Voltei para casa e comecei a juntar as coisas que o Sampson deixou por aqui.

Durante esses três meses, passei quase todo o meu tempo nas trilhas da patrulha do Sampson, tentando encontrar qualquer sinal dele. Mal parei em casa.

Fora a cozinha e a cama do quarto, mal mexi no resto.

Mas quando abri o cofre, congelei na hora.

Mais da metade do dinheiro tinha sumido, e várias das minhas joias valiosas também tinham desaparecido, inclusive o colar de madrepérola que minha mãe me deixou antes de morrer.

Meu corpo tremia. Quando entendi tudo, acabei rindo, chorando ao mesmo tempo.

Nesses três meses, pra tentar achar o Sampson, eu dormi ao relento, segui o grupo de resgate pra dentro de cavernas, sobrevivi de mato e raízes, quase cheguei ao limite do meu próprio juízo.

O tempo todo, usei a conexão mental pra chamar por ele, na esperança de sentir alguma resposta, qualquer coisa. Nada.

Enquanto eu quase enlouquecia, o Sampson voltou pra casa... só pra levar o dinheiro.

Fui até o computador, puxei as gravações do último mês.

No terceiro dia depois do sumiço, lá estava ele, entrando no nosso quarto abraçado com a Desiree.

Pouco tempo depois, saíram juntos, cada um com punhados de dólares. No pescoço da Desiree brilhava o colar da minha mãe. Ela olhou pro Sampson, toda convencida:

— Realmente, a Luna tem muita coisa boa. Não é à toa que você quis se livrar dela, toda materialista, vive grudada querendo que você compre colar caro pra ela.

Depois ainda fez um drama, fingindo ficar brava:

— Você deu todo seu dinheiro pra Luna e esqueceu da sua melhor amiga, né?

Sampson sacudiu as notas de dinheiro, rindo:

— Pra te compensar, hoje pode comprar o que quiser. Te garanto que vai ser melhor que qualquer coisa da Bethany.

O vídeo mostra que, anteontem à noite, Sampson voltou a entrar no nosso quarto com a Desiree. Só saíram quando o dia amanheceu.

Chorei em silêncio assistindo à gravação, mas não era pelo Sampson. Era por mim mesma.

Por tudo o que entreguei durante todos esses anos.

Como única filha do alfa da alcateia do Leste, sempre administrei a alcateia com todo o cuidado, estabelecendo relações comerciais com outras alcateias da região. Enquanto cumpria minhas funções de Luna, ainda assumia várias tarefas de alfa para ele, só assim ele podia viver essa vida de festas e excessos sem se preocupar com nada.

Agora, justamente ele me chama de interesseira.

Meu peito parecia rasgar de dor. Achei que estava sofrendo pela ausência do Sampson, mas era o Vínculo de companheiros me avisando da traição dele.

Enquanto eu corria o mundo feito louca atrás do Sampson, os dois passavam as noites na minha casa. Desiree dormia com meu pijama, na minha cama, ao lado do meu companheiro alfa.

Só de ver aquela intimidade entre eles, tive que morder o lábio para não chorar. Mordi tão forte que saiu sangue.

Por ele? Não vale a pena.

Nesse momento, o telefone tocou. Não estava nem aí para quem era, mas a pessoa insistiu até eu atender.

Quando olhei o nome no visor, fiquei surpresa. Atendi.

— Lambert, o que houve?

— Tem uma coisa que você precisa saber.

Lambert me enviou um vídeo.

No vídeo, Sampson e Desiree dividiam um copo de bebida no bar, os lábios quase se tocando, olhos brilhando de tanto açúcar.

— Sampson não morreu. — Disse Lambert.

— Eu sei que ele está vivo. — Respondi, com a voz trêmula.

— Então por que você ainda... — Lambert parou no meio da frase, como se tivesse entendido tudo, e caiu na risada.

Lambert era o filho mais novo do avô do Sampson, um tio dele com quase a mesma idade. Também tinha sangue de alfa, mas quando Sampson assumiu o comando da alcateia, ele saiu para viajar pelo mundo.

Soube depois que ele fundou sua própria alcateia, e nossas vidas quase não se cruzaram mais.

Quando o Sampson sumiu, pedi ajuda a ele por consideração ao parentesco, e Lambert aceitou me ajudar. Fiquei em dívida.

Agora, ele era o primeiro a encarar a verdade junto comigo.

— Lambert, se tiver um tempo, venha ao funeral do Sampson depois de amanhã.

— Pode deixar, estarei lá.