A chave girou na fechadura com um clique abafado.Helen empurrou a porta devagar, como se não quisesse que a casa percebesse sua chegada. A luz do fim da tarde tingia o corredor com tons dourados, e o silêncio que preencheu o ambiente ao seu redor foi como um alívio imediato.Nada de passos pesados no corredor. Nenhum murmúrio grave vindo da sala. Nenhum olhar azul capaz de deixá-la sem chão.— Graças a Deus… — murmurou, encostando-se na porta por um breve instante.Ela ainda não estava pronta para encará-lo. Não depois do que tinha descoberto hoje.O coração ainda doía, confuso, bagunçado. A conversa que ouvira no restaurante entre Miranda e aquele homem reverberava em sua mente como um sussurro cruel e persistente: “Ele foi lá pra terminar comigo… eu forcei o beijo.”Helen fechou os olhos com força.Ele não mentiu, Ethan tinha dito a verdade desde o início e ela duvidou dele.O acusou, o feriu. O chamou de hipócrita, de canalha, quando na verdade… ele apenas tinha sido pego em uma ar
O bar já estava cheio, mas Zoe, com seu sorriso confiante e o cabelo preso num coque displicente, fazia parecer que nada ali podia tocá-la. Seu olhar estava afiado sobre a amiga, ou melhor, a cunhada que, à sua frente, girava o copo de gin como se o mundo estivesse contido ali dentro.Helen suspirou pela terceira vez em menos de cinco minutos. Zoe arqueou uma sobrancelha.— Se você suspirar mais uma vez, eu vou jogar esse copo pela janela.Helen soltou um riso fraco, meio trêmulo.— Eu ainda o amo, Zoe.— E você já falou isso quatro vezes — disse Zoe, empinando a taça de gin. — E sabe o que é pior? Eu sei que meu irmão está balançado por você. Helen abaixou o olhar. Sentindo os olhos marejarem.— Eu fui tão estúpida.— É, foi mesmo — Zoe respondeu sem cerimônia, e depois completou com um sorriso: — Mas com motivos. Ethan sempre vacilou muito com você no início, e, cá entre nós, meu irmão tem a sensibilidade emocional de um sofá de couro. Mas quando gosta… gosta como um furacão. Destró
O carro deslizava pelas ruas da cidade com as luzes refletindo nos vidros, como se a noite quisesse conversar com eles. Ethan dirigia com uma mão no volante, a outra firme sobre a coxa de Helen, entrelaçando os dedos com os dela, mesmo que ela já estivesse meio adormecida. O corpo dela estava relaxado, mas o rosto ainda carregava traços de uma batalha interna.Do banco do passageiro, ela resmungava em voz baixa. Palavras desconexas que só faziam sentido para quem a conhecia muito bem.— Ethan… você… arrogante… gosta mesmo de me deixar doida — murmurou, com os olhos fechados e um sorriso bêbado nos lábios.Ele sorriu. Um daqueles sorrisos que poucos viam. O tipo que mostrava uma rendição sem palavras. Porque apesar de tudo, apesar das brigas, da confusão, da bagunça dos sentimentos… ela ainda era a única capaz de fazer seu mundo desacelerar.— E você ainda acha que sou o perigoso da história — murmurou ele, mais para si mesmo, enquanto fazia a curva rumo ao prédio onde moravam.Ao esta
Helen CarterA luz suave da manhã atravessava as frestas da cortina quando abri os olhos sentindo uma britadeira no lugar da cabeça. Tudo girava levemente, como se eu estivesse em alto-mar depois de uma noite de tempestade. Soltei um gemido e sentei devagar na cama, percebendo, só então, que estava usando uma camisola de cetim azul clara, que eu definitivamente não lembrava de ter vestido.Pior… eu não lembrava de absolutamente nada depois da sexta dose de Gin tudo era um branco na sua mente.— Minha cabeça… está explodindo! — reclamei em voz alta, pressionando as têmporas. — Como eu cheguei em casa? E quem me trocou?!Cambaleei até o banheiro, cada passo parecendo um esforço gigantesco. O chão gelado me fez arrepiar. E sem tempo pra pensar em mais nada, fui direto para o vaso.Blargh… blargh…— Ah, meu Deus… eu acho que vou morrer!— Deixa de drama, chatinha! — ouvi a voz sarcástica atrás de mim.Arregalei os olhos, girando a cabeça devagar, ainda ajoelhada, e dei de cara com Ethan
