Aceito, mas ainda te Odeio.
Aceito, mas ainda te Odeio.
Por: Dayane Castro
Capítulo 1

Mayla chega em casa exausta depois de encarar o combo trabalho e faculdade. Desde que os pais morreram naquele acidente horrível, ela vive só com o avô, um senhor de 85 anos que enfrenta uma doença respiratória.

Sem perder tempo, ela vai direto pro quarto, querendo tirar o peso do dia com um banho. Depois, dá uma passada no quarto do avô pra dar um beijo de boa noite. Ele já está dormindo e nem percebe a presença dela.

Na cozinha, Mayla prepara um lanche simples antes de ir pra cama. A cabeça não para: a empresa que os pais dela tanto amavam está afundando aos poucos. Sem grana nem pra se manter direito, ela se sente perdida.

Várias vezes pensou em vender tudo, mas seria como apagar os pais da própria história, já que foram eles que construíram aquilo do zero. Então, ela segue firme, mesmo que isso esteja acabando com ela por dentro. Termina o lanche e vai deitar. Fecha os olhos e, vencida pelo cansaço, logo adormece.

Na manhã seguinte, acorda cedo pra passar um tempo com o avô. Prepara o café da manhã e o chama pra sentar à mesa com ela.

— Ontem o Leone apareceu aqui. Conversamos bastante — diz o avô Júlio, chamando a atenção de Mayla.

— Que bom, vovô. Fico agoniada de te deixar sozinho. Tô só esperando as coisas melhorarem pra conseguir pagar uma enfermeira pro senhor.

— Então... no meio da conversa, ele me fez uma proposta que pode mudar tudo. E olha, se der certo, a empresa não vai mais falir.

— Que proposta, vô? Olha, eu não posso pegar empréstimo agora. Nem sei como ia pagar, e se a empresa não...

— Não é empréstimo, Lalá. É casamento. O filho dele precisa casar e ter filhos. E você também precisa de alguém. Não quero morrer e te deixar sozinha nesse mundo.

— Ah não, vô, não vem com essa. A gente tá no século 21! Eu não vou me casar só porque você acha que eu não posso ficar sozinha — ela reclama, mas logo se assusta quando o avô começa a tossir forte. Mayla se levanta rápido, pega o cilindro e coloca no nariz dele.

— Eu só quero te ver bem… e, se der, ter um bisneto também. Não precisa ficar casada pra sempre. Casa só até esse velho aqui bater as botas. Você pode fazer isso por mim?

— Vovô, eu… — A tosse dele piora, mais forte, mais preocupante. Mayla aperta os olhos, respirando fundo, sentindo a pressão bater. — Tá bom, tá bom. Eu me caso. Mas olha, não vai achando que é pra sempre. E talvez nem role esse bisneto, viu?

— Por favor… você é tudo que eu tenho. E quando eu me for, você não vai ter mais ninguém. Um bisnetinho, só um, que seja?

Mayla fecha os olhos, sentindo que está encurralada. Não queria, mas parecia não ter escolha. Só que ela lembrava bem do neto do tal senhor Leone. Ah, como ela odiava aquele moleque! Sempre implicando com ela quando eram pequenos. Fazia anos que não se viam, mas a raiva? Continuava viva.

Enquanto isso, na casa do Leone, o clima era outro, e não era nada tranquilo. Adrian não queria nem ouvir falar de casamento. Nem as ameaças do avô, dizendo que estava à beira da morte, faziam ele mudar de ideia.

Adrian até tinha pais vivos, mas eles eram tão metidos e ausentes que passavam a vida viajando, curtindo o luxo e esquecendo que tinham um filho. Jogaram a responsabilidade nas costas do avô, e sumiram do mapa.

Foi os avós quem criou Adrian desde pequeno. Mas há um ano, ele perdeu a avó, no mesmo acidente que levou os pais da Mayla. Desde então, a mágoa só cresceu. Na cabeça dele, por causa da família dela, ele e o avô ficaram sozinhos no mundo.

— Por favor, Adrian… eu preciso de você — insistiu o avô.

— E eu tô aqui, vô. Mas não me pede pra casar com aquela fedelha. Os pais dela mataram a vovó.

— Não foi culpa deles, meu filho… eles também morreram. Foi um acidente. Nem você podia ter evitado. E olha, ela não é mais uma fedelha. Hoje ela é uma mulher. Trabalha, estuda… ficou uma moça linda e responsável.

— Vô, não força a barra. Se o problema é neto, eu arrumo uma namorada, sei lá. Você quer neto? Te dou logo três, assim vai ficar ocupado cuidando deles e esquece essa ideia maluca de casamento. Mas casar com aquela metida? Tô fora.

— Não é só isso, Adrian… eu quero ver você casado de verdade. Com uma família, filhos, alguém do seu lado. Tô quase partindo, e esse é meu último pedido. Você não pode me negar isso.

— O senhor não vai morrer, vô. Tem saúde de ferro!

— Eu deixei você pensar assim pra não te preocupar. Mas na última consulta… descobri que tô com uma doença que tá me destruindo por dentro. Acho que não tenho nem mais um ano. Por isso, preciso usar o tempo que me resta pra te ver encaminhado. Amanhã vamos visitar o Júlio e a Mayla. Depois disso, você decide se topa ou não.

As palavras do avô bateram fundo. Adrian apenas assentiu, com um nó na garganta. Era difícil imaginar perder a única pessoa que sempre esteve ao lado dele. Mas ainda assim, ele tinha certeza: nem com a doença do avô, aquela menina metida ia fazer ele mudar de ideia. Bonita? Pode até ser. Mas irritante como sempre.

No dia seguinte, os dois saíram cedo. No carro, Adrian observava o avô pelo retrovisor e notou como ele parecia mais frágil, abatido. Aquilo apertou seu coração. Ele desviou o olhar, focou na estrada, tentando não deixar a emoção tomar conta.

Quando chegaram, o celular de Adrian começou a tocar. Ele olhou o visor, revirou os olhos e atendeu com má vontade.

— Fala, Taylana — disse seco, sem um pingo de entusiasmo.

— Nossa, calma, grosso. Só tô te ligando pra saber se quer almoçar comigo. Tô aqui perto da empresa e resolvi te chamar.

Adrian olhou pra casa da Mayla, respirou fundo. Entre almoçar com alguém que ele apenas tolerava e encarar quem ele não conseguia nem olhar na cara, a escolha foi fácil. Voltou pro carro e deu meia-volta.

— Quem sabe assim ela entende que eu não tô nem um pouco interessado nesse casamento. E quem sabe… convence o vô dela a largar essa palhaçada de vez.

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