MUDANÇAS

As mudanças chegavam imperceptivelmente. Eu, uma criança de dez anos, isolada da civilização, consegui aprender cinco línguas diferentes.Eu aprendia muito rápido, assim como aprendi a ler e escrever, aprendi outras línguas que meu pai sabia. Ele viajava pelo mundo inteiro, foi obrigado a aprender várias línguas. O que ele levava meses para aprender, eu aprendia em dois dias. Aos dez anos, eu sabia fazer tudo o que meu pai fazia, inclusive a casa de árvore. Mas, naquela idade ele apenas me deixava cuidar dos espinheiros. 

Minhas primas eram dez anos mais velhas que eu, estavam na casa dos vinte, mulheres já feitas, já não pensavam  em brincadeiras na areia. O anseio de voltar a civilização tinha chegado, principalmente para Olivia que deixara seu “Prometido” por lá.

As transformações que eu via nas minhas primas, chegavam para mim também. Meu corpo magrelo começava a tomar forma, os seios cresciam a cada dia. Os pêlos nas axilas e na virilha começaram a aparecer, tanto quanto nas pernas.

Aquela pelarada aumentava-me o calor, tinha vontade de arrancar tudo de uma vez. Meu pai também sentia o mesmo calor e arrancava todos os seus pêlos, ele tinha muito mais do que eu. Em sua viagem às tribos indígenas, aprendera a como tirar os seus pêlos e ficar um bom tempo sem crescer. Nunca vi uma barba crescendo em seu rosto, muito menos em seu peito.

Quando estava para completar treze anos, uma dor imensa abaixo do abdômen começou a surgir. Uma cólica inexplicável surgiu me fazendo ficar de cama o dia inteiro. Meu pai, pensando ser um desconforto estomacal, me fazia chás para aliviar a dor, no entanto, nada resolvia. Senti algo sair de mim. Quando fui tomar banho, uma onda de desespero me passou quando vi o sangue saindo da minha vagina e escorrer pelas minhas pernas misturando-se com a água. Coloquei a mão dentro para verificar, me desesperei mais ainda.

Lembro que saí correndo daquele jeito para ver meu pai. Eu chorava desesperada com a mão e as pernas sujas de sangue. Ele estava na parte do seu laboratório improvisado, que fizera mais tarde, ao olhar para mim naquele estado, não entrou em desespero ou arregalou os olhos assustados.

Meu querido pai, me olhou ternamente e envergou o canto da boca em um raro sorriso tímido. Ele cobriu meu corpo nu com um pano do laboratório, limpou a minha mão suja de sangue e enxugou as minhas lágrimas com as suas mãos. Carregou-me nos braços enrolada naquele pano e me levou para o banho.

Ficou quieto enquanto me limpava, me dera um pedaço grosso de pano para amarrar e estancar o sangramento. Depois, sentou-se comigo no sofá da sala e abriu um livro de biologia. Mostrou o que estava explicando com o meu corpo e que aquele momento era totalmente normal, ele disse-me também que ficara impressionado por eu não saber aquilo já que o tempo em que passara na casa da minha tia-avó era na mesma época em que aconteceu isso com as gêmeas.

Minha tia-avó não me contou ou sequer me mostrou algo do tipo. Eu não sabia o que se passava, ela escondia tudo. O assunto que eu não poderia saber para manter a minha inocência infantil, se referia ao meu corpo e o que acontecia com ele.

No parecer, mesmo com meu pai sendo mais aberto, acho que ele também não queria que eu soubesse tão cedo pois aquele livro eu nunca tinha encontrado ali na biblioteca.

No entanto, a grande mudança que me aconteceu foi quando saímos da ilha. Vi uma população inteira, o contato com outros que não era da minha família, a falta do mato, as saudades da minha querida ilha que troquei por um apartamento no centro da cidade.

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