Elizabeth... Ele se lembrava perfeitamente dela: o sorriso delicado, o mais belo que já vira, os olhos azuis acinzentados que brilhavam quando o olhavam, os cabelos cor de mel que caíam em ondas suaves... Sempre o encantou com seu jeito discreto, simples e doce.
E agora ela aceitava se casar com ele por dinheiro?
Enquanto Martha continuava a falar, John sentia-se traído. A jovem que ele achava diferente era apenas mais uma interesseira.
— Pelo menos é bonita, não podemos negar. É alta, esbelta, belos traços até lembra uma modelo e isso contou muito. — Martha comentava, sem perceber o turbilhão interno do filho. — E se tiverem filhos...
— Chega, mãe! — John explodiu, surpreendendo seus pais.
Roger levantou as sobrancelhas surpreso
— O que foi, filho? Não gostou da escolha da sua mãe?
— Eu preciso pensar — disse John friamente, saindo do escritório e caminhando sem rumo pela mansão Walker que parecia um castelo.
John foi até a sala de jogos.
No bar ao fundo, serviu-se de uma generosa dose de whisky e a tomou de uma só vez. Apertou o copo com força e o bateu contra o balcão com raiva.
A imagem de Elizabeth não saía da sua mente. O sorriso doce, a voz suave, o jeito simples, os olhos que brilhavam sempre que o encaravam.
Como pôde se enganar tanto?
Ele acreditou que Elizabeth fosse diferente das mulheres da alta sociedade com quem estava acostumado a conviver: mimadas, fúteis, obcecadas por compras, viagens e roupas de grife.
Ela parecia ser o oposto de tudo isso: discreta, despretensiosa, suave, gentil, verdadeira. Mas agora, tudo aquilo soava como uma grande encenação.
John se lembrava bem da primeira vez em que a viu, no clube da elite da cidade.
A beleza da jovem chamava atenção imediatamente. Curioso, procurou saber quem ela era e soube que pertencia a uma família em ascensão.
Na época, ela tinha apenas dezessete anos. Seus olhares se cruzaram, e Elizabeth ruborizou visivelmente, o que arrancou um sorriso de John e a tornou, aos olhos dele, ainda mais encantadora.
Ele já tinha vinte e três anos, havia concluído os estudos precocemente graças ao seu alto QI e à dedicação aos estudos.
Era maduro e responsável, enquanto a maioria dos jovens queriam aproveitar a vida gastando o dinheiro dos pais, ele já estava trabalhando no Grupo Walker.
Por isso, considerou Elizabeth muito jovem e imatura para um relacionamento sério naquela época.
Depois daquele primeiro encontro, ainda se cruzaram algumas vezes, mas logo ela partiu para estudar no exterior, enquanto John crescia dentro do Grupo.
Para testar suas habilidades como empresário, seu avô o enviou para administrar uma refinaria no sul do país que enfrentava dificuldades.
John não apenas reverteu a situação, tornando o negócio lucrativo, como também expandiu suas operações.
Em pouco tempo, foi promovido a diretor e retornou à sede com status de prodígio dos negócios.
Ambicioso, John almejava a presidência do conglomerado. Para isso seu avô havia imposto uma condição inegociável: o herdeiro precisava estar casado, como prova de maturidade e responsabilidade.
John não aceitaria se casar com qualquer uma, nem mesmo pela presidência do grupo. Sua ambição não chegava a esse ponto.
Havia várias candidatas que fariam de tudo para ser sua esposa, mas mas nenhuma lhe despertou interesse, até saber que Elizabeth havia retornado.
Embora os Stewart fizessem parte da alta sociedade, pertenciam a um círculo mais modesto, e não eram convidados para os eventos mais exclusivos. A pedido de John, a família passou a ser incluída nas listas de convidados.
A princípio, ele apenas a observava. Enquanto outras moças disputavam sua atenção, Elizabeth permanecia discreta.
De vez em quando, seus olhares se encontravam, e ela corava, o que continuava a encantá-lo. Aos poucos, John se aproximou.
Ele era comunicativo, enquanto ela falava pouco. Sempre que trocavam olhares, havia um brilho nos olhos dela e um sorriso tímido que o cativava.
Soube que Elizabeth havia recusado as investidas de vários de seus amigos e sua admiração só crescia, e seu coração acelerava sempre que a via.
Será que, enfim, havia encontrado o amor?
John tomou mais um gole de sua bebida e afundou no sofá. A decepção o corroía. Sentia-se um tolo apaixonado, completamente cego.
A verdade veio como um golpe: a família dela estava à beira da falência, e ela, fingindo ser uma garota doce e inocente para conquistá-lo.
Quase caíra em suas armadilhas.
Seria melhor se ela fosse como todas as outras, pelo menos ele saberia com quem estava lidando.
Mas ser enganado? Isso ele não suportava.
O sol começava a se pôr, John encarava o copo em sua mão como se pudesse encontrar ali alguma resposta.
A decepção era amarga. Mais do que isso: humilhante.
O homem que conduzia fusões milionárias e liderava estratégias empresariais com frieza e precisão, havia sido ingênuo quando se tratava de sentimentos.
Levantou-se, caminhou até a janela.
Olhou para a vasta propriedade com seus jardins e o campo de golfe. Ao longe as luzes da cidade começaram a brilhar. E ele estava ali, sozinho, afogado em sentimentos que desprezava: mágoa e decepção.
"O amor não existe. Só há interesses", pensou, tomando mais uma gole.
Enquanto a mãe falava do contrato ele já tinha decidido não aceitar, mas ao saber que era Elizabeth, mudou de ideia.
— Então você quer se casar comigo, Elizabeth? — murmurou, encarando a noite que começava a chegar. — Pois vai se arrepender de ter tentado me enganar.