Em mundo onde pessoas com habilidades tão avançadas capazes até de desafiar as leis naturais, há também corrupção e interesses sombrios. É nessa sociedade que Aiyra é introduzida depois de viver seus primeiros anos com o pai em uma ilha inabitada. Entrando na puberdade ela terá que lidar, sendo uma Excepcional, com as mudanças do corpo e com adaptação da nova realidade. Nessa aventura, Aiyra reflete sobre os seus relacionamentos, política, a luta pelo poder e dinheiro.
Ler maisVivi até os 14 anos em uma ilha sem civilização. Meus pais se mudaram para lá por causa de pesquisas. Minha mãe ficou grávida de mim na ilha, o parto foi complicado e ela morreu. A tia da minha mãe seguiu-os, não se sabe exatamente para quê.
Em nosso mundo algumas pessoas nascem com habilidades especiais, meus pais tinham essas habilidades e se dedicavam totalmente a natureza e a vida humana. Os dois saíram da civilização para aprimorar essas habilidades. Queriam usá-las para salvar vidas.
Meu pai gostava de mexer com a natureza, com os animais, com o mar, as plantas, a areia… A minha mãe era médica, usava as habilidades para aumentar a precisão nas cirurgias e nos diagnósticos das doenças.
Minha tia-avó era uma pobre viúva acostumada ao luxo, foi tomar conta da minha mãe por interesse da herança do meu avô, irmão dela. No entanto,a minha mãe já era uma pessoa livre naquela época. Viajava pelo mundo tentando salvar o máximo de vidas que podia. Então, em uma dessas viagens ela conheceu meu pai.
Minha tia viu naquela relação uma ameaça ao seu futuro e ao das filhas, além do fato de meu pai não compartilhar da mesma classe social que eles. Porém, eles tinham um sonho pela frente, não apenas de construir a vidas juntos, mas, de salvar mais vidas. Queriam juntar suas habilidades. Pesquisaram diferentes tipos de materiais e viram na areia a matéria perfeita para o projeto, depois tiveram que encontrar a areia ideal para que a fórmula funcionasse. Conseguiram encontrar. Numa ilha inabitada bem no meio do mar, foi onde nasci e cresci até vir para a civilização. Não conheci minha mãe. Teve complicações no parto e ela perdeu muito sangue e sucumbiu.
Meu pai sofreu muito. Em minhas primeiras lembranças lembro dele estar sempre sério,não sorria tanto e tinha um olhar melancólico, no entanto, lembro também de todo o carinho e atenção que até hoje, mesmo adulta ele me dá.Para os pais os filhos nunca crescem.
Na ilha, ele sempre me ensinava sobre os animais, para que servia cada planta, o que era para comer e o que era venenoso, o que curava, o que era bicho de estimação e o que era bicho selvagem, sobre as aves, os peixes, os rios e os mares…
Me alertou sobre a maldade do homem e sobre a poderosa arma que ele carrega dentro do crânio. Me mostrou através das histórias dele com a minha mãe como o amor pode ser puro e sincero e através da minha tia o que a avareza pode levar a fazer.
Essas pessoas com habilidades especiais como os meus pais eram conhecidos como Excepcionais. Se mostraram brilhantes em atividades específicas. As minhas ainda não tinham sido afloradas e não sabia se seriam. Eu tinha noventa e nove por cento de chance de ser uma Excepcional como os meus dois pais também eram. Depois da morte da minha mãe, meu pai tentou aprimorar a fórmula que conseguiram.
Um dia, peguei meu pai com uma das gêmeas, primas da minha mãe, elas já eram adultas nessa época. Os dois na canoa, ele virado de costas para ela e ela de peito nu. Eu não sabia o que tinha acontecido antes e nem o que foi acontecer mais tarde, só sei que depois daquele dia, meu pai resolveu voltar.
