Capítulo 4

Serafina Gmork

— Atenção! — A anciã está sobre o tronco de uma árvore, de pé. — Acredito que todas conhecem as regras, entretanto as relembro. Vocês tem até a meia noite para caçar seus companheiros. Sigam os cheiros que despertar seus corações jovens. Lembre-se, o elo só é ativado em seus companheiros após a primeira mordida. E depois de pegá-los para si, viveram sob cuidados dos parceiros. Viverão em sua casa e se alimentarão daquilo que eles oferecerem até a lua oficial do casamento. Cuidado! Saibam que se morderem um gato do mato, esse será seu companheiro. Se saírem daqui com a pessoa errada, ela será seu companheiro. O destino existe, mas não é motivo para testarem a deusa da lua. Lembrem-se do que aconteceu com aquela loba burra de cem anos atrás. — Me recordo da história e engulo em seco. — Alguma dúvida?

Se faz um silêncio mortal. Ninguém seria capaz de questionar a anciã e todas fomos criadas sabendo sobre esse dia.

— Agora vão! Há lobos nessa floresta esperando para serem caçados, inclusive nosso Alfa. — Tenho a sensação que ela diz isso se perguntando se será dessa vez que aquele homem cruel vai encontrar a mulher tão esperada. Eu espero que sim, e que ela o ajude a ser menos babaca... — Vão! — grita.

Nossos vestidos brancos vão parar no chão e nos transformamos. Vejo minha irmã correr para longe, sua pelagem branca sumindo na mata. Não conversamos hoje. A cerimônia não permite. Vejo as outras catorze sumindo também. Sou a última, saio meio confusa com minha pelagem diferente uma mistura de cinza com dourado. Estou confusa porque não sinto cheiro algum. Não sei para onde ir.

O meu maior medo pode se tornar real; Lucien não é meu companheiro. Ele nem é dessa alcateia.

Meio zonza com esses pensamentos, vago pela floresta. Não vejo ninguém nem sinto cheiro algum, só da mata e dos animais por aqui, nada que desperte meu coração. Me pego pensando em quantos lobos tem nessa floresta, à espera de encontrar sua companheira.

Saio da forma lupina e sento em uma pedra. Não importo com minha nudez. Raramente alguém se aventura por essa parte da floresta. É destinada a caçada.

Fico ali parada. Sei que é uma caçada. Mas quem eu deveria caçar? Não posso ir atrás do Lucien sem sentir o que a anciã disse. Meu primeiro amor, fica ficar só nisso. Se eu soubesse que nunca encontraria um destinado, teria me entregado a ele, pelo menos assim saberia o que se sentir desejada, entregue.

— Jogada fora pela minha alcateia, sem direito a ter um elo de amor... Pra que eu estou nesse mundo mesmo, deusa? — olho para o céu enquanto pergunto.

Nessa hora um gemido de dor chama a minha atenção, vindo acompanhado de um cheiro forte de sangue.

É nesse momento que esqueço o que estou fazendo aqui e minha péssima sorte.

— Quem está ai? — desço rápido da pedra e vou em direção ao cheiro.

— Ajuda! — uma voz masculina murmura.

Não perco tem e corro na direção do som. Há um homem escorado em uma árvore. Ele está vestido com roupas esfarrapadas e com um odor forte de quem usa há dias. Um mendigo.

— Ajuda! — repete, me fazendo notar sangue seco e sangue novo em suas roupas. Ao que parece ele foi ferido a algum tempo.

Me apresso em ir até ele.

— Consegue andar. — Ele assente, mas dá um passo e cai. — Eu não posso te levar assim, então pode se assustar, mas não fuja. Se apoia no corpo do lobo e deixe que ele te leve. Estou sentindo o cheiro de morte. Se não te levar agora para ser cuidado você morre. Ouviu?

— Não entendi nada, mas ouvi. Obedecerei. Não estou pronto para morrer.

Sem esperar mais, me transformo.

O homem me olha com desconfiança, porém segue o que pedi, subindo no meu corpo com dificuldade por causa do ferimento. Corro em direção a onde os familiares esperam junto com a anciã. Ele geme de dor, mas não posso desacelerar ou ele pode morrer.

Quando chego, todos se levantam me encarando.

— O que pensa que está fazendo, Serafina Gmork? — meu pai está vermelho de raiva. A anciã me encara atentamente.

Me abaixo para que o homem desça. Ele o faz com dificuldade. Me transformo novamente, a tempo de evitar que ele caia no chão.

— Você trouxe um humano? Ouviu o elo chamando nele? — a anciã pergunta com curiosidade evidente.

— Não, anciã. Ele estava ferido, eu só o trouxe para receber ajuda. Não somos destinados.

— Falta cinco minutos para meia noite. Seu coração diz que há alguém na floresta esperando por você? Ninguém nunca demorou tanto para retornar.

Só nessa hora percebo o que estava obvio; todas já haviam voltado com seus parceiros e estavam com seus vestidos brancos. Apenas eu estava nua ali. Me senti tão pequena. Doeu ver que ao lado da minha, o homem que foi meu primeiro amor. Apesar de todos os sinais que eles tinham algo mais que amizade, preferi acreditar que era coisa da minha cabeça. E era mesmo: chifres.

— Você sente o seu destinado? Consegue buscá-lo no tempo que te resta?

Nego com a cabeça, envergonhada. O homem se levanta e tira o casaco. Deixo escapar um sorriso triste ao ver sua gentileza em meio ao caos. Antes que eu pegue ou recuse, ele desmaia.

— O salve, por favor.

— É só um humano, sua loba burra.

— Ela o trouxe de proposito para nos afrontar. Que a deusa e nosso Alfa nos perdoe. — Minha mãe fala.

— Ainda bem que ele não está aqui para ver essa desgraça. — Alguém diz.

A anciã vem até mim em passos lentos.

— Seu tempo acabou. Viva com seu escolhido na caçada.

— Anciã... — ela levanta a mão, me impedindo de argumentar.

— Vamos todos, a caçada acabou. Infelizmente não foi hoje que nosso Alfa encontrou sua companheira. Que a lua coloque o caminho deles em sintonia na próxima caçada.

Me vejo sozinha com esse humano desmaiado.

O que faço agora?

Olho para o céu estrelado em busca de respostas.

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