Capítulo 8

Marcel

Observei enquanto a petit dormia tranquilamente no sofá. O jantar estava pronto mas fiquei com pena de acordá-la. Fiz minha refeição e voltei para a sala, mas antes preparei um prato e deixei separado para ela.

Ela começou a resmungar alguma coisa enquanto dormia, mas não parecia ser um pesadelo, sua expressão não era de pavor ou tristeza.

Voltei meus olhos para o celular, estava resolvendo algumas coisas e meu trato com o capo Italiano estava quase cem por cento, espero que futuramente tenhamos uma aliança mais forte e certeira, por enquanto vamos permanecer assim, com alguns acordos básicos que possam alavancar meus negócios.

Não posso esquecer do Capo americano também, ele seria um ótimo aliado, mas é um velho muito difícil de se lidar. Talvez quando ele for substituído as coisas melhorem.

Pesquisei alguns professores particulares da máfia e também escolas famosas em Paris responsáveis por formações de músicos, dançarinos e também uma escola de ensino.

Safira sabe apenas o básico e tenho medo que ela não se adapte com os adolescentes da idade dela, ainda mais pelo fato dela estar extremamente atrasada.

_ Hum..

Ela se mexeu e sentou.

_ Dormiu pouco.

Falei enquanto observava o furo na meia colorida dela. Acabei rindo com a cena. Ela viu porque estava rindo e cobriu os pés.

_ Não precisa ter vergonha.

Falei tentando confortá-la.

_ Eu sei, não é culpa minha, mas sei lá..

Disse ela meio sem jeito.

_ Desculpe, eu não deveria..

_ Tudo bem, sabe, não preciso de muito, só algumas peças de roupas já me deixariam muito feliz. A maioria das minhas roupas são remendadas. Não me importo com luxo, só preciso do básico.

Disse ela com um sorriso meigo. Pedi a um soldado que esquentasse a comida dela e trouxesse.

_ Vou fazer o possível para suprir tudo o que você precisa Safira.

_ Ahm.. sabe, tem uma coisa que eu queria saber.

_ Pergunte.

Espero que não seja nada relacionado ao meu passado, realmente é algo que eu não desejo conversar agora.

_ Sobre a minha mãe.

Disse ela. Eu olhei em seus olhos e ela devolveu o olhar com simplicidade.

_ O que seu pai falou sobre ela ?

_ Nada. Ele sempre dizia que ela morreu cedo, ou que ele não me devia satisfação.

_ E por que você deseja saber ? Tem uma probabilidade grande em ela não estar viva.

Falei as palavras de forma leve mesmo com elas tendo um grande peso.

_ Tudo bem, pelo menos eu poderei me sentir triste com a morte dela, e não ficar com essa sensação de abandono.

_ Sinto muito por você não ter tido um pai e uma mãe..

_ Tudo bem, acontece.

Disse ela com um sorriso doce nos lábios. O soldado chegou com o prato e ela começou a comer.

_ Espero conseguir ser uma boa pessoa para você Safira, quem sabe o pai que nunca teve.

Falei com ternura, mas ela me lançou um olhar indescritível.

_ Não preciso de um pai. Eu já tive um e não quero outro.

Disse ela seca. Safira simplesmente fala o que vem na cabeça. Raro pra quem passou por coisas como ela passou.

_ Ah é? Então o que eu serei pra você?

Perguntei rindo. É estranho conversar com alguém que não tenha medo por causa do meu título.

_ Um padrinho, amigo, qualquer coisa, menos família. Minha família não existe mais, a não ser que minha mãe esteja viva.

Disse ela. Fiquei em silêncio, a linha de raciocínio dela é perfeitamente entendível.

Ela levantou com o prato nas mãos e levou pra cozinha. Voltei a resolver alguns assuntos. Caminhei para o escritório enquanto falava ao telefone e quando voltei pra sala ela não estava.

_ Senhor, ela está lá fora.

Disse um dos soldados. Franzi minha testa, já é tarde, o que ela quer na rua ? Ele me apontou para os fundos e caminhei até lá.

De longe comecei a escutar um barulho de chuva. Como a casa é enorme e de dois andares quando chove não consigo ouvir muitos barulhos externos.

Parei na varanda, Safira estava no gramado com suas meias coloridas e seu pijama velho e surrado encharcados. A chuva estava forte mas ela parecia não se incomodar.

_ Safira?

Ela estava de costas pra mim, parecia estar em outro mundo. Ela virou o rosto de lado e eu pude ver um sorriso.

_ Eu nunca tinha tomado banho de chuva..

Disse ela com um sorriso na voz. Acabei sorrindo também. Ela fechou os olhos e virou o rosto pra cima.

Não posso dizer que fico alegre com a chuva, pois já tomei muitos banhos de chuva na minha vida, não por opção.

Ela abriu os braços aproveitando cada gota. Depois de um tempo ela virou e caminhou em minha direção.

_ Vem, é muito bom!

Disse ela enquanto pegava na minha mão, me puxando para a chuva. Fiz uma careta mas acabei cedendo.

_ Espere aí.

Falei enquanto caminhava até uma área da piscina. Peguei uma bola de futebol e chutei para ela que pegou. Safira sorriu. Ficamos quase uma hora jogando futebol, chutando a bola pra lá e pra cá, dando muitas risadas.

_ Hora de entrar petit, seus lábios estão ficando roxos.

Falei meio preocupado. Ela sorriu e correu pra dentro. Entramos pingando água.

_ Você tem roupa ?

Perguntei quando ela parou em frente ao seu quarto.

_ hum.. acho que não..

Disse ela pensativa. Ela entrou e fechou a porta. Entrei no meu quarto e vasculhei meu roupeiro. Peguei um conjunto que acho que vá servir nela. Fiquei somente de calças deixando meu peito nu.

_ Safira?

Entrei no quarto dela sem bater. Preciso me policiar com isso, ela é uma menina..

Ela não respondeu então caminhei e deixei as roupas em cima da cama, porém um barulho alto no banheiro me assustou.

_ SAFIRA?

Gritei o nome dela mas não tive resposta. Então entrei no banheiro.

_ Ai..

Disse ela enquanto levantava com a mão na testa. Fechei meus olhos para não ve-la nua.

_ Droga.. desculpa, eu ouvi um barulho..

Falei com as minhas próprias mãos nos olhos.

_ T-tudo bem, eu cai..

Disse ela rindo. Virei minhas costas e corri pra fora do quarto. Extremamente envergonhado.

Tomei meu banho mas a preocupação com a menina estava falando mais alto.

Dessa vez bati na porta antes de entrar e só abri quando ela autorizou. Safira estava escovando os cabelos em frente a um espelho e me deu um sorriso doce.

_ Desculpe ter invadido sua privacidade..

_ Tudo bem, acho que vou ficar com um *galo enorme!

Me aproximei dela e ela me olhou, deu pra ver o local da batida mas não tive tempo de perguntar, ela tocou a mão no meu peito e franziu a testa.

_ Como você arrumou essa cicatriz?

Perguntou ela enquanto deslizava os dedos no local.

_ Vou pegar uma bolsa de gelo pra você.

Falei e logo em seguida saí do quarto. Sinceramente me senti extremamente desconfortável com o toque dela,mas por que ? Bom, talvez seja porque ela ainda é uma criança, e isso me incomoda muito.

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