Mundo ficciónIniciar sesiónA chegada em casa foi marcada por uma energia febril e focada. Charlotte e Milli, superando a decepção da viagem à praia, transformaram a ansiedade em ação. O quarto de Milli, ainda quente com a promessa de férias canceladas, tornou-se o centro da organização. Charlotte puxou uma mala de viagem grande do armário e começou a selecionar roupas práticas, pensando mais em conforto e longas horas de hospital do que em estilo.
"Tudo bem, Miss Milli. Você coloca na sua mochila só o que for realmente importante, certo?" Charlotte instruiu, dobrando rapidamente camisetas e meias.
Milli, abraçada ao seu urso de pelúcia favorito, acenou seriamente. "Só meus três livros de colorir, o ursinho e o pijama de dinossauro. E algumas guloseimas para a vovó!"
"Sem guloseimas para a vovó, por enquanto," Charlotte disse, com um sorriso triste, lembrando-se da restrição que ela mesma acabara de enfrentar no asilo. "Mas as outras coisas, sim. Vamos de carro, então precisamos ser eficientes."
Em menos de uma hora, a missão estava cumprida. Charlotte, com a força de quem trabalha no braço, colocou as duas malas e as mochilas no porta-malas de seu sedã. A escuridão da noite já havia envolvido a rua quando ela abriu a porta traseira para Milli.
"Pronto, meu amor. A mamãe vai dirigir a noite. Tente dormir um pouco," ela disse, ajudando Milli a afivelar o cinto de segurança.
Charlotte assumiu o volante, girou a chave, e o carro ganhou a estrada, engolindo os quilômetros sob a luz fraca dos postes e, depois, apenas sob a vastidão da escuridão rural.
Para combater o sono e a tensão, Charlotte tentou manter a filha acordada e envolvida.
"O que é isso? Eu vejo algo... azul!" Charlotte disse, forçando a voz a soar alegre.
Milli, inicialmente sonolenta, sorriu, o joguinho familiar quebrando a melancolia da viagem. "Azul... hum... é o céu? Não, está escuro! É o pisca-pisca de um caminhão?"
"Não! É algo que está aqui dentro do carro!"
"Ah! É a sua caneta! Aquela que você usa para preencher os formulários chatos do asilo!" Milli exclamou, vitoriosa.
O jogo continuou por algum tempo, uma bolha de familiaridade e carinho em meio à emergência. Elas passaram por cores, objetos imaginários e, finalmente, pelos marcos de pequenas cidades adormecidas.
No entanto, o cansaço cobrou seu preço. O silêncio se instalou no banco de trás, e Charlotte ouviu a respiração suave e regular de Milli. A menina havia adormecido, a cabeça apoiada na janela.
Charlotte dirigiu sozinha, o silêncio agora preenchido apenas pelo ruído do motor e pela preocupação com a mãe. Ela não poderia dormir, mas a adrenalina e o foco a mantinham alerta. Ela verificava o relógio no painel a cada minuto. O Arizona parecia incrivelmente longe, mas a necessidade de ver a mãe era um ímã poderoso.
E então, abruptamente, os primeiros raios de sol da manhã pintaram o deserto do Arizona com tons quentes de rosa e areia. A paisagem, seca e dramática, era uma mudança radical em relação à folhagem de sua cidade. Charlotte olhou no GPS. A longa viagem, que parecia ter durado uma eternidade, na verdade, levou apenas uma hora do momento em que ela dirigiu para a estrada principal até a entrada da cidade da mãe.
Ao entrar na rua tranquila e arborizada, o coração de Charlotte começou a bater mais rápido. O cansaço desapareceu. Ela precisava ver a mãe, abraçá-la, saber que ela estava bem.
O carro diminuiu a velocidade e parou suavemente em frente a uma casinha. Não era uma mansão; era uma casinha simples, com pintura amarelada desgastada pelo sol do deserto, mas a pequena varanda com vasos de gerânios e o cheiro de terra seca a tornavam incrivelmente acolhedora. Era o lar de sua mãe.
Charlotte desligou o motor. A luz da manhã inundava a rua, marcando o fim da jornada e o início da prova mais difícil que ela enfrentaria. Ela olhou para Milli, ainda dormindo pacificamente no banco de trás, e depois para a porta da frente, sentindo a urgência de sair do carro.







