Miranda FletcherO sol queimava a minha pele como se me punisse, como se soubesse que dentro de mim havia um inferno. Um incêndio que não se apagava. Um ódio que me consumia como ácido. Eu saí daquela maldita cafeteria com os passos firmes, os saltos batendo no chão como marteladas. A raiva deixava meus dedos trêmulos, mas não de fraqueza, de fúria. De uma raiva limpa, crua, sangrenta.As pessoas me olhavam, claro. Sempre olham. Talvez pelas lágrimas que desciam, talvez pelo meu andar tempestuoso. Mas que se danem. Elas não sabem. Ninguém sabe. Ninguém entende o que é ter tudo roubado. O que é ser apagada por alguém que finge brilhar com pureza, mas carrega as garras bem afiadas atrás do olhar submisso.Helen Bennett.O nome dela me arde nos ossos.Essa mulher… essa sombra de mulher… sempre cruzando meu caminho, sempre sorrindo com aquela cara de santa. Fingida. Frágil. Mas por trás daquela pose doce, existe uma predadora. Uma parasita.Ela sempre rouba, sempre.Ela me tirou James e
Início da tarde, na Casa de AméliaO sol da tarde banhava a casa de Amélia com uma luz dourada e suave, filtrada pelas copas das árvores que dançavam preguiçosamente com o vento. O jardim cheirava a terra molhada e lavanda, e o som da natureza criava uma melodia tão suave quanto um sussurro de verão. O cenário era quase irreal de tão perfeito, sereno, harmonioso, como uma fotografia antiga em tons quentes.Helen estava ajoelhada à beira do canteiro, as mãos sujas de terra, os cabelos presos em um coque bagunçado que já começava a se desfazer. Usava uma camiseta larga, um short florido e luvas de jardinagem que pareciam grandes demais para seus dedos finos. Estava suada, suja e mais bonita do que jamais saberia.Amélia, com uma cesta de ervas nos braços, se aproximava por trás com um olhar terno, carregado de uma ternura que só as mães, e as mulheres muito observadoras, sabem cultivar.— Essas lavandas vão ficar lindas aqui no canto — disse Helen, sorrindo com os joelhos afundados
O jardim ainda era uma zona de guerra, respingos de água por todo lado, terra espalhada, grama amassada, e no meio disso tudo, Ethan e Helen rindo dentro da piscina enquanto Zoe e Melissa tentavam conter as próprias gargalhadas.Foi então que a porta da casa se abriu com força.— MAS QUE PALHAÇADA É ESSA?! — berrou Amélia, surgindo com um rolo de toalhas nos braços e expressão de mãe em alerta.Helen e Ethan congelaram na água como duas crianças travessas pegas no flagra.— Vocês dois não têm cinco anos?! Isso aqui tá parecendo recreio da pré-escola! — Ela começou a distribuir toalhas com indignação. — Vai resfriar, pegar pneumonia, me dar dor de cabeça e molhar minha casa toda! Vão, saiam daí agora!Ethan saiu primeiro da piscina, pingando, sorrindo de canto. Helen veio logo atrás, encolhida sob a toalha, envergonhada e tentando parar de rir.— Mãe, foi culpa dela. — Ethan apontou com um sorrisinho safado.— Culpa minha?! VOCÊ que me jogou! — Helen rebateu, dando um tapa leve no peit
Helen sentiu o peito se contrair no instante em que seus olhos pousaram sobre a fotografia. O mundo ao seu redor silenciou, como se o próprio tempo a suspendesse naquele exato momento de agonia. O sorriso de Ethan na imagem, sua expressão relaxada ao lado de Miranda, a maneira como seus corpos pareciam confortáveis um com o outro… cada detalhe perfurava sua alma como estilhaços de vidro.Seu coração martelava dentro do peito, não de surpresa, mas de uma dor sufocante, excruciante. Porque, no fundo, ela sempre soube. Sempre soube que Ethan nunca a quis. Sempre soube que, se pudesse escolher, ele estaria ao lado de Miranda, vivendo o sonho dourado que nunca pôde ter. E agora, ele estava ali, mostrando ao mundo, sem qualquer pudor, que ainda a desejava.O contrato entre eles nunca envolveu amor, mas Helen o amava. Amava Ethan de uma forma que a destruía pouco a pouco, que sugava sua alma a cada dia. Nunca quis esse casamento, mas quando foi obrigada a aceitar, agarrou-se à esperança de q
