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Capítulo 6 – Feridas que Ardem em Silêncio

O som do portão eletrônico se fechando atrás dela foi como um suspiro contido por tempo demais. Luna apertou o casaco contra o corpo e seguiu caminhando rápido até o carro. As ruas de Vinhedo estavam úmidas da garoa que começava a cair, o tipo de chuva fina que combinava com a estação do ano, e com o nó em sua garganta.

Não havia fugido — dizia a si mesma — só precisava respirar. Precisava de distância daquela casa sufocante. Dele. Da ex-noiva perfeita. Das lembranças que ainda nem eram suas, mas já doíam como se fossem.

Ligou o carro e dirigiu sem rumo pela cidade por alguns minutos, até parar em frente ao prédio onde morava sua mãe. Tocou o interfone, a mãe abriu para ela e à recebeu na porta:

— Luna? O que aconteceu, filha? — perguntou a mãe, assim que abriu a porta.

— Eu... precisava ver você. Eu precisava sair de lá.

Foi só isso. Bastou. Um olhar, um abraço. E tudo o que estava contido desde o primeiro dia ao lado de Caio desabou. Luna chorou em silêncio, o rosto escondido no ombro da mãe. Como uma criança que tenta parecer forte demais por tempo demais. E as duas ficaram ali, no sofá, por um tempo, em silêncio. Até que a mãe perguntou:

— Ele te magoou? — perguntou a mãe, com cuidado.

— Não... Sim... Eu não sei.

— Então é mais sério do que você queria que fosse.

Luna se afastou, secando os olhos.

— Eu me envolvi. Contra todos os avisos da razão. Contra tudo. Ele é difícil, fechado, às vezes cruel... mas também é alguém que sofreu. Que carrega culpa. Dor. E eu me vi ali. Como se pudesse, de algum jeito, consertar o que nem é meu.

— Ninguém é obrigado a consertar ninguém, Luna. — A mãe segurou sua mão. — Mas amar alguém quebrado... às vezes quebra a gente também.

Enquanto isso, Caio estava em seu quarto, diante do espelho. Os dedos trêmulos tentavam abotoar a camisa, mas falhavam a cada tentativa. O fisioterapeuta já havia ido embora. Laura também. A casa, enfim, estava em silêncio — e vazia demais.

Ele se olhou no espelho. Viu as olheiras, a palidez, os ombros tensos. Mas foi além: viu a própria covardia refletida. Por anos, usara a dor como escudo. Usara a raiva como defesa. E agora… agora ela o via.

Luna o via.

E ele a estava perdendo.

Pegou o celular. Abriu a galeria. Havia uma foto dela distraída na varanda, lendo um livro, que ele tirara sem ela perceber. A luz da tarde realçava os traços do rosto dela. E, de algum modo, aquela imagem era mais íntima do que qualquer toque. E ele sorriu um instante, admirando aquela foto. Ela inteira, sem filtros.

Ligou. Chamou duas vezes. Sem resposta.

Escreveu uma mensagem. Apagou.

Depois escreveu outra.

“Eu não sou bom em pedir desculpas, Luna.

Mas eu quero tentar.

Por você.”

Luna leu a mensagem sentada na varanda do apartamento da mãe. O coração bateu mais rápido. A chuva aumentava lá fora. E tudo dentro dela parecia em descompasso.

Ela digitou algo. Apagou.

Depois escreveu:

“Então comece me dizendo por que ela ainda te afeta tanto.”

A resposta veio em poucos segundos.

“Porque por muito tempo eu achei que só era digno de amor se estivesse inteiro. E quando ela foi embora, eu acreditei que nunca mais seria. Mas você... você não me vê pela metade. Isso me assusta. E ao mesmo tempo mexe comigo.”

Luna fechou os olhos, encostando a cabeça na cadeira.

Pela primeira vez em muito tempo, ela sorriu. Um sorriso triste. Mas verdadeiro.

Estava se apaixonando. E isso mudava tudo.

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