Capítulo 2

Mayla levou o amigo do seu avô até o quarto dele, deixou os dois lá e foi pra cozinha preparar um café. Enquanto colocava a água pra ferver, ela soltou um suspiro aliviado por não ter visto o tal neto junto. Fechou os olhos e pensou: tomara que ele nem venha. Só de lembrar do pirralho que enchia o saco dela na infância, já sentia a raiva subir.

Enquanto o cheiro do café tomava conta da cozinha, no quarto os dois velhos já estavam arquitetando o plano como se fossem dois mafiosos aposentados.

— Meu neto já vai subir. Ele tá atendendo uma ligação da empresa — avisou Leone.

— Consegui convencer minha neta, mas precisamos de algo que prenda os dois por um tempo… até se apaixonarem. Ela só aceitou por minha causa. Sei que, assim que eu bater as botas, vai dar um jeito de fugir desse casamento.

— Então a gente precisa de um contrato — sugeriu Leone, cheio de ideias. — Fazemos eles assinarem. Mas se a gente contar, eles não assinam. Vai ter que ser escondido. O Adrian é desligado, assina até papel de rifa sem ler.

— Mas a Mayla não ela é esperta. Vai querer ler tudo, Leone.

— Então a gente mistura com outros papéis. J**a ali no meio de uns documentos da empresa e reza pra ela estar distraída.

— Ou com sono… ela vive cansada.

Eles continuaram bolando o plano como se fosse a maior missão da vida deles. Mayla, sem imaginar nada, terminou o café, colocou tudo numa bandeja e foi até o quarto.

— Aqui está — disse, colocando a bandeja na mesinha. Seus olhos foram direto pra porta, torcendo pra não ver Adrian entrando. E nada dele chegar. E um sorriso de alívio escapou. Leone percebeu e logo pegou o celular.

— Vou ligar para aquele irresponsável. —Ligou. Chamou algumas vezes antes de ser atendido. — Cadê você, Adrian?

— Tô almoçando com um dos investidores, vô. Fechando um negócio aqui. Assim que eu terminar, volto aí.

— Não foi isso que a gente combinou, Adrian! — resmungou, e logo mandou o golpe baixo: — Tô sem ar... Me ajuda, Mayla... — A moça largou tudo e correu para perto dele, achando que era sério.

— Calma, senhor Leone. Puxa o ar pela boca… solta pelo nariz… isso, devagar…

Do outro lado da linha, Adrian ouviu a voz dela e percebeu que o avô podia estar falando sério, o medo bateu forte, e se o velho passasse mal de verdade? Sem pensar duas vezes, largou a mulher no restaurante, jogou umas notas em cima da mesa e saiu quase correndo.

— Eu não acredito que tô fazendo isso — resmungou, já entrando no carro. Acelerou como se estivesse numa corrida de Fórmula 1. — Que esse casamento acabe antes que meu avô acabe comigo…

Alguns minutos depois, a campainha começou a tocar como se fosse um alarme de incêndio. Mayla, que já estava terminando de pôr a mesa, bufou irritada.

— Só pode ser o infeliz do Adrian — murmurou baixinho, indo até a porta.

Assim que abriu, seus olhos encontraram os dele. E o que viu a fez engolir em seco.

“Nossa… como ele tá bonito.” Pensou, estática. Os olhos continuavam os mesmos, mas o corpo… bom, o corpo era de homem agora. E não dava pra fingir que aquilo não mexia com ela. Só que logo se lembrou: "ele é o chato da minha adolescência. O mesmo que me fazia querer arrancar os cabelos com comentários idiotas."

Adrian teve a mesma reação. Parou no batente da porta como se tivesse levado um choque. Ela não era mais a fedelha magricela e irritante que ele lembrava. Agora era uma mulher feita. E linda. Mas, assim como Mayla, ele também se lembrou: "ela é a menina que os pais matou minha avó"… Ela abriu mais a porta, oferecendo passagem, mas ele ficou parado.

— Se não entrar, vou fechar a porta na sua cara — disse ela, tentando disfarçar o nervosismo.

— Fecha e eu vou embora! — rebateu ele.

Ela sorriu de lado, provocativa, e fingiu que ia fechar, mas ele foi mais rápido e segurou com o pé.

Sem dizer mais nada, Mayla virou as costas e voltou para a sala de jantar. Adrian respirou fundo e seguiu para o quarto do avô. Ao entrar, o sorriso do velho Leone iluminou o ambiente.

— Que bom que chegou, Adrian. Vamos jantar, depois conversamos sobre o casamento.

— Espero que o senhor não esteja inventando doença só pra me ver casado, vô.

— Eu jamais faria isso, meu neto. Sempre fui um homem direito — disse com ar ofendido.

Adrian encarou o avô por alguns segundos, tentando encontrar alguma mentira naquelas rugas. Mas o cansaço no rosto do velho era real. Suspirou, já aceitando que talvez tivesse que suportar a tal da Mayla só pra ver o avô feliz.

Mayla voltou à sala e ajudou seu avô a levantar. Adrian fez o mesmo com Leone. Os dois velhos se sentaram lado a lado à mesa, como se estivessem em um jantar real de casamento arranjado. Mayla e Adrian ficaram frente a frente, em silêncio. Se olhavam discretamente, e sempre que os olhares se cruzavam, desviavam no mesmo segundo.

Durante a refeição, o clima era tenso, mas silencioso. Ninguém falava do assunto principal. Era só mastigação e velhos sorrindo com cumplicidade. Mas, quando seguiram para a sala…

— Muito bem — disse Leone, ajeitando o corpo no sofá como se fosse o chefe da reunião — Vamos ao que interessa.

— Lá vem bomba — Adrian murmurou, cruzando os braços.

— Eu e Júlio conversamos e achamos uma solução prática. Vocês dois se casam, e ficam por um ano casados.

— E se em um ano eu quiser me jogar da janela? Ou ela me internar numa clínica psiquiatra? — Adrian perguntou, sarcástico. Porque com certeza ela vai me deixar louco.

— Não tem como te deixar louco, se isso já é seu de nascença. — ela retruca, olhando para ela em desafio.

— Nada de se jogar pela janela e nada de clínica psiquiatra. Mas, durante esse ano, vocês podem nos dar um bisneto. — Adrian começa a gargalhar, chamando a atenção de todos.

— O casamento já vai ser falido, querem colocar uma criança no meio? Desculpa, vô, mas eu não pretendo fazer com ela a produção de um bebê.

— Concordo, vamos dormir em quartos separados. Vocês querem a gente casados, mas acho que um filho é demais. Definitivamente, isso não vai acontecer!

Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App
Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App