Início / Romance / Ainda há tempo de amar / Capítulo 1 - Levi - parte 1
Capítulo 1 - Levi - parte 1

Respiro fundo antes de beber um gole do iogurte com aquele monte de incrementos. Toda manhã, farinha de linhaça, de quinoa e chia. Toda manhã um tormento para tentar melhorar um pouco minha saúde.

Eu tenho trinta e três anos, e estou com o colesterol alto. Não sei por que, sou neurótico com alimentação, mas subiu. Não muita coisa, mas o suficiente para me alarmar. O médico disse para eu nem me preocupar, mas eu não posso me dar ao luxo de ter qualquer problema de saúde.

— Papai... — ouvi o som delicado do meu bebê e os motivos de eu beber essa gororoba se mostraram ainda mais fortes.

Encarei Alice, minha filhinha de dois anos e meio.

— Papai está tomando o iogurte — disse a ela, que estendeu seus bracinhos para mim, o que me fez sorrir. Eu não podia pegá-la pois já estava atrasado para mais uma reunião, então simplesmente me baixei até sua cadeirinha de alimentação e beijei suas mãozinhas delicadas.

A babá apareceu de um lado da cozinha, com o celular na mão. Ela me encarou com um sorriso constrangido, ajeitando-se melhor e indo até a panela onde estava fazendo um mingau para Alice.

— Bom dia — disse a ela, mas só recebi um murmuro em resposta.

Eu havia chegado uns dez minutos antes e encontrei minha filha sentada na cadeirinha completamente sozinha. Isso me deu nos nervos, mas imaginei que Karen estava apenas no banheiro. Então eu mesmo comecei a ajeitar os copinhos e pratinhos diante de Alice e eu mesmo terminei seu mingau. Só depois, fui arrumar as coisas para mim mesmo.

Até um ano atrás, eu não costumava sequer tomar café da manhã. Eu só me entupia de café preto o dia inteiro, e a noite bebia whiskey. Raramente fazia algum exercício, e raramente comia alguma coisa que prestasse.

Como sou magro por natureza, não pensei que isso daria algum problema.

Até um ano atrás...

— Droga, estou atrasado — digo, me voltando novamente para a babá que devia estar perto do fogão.

Mas, ela novamente não estava lá.

Eu fiquei incomodado, porque eu só queria que ela fizesse as coisas simples do dia, como alimentar Alice. Mas, claramente, havia coisas mais importantes para ela fazer naquela manhã, já que quando fui atrás dela no corredor a encontro no celular, sorrindo.

— Ei! — digo. — O mingau está esfriando.

— Ah, ok — Karen parece chateada, então volve sua atenção novamente ao celular. — Preciso ir. A gente conversa depois — ela diz. — Ah, sim, eu te ligo daqui um pouco...

A última frase me fez perceber que ela estava dando pouca atenção a Alice. Minha filha estava na idade de correr e brincar, e eu pagava para que Karen lhe desse toda a atenção. Todavia, se nem na minha frente Karen fazia questão de mostrar serviço, o que fazia quando eu dava as costas?

Voltei à cozinha, e eu mesmo servi o mingau no pratinho cor-de-rosa.

Eu não queria ser o chefe chato, mas era o que estava acontecendo. Karen era a quarta babá desde que...

— Olhe — eu digo a Karen quando ela aparece. — Não quero ser exigente, apenas, preciso que você a alimente, e preste atenção nela. Sabe, ela está na idade que quer fazer bagunça, então eu preciso realmente que você cuide dela.

— É que estou namorando — ela me conta.

— Isso é ótimo — tento sorrir. — Mas, sabe... Eu te pago um bom salário. É quase três vezes o que uma babá ganha normalmente. Você só precisa estar com ela e cuidar dela quando eu não estou em casa.

Eu me sento diante da cadeirinha. Entrego uma colher de plástico para Alice e a vejo tentar comer o mingau com um sorriso gentil. Alice é uma criança adorável, não é um monstrinho que um adulto não pode controlar, apesar de ter um temperamento forte.

— Meu namorado vai vir mais tarde aqui porque... — ela começa a me contar, mas a frase me acende alertas.

— Aqui? Aqui, você diz, no portão, não é? Não me sinto confortável com um homem desconhecido dentro da minha casa quando eu não estou.

— Ele não é desconhecido. É o meu namorado — ela reage.

Ok. Isso está me incomodando mais do que devia. Desde que Suzana, a terceira babá, atirou o avental na minha cara e disse que ia embora, eu jurei que tentaria ser mais paciente com uma funcionária. Mas, Karen estava me tirando o juízo. A forma relapsa como ela lidava com Alice me dava nos nervos.

O problema é que, para Karen, Alice era ninguém e, para mim, Alice era tudo.

— Olhe... Acho que não vai dar certo. Vamos acertar as contas, mas terei que dispensá-la.

Por sorte, ela nem reclamou. Pareceu um alívio, na verdade.

***

Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App
Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App