O clima ficou tenso. Eles estavam dando mais trabalho do que os velhos imaginavam. Mas se tem uma coisa que eles sabem fazer bem, é insistir.
— Calma, calma. É só um casamento, sem pressão. Sem bebê. Por enquanto — disse Júlio, lançando um olhar cheio de segundas intenções pro amigo cúmplice, tentando acalmar a situação. Adrian se jogou no sofá e encarou Mayla. — Olha, se for pra deixar meu avô feliz… tô dentro. Mas já aviso: se me provocar, eu devolvo em dobro. Mayla sorriu, cheia de desafio. — E se me irritar, eu escondo suas cuecas. — Isso seria um golpe baixo demais. — Bem-vindo ao meu mundo, Adrian Leone. Os velhos sorriram, satisfeitos. Já os dois ali... se entreolhavam como se o jogo tivesse acabado de começar. Que vença o mais esperto. — Vamos fazer uma festa linda! Vai ter gente da alta sociedade, repórteres, fotógrafos… o mundo inteiro vai saber que nossos netos vão se casar! — Não, vô — Mayla cortou rápido. — Vai ser só no civil. Nada de exagero. — O velho começou a tossir, e ela já corre para colocar a máscara de oxigênio nele. — Concordo. Não quero me casar na igreja com ela — Adrian rebateu, e o avô dele levou a mão ao peito como se tivesse sentido uma facada. — Para com o drama, vô! — Esses dois são uns ingratos, Júlio. Não colaboram com nada. Casamento só no civil não vale! Tem que ter Deus no meio também! — Senhor Leone, o padre vai abençoar um casamento que não vai durar, que não vai para frente? Um casamento que está sendo realizado por vontade de vocês dois e não por nossa? — Menina, casamento abençoado por Deus é casamento firme. Ninguém separa o que Ele une. Adrian, leva a Mayla para dar umas voltas. O casamento é nesse fim de semana, e nesses três dias quero vocês se conhecendo melhor. — E se a gente não se gostar nesses passeios, o casamento tá cancelado? — Adrian perguntou, cheio de esperança. — Não, o passeio é só pra vocês entenderem e conversarem do que gostam e do que não gostam. E também para se acertarem, tirarem esse passado sombrio da cabeça. Vocês dois não se suportam por algum motivo... Acho que está na hora de colocar um ponto final nisso. Adrian e Mayla se encaram de um jeito que até parece que vai sair faísca. Mayla nega com a cabeça, dizendo que não pode sair e deixar o vô dela sozinho. Mas seu Leone se oferece pra cuidar dele e promete ligar se acontecer alguma coisa. Sem ter pra onde correr, Mayla pede para Adrian esperar e vai até o quarto se arrumar. — Qual a chance de duas pessoas que se odeiam dar certo? — Ela se olha no espelho e bufa. Solta o cabelo que tava preso num rabo de cavalo, penteia de lado e coloca um vestido soltinho. Calça uma rasteirinha e volta pra sala. Quando Adrian a vê assim, até abre a boca, mas fecha na hora para ela não notar que ele a achou bonita. Ele vai na frente, e Mayla o segue, deixando os velhos todos felizes. Mas, assim que a porta se fecha, Adrian segura no braço dela e fala: — Vai ser só um casamento de fachada. Vamos enrolar eles. Mas eu não quero ter um filho seu. — Pelo menos concordamos em alguma coisa. E quanto ao filho, pode ficar tranquilo. Posso arrumar um cara só para uma noite e realizar o desejo do meu avô. — Eu vou ser corno? Mayla sorri e para de frente pro carro dele. — Aposto que eu também serei. E como dizem por aí, chifre trocado não dói. Ele aperta o botão para destravar o carro, ela entra no banco do passageiro e ele dá a volta para entrar no banco do motorista. Fica com aquilo martelando na cabeça, porque nunca levou chifre de ninguém. — Não vou deixar você enganar meu avô, dando para ele um bisneto que não seja filho meu. Pode tirar isso da cabeça. — Eu vou realizar o desejo do meu avô de ter um bisneto, mas não quero que tenha a sua cara. Porque, depois que meu vô for embora, eu vou pegar meu filho e sumir. Vai ser até melhor pra você. Como o filho não vai ser seu, não vai ter nenhuma responsabilidade com ele. — Para onde você quer ir? — ele pergunta, mudando de assunto para ver se isso para de incomodar ele. — Não sei... para qualquer lugar. Ou a gente pode só ficar aqui, sem falar nada. Tanto faz. Ele liga o carro e começa a dirigir pelas ruas, até que resolve levá-la ao clube. Para o carro e os dois descem. Ela olha pros lados, parecendo meio perdida, e ele logo percebe que ela nunca tinha vindo ao clube. — Não conhece esse lugar? — Ela nega com a cabeça. — Isso vai ser divertido. Eles entram, ele na frente, ela atrás. Mayla já tinha ouvido falar do clube, mas nunca teve chance de ir. Primeiro, porque começou a trabalhar na empresa dos pais assim que eles morreram. Teve que aprender tudo na marra e acabou sem tempo para nada. Segundo, não tinha grana sobrando pra frequentar um lugar desses. Adrian para na área do bar. De longe, ela vê alguns barcos e fica admirando a paisagem. — Quero uma vodka com limão e gelo. E você, vai querer o quê, Mayla? — Nada, não quero beber. — Ela nunca colocou uma gota de álcool na boca, mas já viu amigas bêbadas e morre de medo de ficar igual. — Bebe água, refrigerante, suco... sei lá. — Ela acaba pedindo uma água. — Olha, podemos fazer o seguinte: na frente dos dois, a gente finge ser um casal apaixonado. Mas, fora isso, cada um vive sua vida. Combinado? — Mais que combinado. Você não se mete na minha vida, e eu não me meto na sua. Mas esse lance de casal apaixonado não vai rolar. Meu avô sabe que eu não gosto de você. — Não gosta de mim por quê? Sendo que foi seu pai quem matou minha avó? — O quê? Tá louco? Meus pais morreram naquele acidente também... — Sim, e o seu pai tava dirigindo. Ele matou todo mundo. Mayla fica sem entender, mas vê a raiva estampada no rosto de Adrian. Ela larga o copo ali mesmo, vira as costas e sai andando, deixando as lágrimas caírem em seu rosto.