O telefone de Helen tocou logo pela manhã, interrompendo o silêncio tranquilo de seu apartamento. Sua voz suave atendeu o chamado, mas o tom firme e urgente de seu pai do outro lado da linha a deixou em alerta.— Helen, preciso que venha à empresa agora. É urgente.Ela conhecia bem aquela voz fria e autoritária, mas o que a diferenciava de todos os outros era sua capacidade de enfrentar o pai sem abaixar a cabeça. Sempre o fez com elegância e gentileza, porque essa era a sua essência: uma mulher doce, generosa, mas forte.Vestiu-se com um conjunto elegante, mas simples, composto por uma blusa creme delicada e uma saia lápis que moldava seu corpo de maneira sutil. Os cabelos dourados e ondulados caíam livremente sobre os ombros, e os olhos azuis brilhavam com uma mistura de apreensão e determinação. Helen era a mulher que sempre sorria para os outros, sempre buscava o melhor nas pessoas, mesmo quando o mundo parecia desmoronar ao seu redor.Enquanto caminhava para o prédio de vidro imp
O elevador desceu lentamente, cada segundo fazendo o peito de Helen apertar mais. Mas ela se recusava a demonstrar fragilidade. Sempre foi uma mulher determinada, forte, disposta a enfrentar qualquer coisa para alcançar seus objetivos. E agora, não seria diferente.Helen repetia para si mesma: É só um contrato, só negócios. Mas, no fundo, aquilo era muito mais. Era sua chance de provar que Ethan estava errado. Que ela não era apenas uma mulher frágil apaixonada por ele. Que ela era muito mais do que a garota previsível que ele sempre viu.O amor que sentia por Ethan era algo que ela havia aceitado muito tempo atrás. Uma chama persistente que não se apagava, mesmo diante da frieza dele. Mas Helen jamais imploraria por afeto. Ela não se humilharia por um homem, por mais que o amasse.Quando as portas do elevador se abriram, ela inspirou fundo e caminhou com passos firmes até a sala de reuniões. Ethan já estava lá, sentado, com a expressão carrancuda, o olhar glacial e os ombros rígidos
A igreja estava impecável, um verdadeiro cenário de sonho. Lustres imponentes lançavam sua luz dourada sobre o altar, onde flores brancas decoravam cada canto, simbolizando pureza e renascimento. O som delicado dos violinos preenchia o ambiente, criando a atmosfera perfeita para um casamento digno de contos de fadas.Mas para Helen, aquilo era um teste. Um desafio que ela estava disposta a enfrentar. Não fugiria, não se lamentaria. Iria provar para Ethan que ele estava errado.Cada passo pelo tapete vermelho era dado com firmeza. Não era medo que a movia, era convicção. Convicção de que estava ali por escolha própria, de que amava Ethan e não se deixaria intimidar pela frieza dele.O braço firme do pai a conduzia em direção ao altar. Ela o segurava com força, não para se apoiar, mas para manter o controle absoluto sobre si mesma.E então, lá estava ele: Ethan Carter.Impecável. Inalcançável. Indiferente.O terno preto de corte perfeito moldava seu corpo com uma elegância quase cruel.
A ilha privada onde ficariam hospedados era um verdadeiro paraíso. A areia branca contrastava com o azul cristalino do mar e o sol brilhava intensamente sobre eles, como se o mundo conspirasse para que aquela lua de mel fosse perfeita.Mas o clima entre eles era frio como gelo.Quando chegaram à casa luxuosa reservada para a estadia, Helen observou o ambiente com interesse genuíno. Cada detalhe parecia cuidadosamente planejado para proporcionar conforto e elegância.— Escolha o quarto que preferir. — Ethan disse de forma indiferente, caminhando diretamente para o escritório.Helen sentiu o peito apertar. Se ele pensava que ela se afastaria, estava muito enganado.— Nós somos casados, Ethan. Acho que não precisamos de quartos separados.Ele parou, com os ombros tensos. Depois, virou-se para encará-la, com os olhos faiscando com irritação.— Não me provoque, Helen. Você pode ter o meu nome, mas nada além disso.— Eu não estou pedindo nada. Apenas que você pare de agir como se eu fosse s