Eu não tinha nenhum motivo para confiar naquela garota. Nenhum. E ainda assim a levei para minha casa, disposto a deixá-la sozinha com minha filha pequena. Claramente, era loucura, mas reconheci em Atalia a triste constatação da dor e do medo.
Especialmente o medo.
Eu já tive minha parcela de medo. Eu tinha uma gaveta cheia de remédios que me lembravam todos os dias o que era medo. Eu só conseguia sair de casa e trabalhar porque era medicado para síndrome do pânico. E isso me fez levá-la comigo.
Ela era só uma garota. Dezenove anos. Triste, abatida, desamparada. Temerosa até dizer chega. Seus cabelos longos quase chegavam a sua bunda. Ela era de um tipo comum, sem nenhum grande atrativo ou beleza, apesar de ter lindos olhos amendoados. Seus ombros eram caídos, e seu semblante não escondia o quanto era infeliz.
— Aqui vai ser seu quarto — abri uma porta, e lhe mostrei o antigo quarto de empregada. — Está um pouco desarrumado, espero que possa ajeitar. Tem um pequeno frigobar para você