Entre Farpas e Distâncias

A noite caía lentamente sobre a fazenda, tingindo o céu de tons alaranjados e violetas, como se o universo tivesse resolvido pintar a dor de Lara em cores suaves. Ela estava sentada no alpendre, observando Gabriel adormecer no sofá com o caderno de desenhos ainda aberto sobre o colo. Pequenos traços representavam a casa, os animais, e agora, um novo rosto o de Josué.

Havia algo profundamente comovente na maneira como Gabriel se afeiçoara ao pai de Artur. Josué, em silêncio e com gestos contidos, parecia ter encontrado no neto não biológico um pedaço de redenção.

Seus olhos cansados, cheios de lembranças que preferiam ser esquecidas, suavizavam-se diante do sorriso de Gabriel. E Lara? Ela sentia seu coração dividir-se entre gratidão e medo.

Medo do que estava por vir. Medo da verdade, do fracasso.

Artur estava ausente novamente. Quarta noite seguida. E, daquela vez, nem se dera ao trabalho de inventar desculpas.

Saíra pela manhã com um aceno breve, ignoran