Mundo ficciónIniciar sesiónAlexander Narrando — Dois anos antes
Meu nome é Alexander wiliam, tenho trinta e seis anos e venho de uma família de classe média. Meus pais sempre me ensinaram o valor do trabalho e da persistência. Nada na minha vida veio fácil. Lutei pra conquistar tudo que tenho hoje, e cada conquista foi fruto de esforço, noites mal dormidas e muita determinação. Tenho um irmão, Nico, dois anos mais novo. Ele é meu braço direito nos negócios, o cara em quem mais confio. Sempre esteve comigo desde o início, quando a empresa ainda era só uma ideia rabiscada num caderno velho. Hoje, ela é a maior empresa de energia solar da América Latina, no Chile, país que virou referência mundial nesse setor. Naquele dia, o expediente foi puxado. Sempre é assim quando chega a véspera das férias. Reuniões, documentos pra assinar, telefonemas intermináveis. Todo mundo querendo resolver o que não fez o ano inteiro. Eu já estava com a cabeça longe, pensando na viagem que faria no dia seguinte com a minha esposa, Júlia. Fechei o notebook, conferi a papelada, assinei os últimos contratos e chamei Nico pra uma rápida conversa. — Tá tudo certo pra viagem? — ele perguntou, encostado na porta da minha sala. — Tudo. Deixei as pendências organizadas, e qualquer coisa urgente você resolve. — respondi. — Pode deixar. Só aproveita, mano. Você merece. — E você também. Se der, tira uns dias depois. Apertei a mão dele e saí da empresa. O sol estava forte, e o trânsito de Santiago, como sempre, caótico. Mas nada disso me incomodava. Eu só queria chegar em casa. No caminho, parei na joalheria. Já tinha encomendado o presente de aniversário de casamento: um colar de ouro branco com um pingente de anjo. Três anos de casado mereciam algo especial. Quando cheguei em casa, Júlia já me esperava. Estava linda, como sempre, de vestido leve e cabelo solto. — Pensei que você fosse se atrasar — ela disse, sorrindo. — Quase, mas consegui escapar a tempo. Entreguei a caixinha pra ela. — Feliz aniversário de casamento, meu amor. — Ah, Alex — ela abriu e levou a mão à boca, emocionada. — É lindo! — Deixa eu colocar em você. Me aproximei, prendi o colar no pescoço dela e beijei o ombro descoberto. Júlia virou de frente, me abraçou e sussurrou: — Eu te amo tanto. — E eu te amo mais ainda. Nos beijamos e logo estávamos nos entregando um ao outro. Fizemos amor como sempre: com carinho, cumplicidade e aquela paixão que o tempo nunca conseguiu apagar. Júlia era perfeita. Companheira, inteligente, dedicada. Não era só minha esposa, era também minha parceira de negócios, diretora da empresa e peça essencial em várias conquistas que tivemos. Depois, ficamos um tempo deitados, conversando sobre a vida. — Acho que chegou a hora de termos um filho — ela disse, olhando pro teto. Mas com aquele brilho no olhar. — Também acho. Já estávamos esperando o momento certo, e acho que esse é o momento. — Então vou parar com os remédios. Quero muito ser mãe. — E eu quero ser pai. Ela sorriu e me beijou de novo, assim que nos casamos, combinamos que só tentariamos quando ambos estivesse de acordo. Confesso que eu não queria antes, mas agora nossa vida estava tão perfeita que comecei achar que seria o momento certo, e ela também. Uma criança é tudo que falta em nossas vidas. Até nomes já escolhemos e agora parece real. Vou ser pai. Na manhã seguinte, acordamos cedo. Tomamos banho juntos, rindo das brincadeiras um do outro. Júlia sempre deixava o banheiro parecendo uma sauna, e eu vivia reclamando. — Amor, você vai me derreter com essa água quente! — falei, rindo. — Para de drama, Alexander. Tá perfeita! Enquanto ela passava shampoo no cabelo, eu a abraçava por trás, aproveitando o momento simples que, hoje, eu daria tudo pra reviver. Saímos do banho e nos arrumamos pra viagem. Ela escolheu um vestido florido e colocou uma jaqueta jeans por cima. — Tá pronta? — perguntei. — Só preciso pegar meus óculos de sol e minha nécessaire. Carreguei as malas pro carro e, antes de pegarmos a estrada, paramos na padaria da esquina. Júlia amava petiscos. Não importava a ocasião, ela sempre fazia questão de levar biscoitos, queijos e frutas secas. — Vamos levar esses aqui — ela apontou pro balcão, enchendo a sacola. — São os meus preferidos. — Você vai transformar essa viagem em um piquenique. — E qual o problema disso? Sorri e paguei a conta. Voltamos pro carro e seguimos viagem. O destino era a serra chilena, um lugar tranquilo, com paisagens incríveis e clima fresco. Um refúgio perfeito pra relaxar e comemorar mais um ano de casamento. No caminho, Júlia ligou o som e começou a cantar baixinho. Ela adorava música, e eu adorava ouvir a voz dela. O sol batia no vidro e refletia no pingente novo que balançava no pescoço dela. — Esse colar é mesmo lindo — ela disse, olhando o reflexo. — Lindo é quem tá usando. Ela riu e me deu um beijo rápido. Ficamos assim, leves, em silêncio por alguns minutos, até que ela se inclinou pra ajeitar a garrafa d’água no porta-copos. A pista estava limpa, até um caminhão invadir a contra mão. Tudo aconteceu rápido demais. Só deu tempo de frear e segurar firme no volante. — Júlia! — gritei. O barulho foi ensurdecedor. O impacto, devastador. O carro rodou na pista e capotou mais de uma vez. Senti o corpo bater contra o cinto de segurança, o vidro estourando, o cheiro de gasolina no ar. A última coisa que vi foi o rosto dela, ensanguentado, me olhando com os olhos cheios de pavor. Depois, tudo escureceu. O som da sirene ficou distante, como se viesse de muito longe. Tentei falar, mas a voz não saiu. Quis me mexer, mas não consegui. Senti uma dor insuportável no peito, e o ar começou a faltar. Foi nesse instante que apaguei completamente.






