Eu estava sentado na sala do delegado com as mãos algemadas, o metal frio mordendo minha pele. O barulho das cadeiras sendo arrastadas cortava o silêncio como lâmina. Aquele lugar já tinha me recebido antes, mas agora era diferente. O cheiro de cigarro velho misturado com mofo e suor não me incomodava tanto quanto o peso nos meus ombros. Eu sabia que dessa vez não ia ter advogado salvador, não ia ter jeitinho. Eu estava fodido.
O delegado entrou. Alto, grisalho, olhos de quem já viu mais morte do que novela. Sentou à minha frente com um arquivo pesado. Me olhou como se eu fosse uma praga que ele queria esmagar com as próprias mãos.
— Playboy… já te pegaram antes. Mas agora é diferente. — Ele abriu o arquivo como quem abre uma cova. — Você caiu bonito. E vai para Bangu.
Não respondi. Só olhei de volta. O jogo ali era de quem piscava primeiro.
— Tem nome no morro, tem respeito, tem sangue nas mãos. Mas aqui fora… você não é nada. — Ele virou uma página devagar. — Sabe o que vai acon