Anton Griffin
Malditos! Ousaram invadir meu território, ousaram me atacar. Que porra de magia é essa? O que aplicaram em mim? Consegui fugir da casa, mas não fui longe antes de voltar a minha forma humana. Não sinto mais o meu lobo.
Caminho pela floresta me escondendo. Se não fosse por Oliver eu poderia estar morto. Meu beta estava atento a alcateia inimiga. Ele estudou arduamente sobre feitiços e fez um que anula qualquer feitiço usado contra mim. O problema é o efeito colateral. Dias como humano. Totalmente humano.
Enquanto estiver assim ainda posso ser morto. Preciso me esconder e falar com Oliver. Esses dois imbecis não vão desistir fácil.
A dor da punhalada é intensa. Tento ignorar, porém é inútil. Eu estou sangrando muito. Preciso chegar logo a casa de Oliver.
Ando o que parecer ser uma eternidade. Quando chego próximo, escuto a voz dos malditos inimigos.
— Ele virá. O instinto vai fazer com que busque ajuda do seu beta. Vamos esperar.
Caralho!
Eu me deixei levar pelo poder ao ponto de achar que sou invencível? Que não tenho inimigos pensantes? Assim que sair dessa merda vou rever minhas prioridades em questão de segurança.
É meu último pensamento antes de desmaiar.
Quando acordo não sei quanto tempo passou, deve ter sido pouca coisa porque ainda é noite. Estou caído no chão da floresta.
— Puta que pariu! — olhar para a lua no seu brilho esplêndido. É a noite da caçada. Preciso me transformar. Se a minha destinada estiver entre as lobas de hoje perderei minha chance de ter uma companheira nessa vida.
Com dificuldade e muita dor, deixo o caminho da casa de Oliver, voltando para o meio da floresta. Mas antes, acho uma lixeira com roupas velhas e pelo odor sujas.
— Vão servir por enquanto. — Me visto. O ferimento está me deixando com muito frio, ao ponto de não me importar em feder.
Ando pouco e devagar.
Ser apunhalado é uma merda. Agora ser apunhalado no coração pelo cheiro mais perfeito é divino.
É ela. Não há dúvida.
O comum é a loba sentir o cheiro do seu parceiro, por isso a caçada, mas depois desse feitiço que nem sei direito o efeito, parece que isso mudou em mim.
— Ajuda! — murmuro para chamar sua atenção.
Ela não vem como loba. É uma deusa completamente nua. Escoro em uma árvore, sentindo o efeito dela somado a punhalada.
— Ajuda! — repito. A punhalada está me deixando mal, de uma forma que não me senti, desde que fui atingido. Percebo sangue novo manchar as roupas de mendigo.
Ela corre em minha direção.
— Consegue andar? — pergunta preocupada. Eu assinto, mas dou um passo e caio, sendo amparado por ela. — Eu não posso te levar assim. — Olha seu próprio corpo nu. — Então pode se assustar, mas não fuja. Se apoia no corpo do lobo e deixe que ele te leve. Estou sentindo o cheiro de morte. Se não te levar agora para ser cuidado você morre. Ouviu?
Cheiro de morte? A ficha cai. Ela me vê como um humano. Não sentiu o elo. A expectativa em seu olhar mostra que ela quer se transformar sem me assustar, sem assustar o humano que me tornei.
— Não entendi nada, mas ouvi. Obedecerei. Não estou pronto para morrer.
A última parte é a mais límpida verdade. Morrer agora que encontrei minha companheira? Nem fodendo.
Ela se transforma e uma loba linda de pelagem escura e dourada.
A curiosidade de saber quem é ela é grande, porém seguiremos as prioridades. Subo em seu corpo de pelo macio e ela dispara para algum lugar. A dor no ferimento intensifica com a corrida. Talvez seja porque a adaga ainda está em mim. Preciso de um ambiente controlado para tirar em segurança.
Ela para, e eu percebo que estamos no centro da cerimônia.
Estão todos nos encarando.
— O que pensa que está fazendo, Serafina Gmork? — Um homem pergunta. Não vejo direito a fisionomia dele. Estou começando a ficar tonto.
Ela se abaixa e eu desço com dificuldade.
— Você trouxe um humano? Ouviu o elo chamando nele? — Conheço essa voz. É a anciã responsável pela cerimônia.
— Não, anciã. Ele estava ferido, eu só o trouxe para receber ajuda. Não somos destinados. — Ela tenta se justificar. Penso em dizer que somos sim, que ela é minha e que sou o Alfa, mas mudo de ideia. Com esse corpo humano não posso me descuidar, preciso da ajuda do meu beta antes de revelar quem sou.
— Falta cinco minutos para meia noite. Seu coração diz que há alguém na floresta esperando por você? Ninguém nunca demorou tanto para retornar. — A anciã continua falando. O que faz a minha companheira olhar para todos os lados. — Você sente o seu destinado? Consegue buscá-lo no tempo que te resta?
Ela nega com a cabeça.
Preciso fazer alguma coisa. Pensa, porra! Enquanto penso em como tirar ela dessa enrascada sem revelar quem sou, levanto e tiro o casaco. Não quero ninguém olhando o corpo da minha companheira.
Ela sorri, mas não tem nada de alegria nesse gesto.
Não sei mais o que acontece depois desse momento, ela pega ou não. Minha mente se junta ao meu corpo e decidem apagar.
Quando acordo ainda estou nos braços dela, que está sentada no chão com o rosto banhado em lágrimas.
— Desculpe, tive que fazer isso para te curar. — Franzo as sobrancelhas, sem entender. Ela pega minha mão e leva até meu pescoço, sinto o local da mordida.
Ela me marcou.
O elo se fez.
Minha Luna Alfa.