Retorno ao Abismo
A madrugada avançava e o som grave da música eletrônica ecoava dentro da boate, vibrando no chão como se o concreto pulsasse.
Artur Montenegro girava o copo de uísque entre os dedos, olhando para a pista lotada de corpos que se chocavam em movimentos desordenados. Os olhos dele, turvos e vazios, buscavam nas luzes coloridas e nas mulheres ao redor alguma distração que preenchesse o buraco que crescia dentro de si.
— A conta tá paga, Montenegro. Disse o gerente, com um sorriso nervoso. Sabia quem ele era, o sobrenome falava mais alto que os deslizes.
Artur acenou com a cabeça e se levantou, cambaleando levemente. Ao sair pela porta lateral, o ar fresco da noite o atingiu como um tapa.
O cheiro de chuva pairava no ar, misturado com o asfalto molhado e o perfume doce que ainda grudava em sua camisa, embrança da última acompanhante que o deixara há poucos minutos.
A rua estava vazia. Ele acendeu um cigarro e seguiu andando sem rumo, lembrando-se da conversa com R