Cenas de Mentiras
O entardecer tingia o céu com tons dourados e rosados. Lara regava as plantas do jardim com movimentos mecânicos, os olhos distantes, a mente ausente.
A casa parecia grande demais, fria demais, sem a presença constante de Artur. Cada móvel, cada porta rangendo, parecia ecoar lembranças do que poderia ter sido.
Gabriel brincava com seus carrinhos, cantando baixo, feliz por saber que o Artur viria jantar. Era raro, mas Artur havia prometido.
E ele cumpriu.
Chegou com roupas alinhadas, o sorriso treinado, o olhar brilhoso demais. Lara soube na hora:
Ele estava embriagado. Mas disfarçava bem. Josué estava lá também, contando histórias antigas, rindo alto com Gabriel no colo. A alegria era verdadeira. O cenário, falso.
Na cozinha, Lara servia o jantar com mãos trêmulas. Quando Artur se aproximou, ela sussurrou:
— Você está cheirando a perfume barato e uísque.
Ele sorriu, sem culpa:
— E você está linda fingindo que acredita nesse teatro.
— Então vamos continuar fingindo.