Entre Batimentos e Silêncios
O vento da manhã corria morno pelos corredores de pedra do casarão. A brisa trazia o cheiro doce-amargo das laranjeiras em flor, misturado ao aroma do pão fresco que Clara retirava do forno da cozinha antiga.
Ao longe, o relincho de um cavalo cortava o ar, seguido pelo tilintar da tranca do estábulo.
Era o som que anunciava para quem quisesse escutar que um novo dia pedia coragem.
Artur entrou descalço, ainda passando os dedos entre os fios de cabelo úmido da ducha. Sentiu o piso frio sob a planta dos pés uma lembrança tátil que o ancorava no presente.
Passou pela sala de estar e, ao cruzar o batente, deteve-se:
Josué estava ali, sentado no sofá de linho bege, com os cotovelos apoiados nos joelhos. Observava o nada, mas o dedo indicador da mão direita batia no joelho num compasso hesitante, irregular.
— Pai? Chamou Artur, suavizando a voz.
— Dormiu bem?
Josué o encarou. Os olhos, outrora firmes como rochas, pareciam agora dois lagos