Mundo de ficçãoIniciar sessãoMarcel
Observei enquanto a petit dormia tranquilamente no sofá. O jantar estava pronto mas fiquei com pena de acordá-la. Fiz minha refeição e voltei para a sala, mas antes preparei um prato e deixei separado para ela.
Ela começou a resmungar alguma coisa enquanto dormia, mas não parecia ser um pesadelo, sua expressão não era de pavor ou tristeza.
Voltei meus olhos para o celular, estava resolvendo algumas coisas e meu trato com o capo Italiano estava quase cem por cento, espero que futuramente tenhamos uma aliança mais forte e certeira, por enquanto vamos permanecer assim, com alguns acordos básicos que possam alavancar meus negócios.
Não posso esquecer do Capo americano também, ele seria um ótimo aliado, mas é um velho muito difícil de se lidar. Talvez quando ele for substituído as coisas melhorem.
Pesquisei alguns professores particulares da máfia e também escolas famosas em Paris responsáveis por formações de músicos, dançarinos e também uma escola de ensino.
Safira sabe apenas o básico e tenho medo que ela não se adapte com os adolescentes da idade dela, ainda mais pelo fato dela estar extremamente atrasada.
_ Hum..
Ela se mexeu e sentou.
_ Dormiu pouco.
Falei enquanto observava o furo na meia colorida dela. Acabei rindo com a cena. Ela viu porque estava rindo e cobriu os pés.
_ Não precisa ter vergonha.
Falei tentando confortá-la.
_ Eu sei, não é culpa minha, mas sei lá..
Disse ela meio sem jeito.
_ Desculpe, eu não deveria..
_ Tudo bem, sabe, não preciso de muito, só algumas peças de roupas já me deixariam muito feliz. A maioria das minhas roupas são remendadas. Não me importo com luxo, só preciso do básico.
Disse ela com um sorriso meigo. Pedi a um soldado que esquentasse a comida dela e trouxesse.
_ Vou fazer o possível para suprir tudo o que você precisa Safira.
_ Ahm.. sabe, tem uma coisa que eu queria saber.
_ Pergunte.
Espero que não seja nada relacionado ao meu passado, realmente é algo que eu não desejo conversar agora.
_ Sobre a minha mãe.
Disse ela. Eu olhei em seus olhos e ela devolveu o olhar com simplicidade.
_ O que seu pai falou sobre ela ?
_ Nada. Ele sempre dizia que ela morreu cedo, ou que ele não me devia satisfação.
_ E por que você deseja saber ? Tem uma probabilidade grande em ela não estar viva.
Falei as palavras de forma leve mesmo com elas tendo um grande peso.
_ Tudo bem, pelo menos eu poderei me sentir triste com a morte dela, e não ficar com essa sensação de abandono.
_ Sinto muito por você não ter tido um pai e uma mãe..
_ Tudo bem, acontece.
Disse ela com um sorriso doce nos lábios. O soldado chegou com o prato e ela começou a comer.
_ Espero conseguir ser uma boa pessoa para você Safira, quem sabe o pai que nunca teve.
Falei com ternura, mas ela me lançou um olhar indescritível.
_ Não preciso de um pai. Eu já tive um e não quero outro.
Disse ela seca. Safira simplesmente fala o que vem na cabeça. Raro pra quem passou por coisas como ela passou.
_ Ah é? Então o que eu serei pra você?
Perguntei rindo. É estranho conversar com alguém que não tenha medo por causa do meu título.
_ Um padrinho, amigo, qualquer coisa, menos família. Minha família não existe mais, a não ser que minha mãe esteja viva.
Disse ela. Fiquei em silêncio, a linha de raciocínio dela é perfeitamente entendível.
Ela levantou com o prato nas mãos e levou pra cozinha. Voltei a resolver alguns assuntos. Caminhei para o escritório enquanto falava ao telefone e quando voltei pra sala ela não estava.
_ Senhor, ela está lá fora.
Disse um dos soldados. Franzi minha testa, já é tarde, o que ela quer na rua ? Ele me apontou para os fundos e caminhei até lá.
De longe comecei a escutar um barulho de chuva. Como a casa é enorme e de dois andares quando chove não consigo ouvir muitos barulhos externos.
Parei na varanda, Safira estava no gramado com suas meias coloridas e seu pijama velho e surrado encharcados. A chuva estava forte mas ela parecia não se incomodar.
_ Safira?
Ela estava de costas pra mim, parecia estar em outro mundo. Ela virou o rosto de lado e eu pude ver um sorriso.
_ Eu nunca tinha tomado banho de chuva..
Disse ela com um sorriso na voz. Acabei sorrindo também. Ela fechou os olhos e virou o rosto pra cima.
Não posso dizer que fico alegre com a chuva, pois já tomei muitos banhos de chuva na minha vida, não por opção.
Ela abriu os braços aproveitando cada gota. Depois de um tempo ela virou e caminhou em minha direção.
_ Vem, é muito bom!
Disse ela enquanto pegava na minha mão, me puxando para a chuva. Fiz uma careta mas acabei cedendo.
_ Espere aí.
Falei enquanto caminhava até uma área da piscina. Peguei uma bola de futebol e chutei para ela que pegou. Safira sorriu. Ficamos quase uma hora jogando futebol, chutando a bola pra lá e pra cá, dando muitas risadas.
_ Hora de entrar petit, seus lábios estão ficando roxos.
Falei meio preocupado. Ela sorriu e correu pra dentro. Entramos pingando água.
_ Você tem roupa ?
Perguntei quando ela parou em frente ao seu quarto.
_ hum.. acho que não..
Disse ela pensativa. Ela entrou e fechou a porta. Entrei no meu quarto e vasculhei meu roupeiro. Peguei um conjunto que acho que vá servir nela. Fiquei somente de calças deixando meu peito nu.
_ Safira?
Entrei no quarto dela sem bater. Preciso me policiar com isso, ela é uma menina..
Ela não respondeu então caminhei e deixei as roupas em cima da cama, porém um barulho alto no banheiro me assustou.
_ SAFIRA?
Gritei o nome dela mas não tive resposta. Então entrei no banheiro.
_ Ai..
Disse ela enquanto levantava com a mão na testa. Fechei meus olhos para não ve-la nua.
_ Droga.. desculpa, eu ouvi um barulho..
Falei com as minhas próprias mãos nos olhos.
_ T-tudo bem, eu cai..
Disse ela rindo. Virei minhas costas e corri pra fora do quarto. Extremamente envergonhado.
Tomei meu banho mas a preocupação com a menina estava falando mais alto.
Dessa vez bati na porta antes de entrar e só abri quando ela autorizou. Safira estava escovando os cabelos em frente a um espelho e me deu um sorriso doce.
_ Desculpe ter invadido sua privacidade..
_ Tudo bem, acho que vou ficar com um *galo enorme!
Me aproximei dela e ela me olhou, deu pra ver o local da batida mas não tive tempo de perguntar, ela tocou a mão no meu peito e franziu a testa.
_ Como você arrumou essa cicatriz?
Perguntou ela enquanto deslizava os dedos no local.
_ Vou pegar uma bolsa de gelo pra você.
Falei e logo em seguida saí do quarto. Sinceramente me senti extremamente desconfortável com o toque dela,mas por que ? Bom, talvez seja porque ela ainda é uma criança, e isso me incomoda muito.







