A Voz que Acolhe
A manhã chegou sem sol. O céu ainda carregava o cinza da tempestade da noite anterior, e a fazenda parecia respirar com dificuldade, como se o mundo estivesse tentando se reorganizar depois do caos.
Gabriel acordou cedo, ainda assustado. Desde a noite passada, quando os trovões explodiram como canhões no céu e o pai gritava na sala, ele não pronunciava uma palavra. Não quis tomar café, recusou o leite quente, empurrou o pão para longe.
Lara observava cada movimento do filho com uma angústia que não conseguia mais disfarçar. Tentou cantar a música de sempre, a que costumava acalmá-lo, mas ele tapou os ouvidos e se encolheu no canto da varanda, com as mãos espalmadas contra a cabeça.
— Gabriel, meu amor mamãe tá aqui. Sussurrou, ajoelhando-se perto dele.
Mas o menino balançava o corpo para frente e para trás, murmurando baixinho, cada vez mais agitado.
Ela estendeu os braços, mas ele a empurrou com força, os olhos cheios de pânico.
— Está tudo bem, está tudo bem