Senti meu celular vibrar no bolso, abafado pela batida suja e pulsante do funk que sacudia o chão. Olhei a tela e soube de imediato: minha mãe. O nome dela ali, piscando, era como um aviso. A merda já tinha estourado.
A raiva dela atravessava o telefone, mesmo antes de atender. Me afastei da multidão, atravessando corpos suados e fumaça densa, até encontrar um canto mais escuro, menos poluído de gritos e risadas.
Atendi com a garganta apertada.
— Isabela, pelo amor de Deus, o que você fez? — a voz dela explodiu sem cerimônia. — Você perdeu completamente o juízo? Um bandido, Isabela?! Um traficante?
Fechei os olhos. Aquilo doía, mesmo quando eu já esperava.
— Mãe, escuta... — tentei.
— Escutar o quê? — ela cuspiu as palavras. — Que você resolveu jogar sua vida fora? Que se entregou para um criminoso como se isso fosse normal?
Eu apertei o celular contra o ouvido, tentando bloquear o som da música, mas era inútil. O mundo ao meu redor era um caos, por dentro, pior ainda. A raiva