A noite chegou com um vento gelado lá fora, mas dentro do apartamento estava tudo absurdamente aconchegante. Eu preparei a sala com cobertores no sofá, pipoca quentinha, luzes mais baixas e até acendi uma vela com cheiro de baunilha, e olha que eu nunca fui de ligar pra esses detalhes. Mas hoje… bom, hoje seria diferente.Helen apareceu descalça, com os cabelos soltos e ainda úmidos do banho. Usava outro pijama, dessa vez, um com pequenos pinguins dançando. Eu ri assim que a vi.— E aí, desfilando a nova coleção outono-inverno “animais fofinhos”?— Fica quieto, vai. Esse aqui é o meu favorito — disse, jogando uma almofada em mim antes de se jogar no sofá. — Por sinal, encomendei um para você. — Para mim?— Claro, nunca viu fotos onde o marido e a mulher usam o mesmo pijama?— Nossa que cafona! — Não acho! — Eu não vou usar pijama de pinguim.Helen me dá língua e faz uma careta engraçada. Por Deus, como ela é linda! Em seguida se aconchegou do meu lado e puxou o cobertor para as per
Helen despertou devagar. Ainda havia sombras da noite nos cantos do quarto, mas a luz suave que filtrava pelas cortinas anunciava que o dia estava chegando. Os olhos estavam pesados pelo cansaço e, ainda assim, o corpo parecia leve. Leve de um jeito estranho. Como se tivesse sonhado algo bonito demais para esquecer, ou vivido algo que, mesmo simples, deixará marcas.Ela estava sozinha na cama.Os lençóis, levemente bagunçados, ainda carregavam o cheiro dele. Um perfume amadeirado, discreto, misturado ao calor do toque dele que parecia continuar ali. Ethan…Seu nome invadiu os pensamentos como um sussurro familiar e perigoso.Helen fechou os olhos novamente, apertando o lençol contra o peito, e se permitiu recordar.Eles estavam no sofá, a lareira acesa, o silêncio confortável entre os dois. Ela sentada com as pernas dobradas, os pés sob as coxas, ele reclinado, com o braço estendido ao longo do encosto. Tão perto… que conseguia sentir a respiração dele roçar sua pele.E então ele riu
O sol batia direto nas laterais do toldo verde sobre as mesas externas do café, mas Ethan não se importava com o calor. Sentado ali, de óculos escuros, com os dedos inquietos ao redor da xícara ainda intocada, ele parecia uma estátua prestes a trincar.Havia tensão em sua postura, uma rigidez contida nos ombros, como se estivesse à beira de um abismo, uma verdade, um fim.Miranda chegou poucos minutos depois, impecável. Os cabelos soltos, os saltos altos estalando com arrogância. O batom vermelho sangrava sobre os lábios perfeitamente desenhados, mas o brilho nos olhos… era ácido.Ela se aproximou como uma tempestade contida, e o sorriso que exibiu era um corte fino, afiado, cruel.— Nossa… que milagre. A esposinha finalmente deixou você vir? Ou teve que escapar escondido pra me ver?Ethan tirou os óculos lentamente. Os olhos azuis pousaram sobre ela com um cansaço doído.— Miranda, por favor…Ela se sentou com um estalo de irritação, jogando a bolsa na cadeira ao lado, cruzando as p
Miranda FletcherO sol queimava a minha pele como se me punisse, como se soubesse que dentro de mim havia um inferno. Um incêndio que não se apagava. Um ódio que me consumia como ácido. Eu saí daquela maldita cafeteria com os passos firmes, os saltos batendo no chão como marteladas. A raiva deixava meus dedos trêmulos, mas não de fraqueza, de fúria. De uma raiva limpa, crua, sangrenta.As pessoas me olhavam, claro. Sempre olham. Talvez pelas lágrimas que desciam, talvez pelo meu andar tempestuoso. Mas que se danem. Elas não sabem. Ninguém sabe. Ninguém entende o que é ter tudo roubado. O que é ser apagada por alguém que finge brilhar com pureza, mas carrega as garras bem afiadas atrás do olhar submisso.Helen Bennett.O nome dela me arde nos ossos.Essa mulher… essa sombra de mulher… sempre cruzando meu caminho, sempre sorrindo com aquela cara de santa. Fingida. Frágil. Mas por trás daquela pose doce, existe uma predadora. Uma parasita.Ela sempre rouba, sempre.Ela me tirou James e