Assim que me viu, Ignácio Braga se calou imediatamente.

Todos voltaram o olhar para mim.

— O que você está fazendo aqui?

Meu irmão, Renan Alves, pousou o copo e puxou uma cadeira ao lado para que eu me sentasse.

— Papai e mamãe estão em um compromisso, fiquei sozinha em casa e estava entediada.

Fiz o possível para manter a calma na voz, mas minhas mãos tremiam incontrolavelmente.

Ele assentiu e alertou a todos no recinto:

— Minha irmã não bebe, ninguém pode insistir com ela.

Os amigos começaram a brincar:

— Renan, você é tão bom com sua irmã, e se um dia ela arrumar um namorado, como você vai lidar?

Renan revirou os olhos, sorrindo:

— Aí eu vou ter que ser rigoroso, homem comum não serve pra ela.

Todos entraram na brincadeira.

— E o que é um homem incomum? Algum de nós serve?

Renan olhou ao redor e, fixando o olhar em Ignácio, que permanecia calado, brincou:

— Acho que só o Ignácio se serve.

— Mas ele nem liga pra namorada dele, então não deixo minha irmã perto dele.

Renan estava brincando, mas o rosto de Ignácio endureceu.

Ele desviou o olhar para mim rapidamente, e logo voltou a olhar para outro lado.

— Deixa de besteira, Paloma é como uma irmã pra mim.

Fiquei olhando perdida para o perfil de Ignácio, sentindo uma dor insuportável no peito.

Renan percebeu meu olhar e acenou na minha frente:

— Paloma? Por que está encarando o Ignácio desse jeito?

Abaixei a cabeça rapidamente, escondendo o nervosismo ao beber um gole d’água.

Os outros continuaram zoando:

— Paloma, Ignácio é bonito, mas é um cafajeste, cuidado pra não se enganar.

— Verdade! Ele acabou de dizer que a namorada dele não entende nada, é fácil de enganar, tem um temperamento dócil, fácil de lidar. Você ouviu isso?

— A gente achava que ele estava apaixonado de verdade, mas ele disse que a menina só estava atrás dele, grudada, e ele não conseguia se livrar.

— Isso! Ele nunca traz a namorada nas festas, sinal de que não quer nada sério. Ele até...

— Chega, já basta!

Ignácio estava visivelmente incomodado, e sua voz soou fria.

Renan, que era o mais próximo dele, percebeu e perguntou:

— O que houve? Não me diga que está chateado porque a Clarinda vai voltar?

Minhas mãos tremeram de novo.

Clarinda Esteves vai voltar?

Ignácio lançou um olhar rápido para mim, mas desviou imediatamente.

— O que a volta da Clarinda tem a ver comigo?

Renan riu:

— Como não tem? Você não liga pra sua namorada porque ainda gosta da Clarinda.

Todos sabiam que ele tinha uma namorada que nunca apresentava.

Mas ninguém sabia que era eu.

Ele atendia ligações da namorada em festas, falava com voz suave.

Toda semana, mandava presentes diferentes para ela.

Até Renan achava que ele estava realmente apaixonado.

Três anos de namoro, Ignácio sempre me tratou bem, com carinho, atenção, generosidade — um namorado perfeito.

Só tinha uma exigência: não revelar nosso relacionamento.

O motivo: eu era jovem demais.

Acreditei nele.

Até ouvir, há pouco, ele dizer com total desprezo que eu era apenas uma mulher de passatempo.

No fundo, era só um brinquedo pra ele.