Mayla segue andando até o carro do Adrian, mas olha para trás e vê que ele não está a seguindo. Ela se vira e vai andando de volta pra casa a pé, já que a bolsa com o dinheiro e o celular estão dentro do carro dele, e ela não voltaria lá só pra pedir pra ele abrir o carro.
Ela vai caminhando devagar e agora entende por que o Adrian implicava tanto com ela na adolescência. Na infância ele era um menino chato, mas depois da morte da avó dele e dos pais dela, ele ficou insuportável. Mas que culpa ela tinha? Nem o pai dela teve culpa, já que foi um caminhão que bateu de frente com o carro deles. Isso podia ter acontecido com qualquer um. O clube fica um pouco longe da casa dela, o que faz com que ela ande por uma hora. E assim que ela abre a porta, Adrian tá sentado do lado do avô dela. — Onde você estava, Mayla? — Júlio pergunta, tirando a máscara de oxigênio do rosto. — Não vai ter mais casamento. Adrian me culpa pela morte da avó dele. — Ele nem sequer olha pra ela, mas os dois velhos olham pra Adrian. — Já conversamos sobre isso, Adrian. — Ele sorri, brincando com os dedos. — Foi um acidente, e o culpado tá preso. Esqueceu que a culpa foi do caminhoneiro? — Ele podia ter desviado o carro, mas como tinha bebido, não teve reação pra jogar o carro pro lado. Ou seja, é culpado também. — Adrian... — O vô repreende o neto. — Eu li a autópsia. Tô por dentro de tudo. O senhor que tá me forçando a casar com a filha do assassino da minha avó. Mayla abaixa a cabeça, se sentindo culpada pelas palavras do Adrian. E por isso, ela reforça o que disse assim que entrou. — Não vai ser forçado a nada, porque eu não vou me casar com você. O casamento tá cancelado. — O aparelho do avô dela começa a apitar repetidamente e ela corre até ele, segurando o oxigênio no nariz dele. — Respira, vô, respira. — Vamos levar ele no médico. Adrian, pega ele no colo, por favor. — Leone diz, e Adrian logo se levanta. Ele pega o avô no colo, e a Mayla segura o oxigênio e a máscara, indo atrás do Adrian. Ela vai rezando o caminho todo, pedindo pra que o vô fique bem. Os quatro entram no carro e seguem pro hospital. Mayla já entra pedindo ajuda, até que uma enfermeira aparece com uma maca e o Adrian coloca o avô em cima. Ela vai acompanhando ele até onde pode ir. — O que você fez, Adrian? — Leone pergunta, depois que perde a Mayla de vista. — Só disse a verdade. — Não, você disse o que você achava. Agora o meu melhor amigo tá morrendo. E sabe o que é pior? A Mayla não tem mais ninguém, só tem ele. Mesmo que sejam ingratos, você ainda tem seus pais. Ela perde tudo se ele morrer. Uma ponta de arrependimento b**e no Adrian, mas a consciência dele insiste em lembrar que a culpa ainda é do pai dela. Eles caminham na direção por onde a Mayla foi e veem ela andando de um lado pro outro. Eles se sentam numa cadeira e Adrian não tira os olhos dela, que parece estar rezando, com as mãos juntas perto do peito e mexendo os lábios em silêncio. Alguns minutos depois, ela ainda continua andando de um lado pro outro, quando o médico aparece chamando pela família do Júlio. — Ele está estável agora. Conseguimos desobstruir as vias respiratórias e ele está descansando. Ele não pode ter emoções fortes. Foi por pouco... se tivessem chegado cinco minutos depois, ele não teria resistido. Mayla chora um pouco mais alto agora, e Adrian sente o peso nas costas. Ele olha pro avô e pensa como seria se fosse ele ali no lugar do Júlio. O vô é tudo que ele tem, mesmo com os pais ausentes. Leone é a vida do Adrian. Ele se levanta, caminha até Mayla, para na frente dela e fala: — Vamos nos casar. Seu avô merece isso. — Não precisa se preocupar com ele. — Ela fala, ríspida. — Ele vai ficar bem e vai esquecer essa história de casamento. — Não, ele não vai. O sonho dele é te ver casada, não é? É o mesmo sonho do meu avô. Vamos fazer isso por eles. Não vai ser pra sempre, mas vamos ficar casados enquanto o meu avô estiver vivo também. Combinado? — Ele estende a mão pra ela, e ela ainda pensa se aceita ou não. Ela solta um suspiro e acaba aceitando, tocando na mão dele. Leone se levanta e segura na mão dos dois. — Vamos nos casar, vô. E vai ser do jeito que o senhor e o senhor Júlio escolherem. — Obrigado, meu menino. Sabia que iam escolher o certo. — O senhor Júlio vai ficar aqui essa noite. — O médico interrompe o momento deles. — Ele está melhorando, e se continuar assim, amanhã ele pode voltar pra casa. Você tem todos os recursos lá pro tratamento dele, certo? — Tenho sim, doutor. Foi uma luta, mas consegui comprar tudo que ele precisa. — Ele não pode ficar sozinho. Seria bom você ficar com ele ou contratar uma enfermeira. Mayla já não tinha mais recursos pra isso, mas daria um jeito. Ela concorda com a cabeça e pergunta se pode ver o avô. O médico libera só uma pessoa, então ela entra, e o Leone e o Adrian ficam do lado de fora. — Ela vai ter que largar a empresa e trancar a faculdade pra ficar com ele. Só que vai ser ruim, porque a empresa só está de pé ainda porque ela está lá. — Eles estão em falência? — Leone confirma com a cabeça. — Então é por isso que o senhor quer nos casar? Para ajudar eles? Eu posso ajudar sem me casar. — Eu sei. Mas o Júlio quer ver ela casada e com uma família. Porque assim que ele se for, ela vai ficar sozinha no mundo. Vamos pra casa. Amanhã a gente volta para buscar os dois.