lo, substituída por uma exaustão que pesava em cada osso. Ele precisava de um refúgio. Um lugar para pensar. Um lugar para se lamber as feridas invisíveis.
Ele pegou um táxi, dando o endereço de um bairro operário do outro lado da cidade, um lugar sem o brilho dos Jardins ou a podridão da Lapa. Um lugar anônimo. Encontrou o que procurava em uma rua secundária: um motel simples, com uma placa de “Vagas” iluminada por uma luz de neon cansada. Pagou por duas noites em dinheiro a um recepcionista sonolento que não fez mais do que erguer os olhos de uma revista de palavras cruzadas. Anonimato. Era a única moeda que Gabriel ainda possuía.
O quarto era pequeno, limpo e impessoal. Uma cama, uma cadeira, uma