Estou na varanda do apartamento, olhando a cidade lá embaixo. A barriga começa a despontar sob o vestido leve, lembrando-me a cada instante do que está por vir. O vento sopra suave, mas o nó no meu peito pesa como uma âncora. Então, o toque do celular corta o silêncio atrás de mim.
— Murilo… — minha voz sai baixa, cansada.
— O Henrique me ligou. — Ele vai direto ao ponto, mas o cuidado na voz é evidente. Desde que tudo aconteceu, cada palavra dele parece pisar em vidro, como se qualquer deslize pudesse me despedaçar ainda mais.
Meu coração dispara. Uma faísca de esperança tenta surgir, mesmo que eu tente reprimi-la. Talvez… talvez Samuel tenha respondido. Talvez ele ainda pense em mim.
— E? — pressiono.
— Ele disse que conversou com o Samuel… perguntou se ele queria mandar alguma carta pra você.
Meu estômago revira. O silêncio do Murilo só torna tudo mais sufocante.
— E ele? — minha voz falha, mas insisto, quase sussurrando. — Ele escreveu?
Do outro lado, ouço Murilo respirar fundo,