Devo advertir que os fatos aqui contados são memórias do passado, então,podem conter falhas e estar fora da ordem cronológica. Não é que sejam mentirosas mas, podem faltar informações por isso, não achem que o que está aqui é uma verdade absoluta. Fiz esse livro relembrando fatos que aconteceram naquele ano de tantas mudanças. Não só naquele ano mas, os outros que se passaram quando eu me acostumava com a civilização. Não sabia que me recordava de tantas coisas… Naquele ano fatídico que saímos de nossa casa isolada e fomos de encontro com a sociedade. Hoje, aos 25 anos, escrevo essas memórias como uma lembrança de um tempo que parece não ter existido e como parece não ter existido, as pessoas não se lembram mais de como a vida era difícil naquela época onde tudo era limitado. -Então somos exclusivos um do outro? A Brenda disse que agora eu não posso mais ficar com ninguém porque eu me tornei exclusiva de você. Eu vou ter que parar de falar com os outros?-Não é bem assim…Pode continuar a falar com os outros normalmente.Aquela conversa estranha foi bem no começo do namoro. Fazia duas ou três semanas que ele havia se mudado para a casa de Nomia e João, já estava frequentando o internato normalmente e resolveu assumir logo a relação que queria comigo.Haru nunca tinha namorado também, mas entendia o conceito do que era. Já eu, não sabia o significado total daquela palavra. Brenda me explicou que são quando duas pessoas que se gostam se juntam e teNAMORO
Uma casa de acolhimento. Geralmente crianças Excepcionais não vão para um lugar desses, elas são deixadas na rua a própria sorte, ninguém quer adotar também um Excepcional. As crianças Excepcionais que dão sorte, podem ser recolhidas por algum Excepcional adulto que realmente queira cuidar dela. Mas a maioria das vezes, elas são recolhidas por esses adultos e são exploradas por isso, a preferência de muitas é ficar na rua.Como o caso de Haru veio a público e causou muita repercussão e debates sobre a desigualdade entre os Excepcionais e os Comuns, o levaram para uma casa de acolhimento sem problemas. Eu não saberia se veria ele novamente na escola e esse tipo de pensamento me deixava ansiosa.-Não se preocupe, ele vai
-Essa criança, senhor juiz, só me trouxe desgraça - ela falava isso no final dos depoimentos- Por causa dela perdi meu marido, meu emprego e a minha casa. Mesmo assim eu dei a ela um teto, comida e educação. Acha que foi fácil olhar para a cara dessa criança todos os dias da minha vida? Eu não larguei ela por aí como muitas pessoas fazem! E agora eu vou ser presa por causa dessa criança também?!Lágrimas de raiva começaram a escorrer pelo rosto dela. Depois de todos os depoimentos já prestados. Permitiram que eu e meu pai assistíssemos o julgamento. Haru não estava presente, foi para uma outra sala.A mãe de Haru se exaltou depois de ouvir todas as testemunhas. Meu pai contou o ocorrido no dia em que fomos à casa de Haru, Nomia e J
Depois daquela noite, Haru não encostou nos meus lábios daquele jeito. Eu não saí do lado dele como ele havia me pedido. O advogado de Haru pertencia ao escritório do senhor Bartolomeu. Um jovem preocupado com causas sociais, muitas vezes faziam serviços Pro-Bono mas, aquilo estava sendo pago com o dinheiro que a minha mãe deixou para o meu pai. Antes de levar Haru para casa, meu pai havia denunciado a agressão, não deram muita importância por se tratar de uma criança Excepcional. Foi a partir daí que ele percebeu que só iria adiantar se retornasse. O Francisco, marido de Júlia Martins Gonçalves, o Excepcional Natural, ativista político pelos direitos dos Excepcionais, deveria ressurgir mais cedo do que imaginava. Em sua experiência anterior, as autoridades só se mexeriam com um apelo midiático forte. Muitas vezes eles conseguiam apenas quando den
Fiquei no meu quarto o máximo que pude, tentando evitá-lo. Saía escondida sem ele perceber para ir ao banheiro ou beber água. Porém, dentro de um espaço relativamente pequeno com apenas nós dois, fica difícil achar um momento em não nos esbarremos. -Está me evitando, por acaso? - ouvi uma voz masculina atrás de mim enquanto saía cautelosamente do meu quarto. -O que é evitar?- eu ainda não conhecia aquela expressão. Haru estava de braços cruzados atrás de mim. -Exatamente isso que você fez o dia inteiro. -Não é como se eu tivesse começado isso- por que ele estaria zangado com isso? Foi ele que me evitou primeiro. Ele engoliu a seco e olhou para o lado, fazia isso quando ficava sem graça. -Mas foi você que disse aquilo pra
Último capítulo