A voz de Corvo, distorcida e sem gênero, era como um zumbido de inseto no ouvido de Gabriel. Um som que ele associava a noites mal dormidas e decisões perigosas.
— O que eu ganho com isso, fantasma? — sibilou Corvo, a ganância vazando através do filtro eletrônico. — Sua cabeça está valendo um bom dinheiro no mercado. Entregar você seria mais lucrativo e bem menos arriscado do que te ajudar.
Gabriel caminhou até a janela, o celular descartável pressionado contra a orelha. A luz do quarto de Lara ainda estava acesa, uma solitária mancha de calor na frieza da noite. Ele precisava ser rápido.
— Você não quer o meu nome — contrapôs Gabriel, a voz baixa e firme. — Você quer algo que possa vender. Eu te dou um alvo melhor.
Houve um silêncio do outro lado da linha, o som de um cálculo sendo feito.
— Estou ouvindo.
Gabriel fechou os olhos, vasculhando o cemitério de sua memória por um fantasma que pudesse sacrificar. Encontrou um. Um trabalho em Marselha, anos atrás. Um político corrupto que f