Capítulo 2
Não aguentei ficar ali e pedi licença para ir ao banheiro.

Logo depois, Ignácio veio atrás de mim.

O olhar dele já não tinha mais o calor de antes, apenas frieza misturada a um sentimento que não consegui decifrar.

Meus olhos arderam, as lágrimas começaram a cair sem controle.

Eu não conseguia acreditar, nem aceitar, que ele me via só como distração.

— Paloma Alves.

Meu coração disparou.

Ele me chamou pelo nome completo.

Ignácio tentou enxugar minhas lágrimas, mas me desviei.

— Desculpa.

Aquele pedido simples já deixava claro o fim do nosso relacionamento.

Ignácio tinha viajado para o exterior por mais de um mês, e minha saudade era tanta que, sem esperar, fui animada à reunião dos amigos.

E descobri essa verdade cruel.

— Paloma, me desculpe.

Enxuguei as lágrimas de qualquer jeito.

— Ignácio, não vai explicar nada do que disse agora há pouco?

Ele não me olhou, ficou olhando pela janela.

— Não te fiz mal, nesses três anos sempre te tratei bem.

Sorri amargamente.

— Se você gosta da Clarinda, por que ficou comigo?

Ao ouvir o nome dela, o rosto dele ficou frio na hora.

— Sabendo disso, por que ficou comigo? Não é culpa sua também?

As palavras de Ignácio me gelaram por inteiro, tentei rebater, mas não consegui.

De repente, o telefone dele tocou. Ao olhar para o visor, seu olhar ficou imediatamente suave.

— Clarinda...

Acertou. Era ela.

Nunca imaginei que Ignácio não me amasse.

Sem querer ouvir a conversa, voltei de cabeça baixa para o salão.

Renan e os outros ainda falavam de Ignácio.

— Aposto que ele ficou irritado por causa da Clarinda.

Renan bebeu mais um gole, todo sabichão.

— Essa última viagem foi só pra ver a Clarinda, mas ele nem teve coragem de encará-la de perto.

— A gente achou que ele tinha superado, mas a tal namorada não passa de distração, o coração dele sempre foi da Clarinda.

Então foi por isso que ele vivia viajando, dizendo que era a trabalho.

— Ignácio gosta dela há anos, vivia desenhando retratos dela e guardando no armário, sem mostrar pra ninguém.

Minha cabeça girava, ouvindo todos elogiarem a paixão secreta de Ignácio.

Tentei sorrir, mas o corpo tremia, mordi os lábios até sangrar.

Renan então mudou de tom.

— Mas aquela namorada dele, coitada, ele enrolou a menina e nem deu um nome pra relação.

Ele então tocou meu ombro:

— Paloma, tudo que falei era brincadeira. Nunca namore alguém como Ignácio, não acredite nele, ele é ruim demais.

As palavras do meu irmão apertaram meu coração.

Era tarde. Eu já tinha acreditado.
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