Rachaduras no Espelho
A noite caía com um frio úmido sobre a fazenda, e o silêncio parecia pesar mais do que o normal. Lara passava um pano úmido sobre a madeira do parapeito da varanda, os olhos perdidos no pasto adormecido.
A escuridão engolia o horizonte, e apenas o som dos grilos preenchia os espaços entre suas respirações. Artur ainda não havia voltado.
Ela sabia onde ele estava.
Sabia o cheiro de bebida que impregnava suas roupas. Sabia dos risos vazios das mulheres que ele mantinha por perto como escudos para fugir da própria dor.
Sabia, sobretudo, que o homem por quem acreditara ter sido salva, agora se dissolvia em sombras.
A porta rangeu atrás dela. Josué entrou devagar, vestindo um robe escuro e pantufas. Tinha os olhos inchados, mas não da bebida de inquietação.
— Ele ainda está fora? Perguntou.
Lara assentiu, forçando um sorriso contido.
— Deve estar resolvendo algo na cidade, negociações, talvez.
Josué cruzou os braços, apoiando-se no batente.
— Você sempre f