Ela hesitou. Respirou devagar, como quem tenta conter uma onda que se forma por dentro, e desviou o olhar para um pequeno quadro pendurado na parede. Era discreto, com moldura de madeira envelhecida, quase apagada pelo tempo.
Dentro, desenhos de rosas vermelhas se entrelaçavam em galhos finos e escuros, como se tentassem florescer apesar dos espinhos. Algumas pétalas pareciam desbotadas, como se o tempo tivesse roubado parte da cor — ou como se carregassem lembranças que ela preferia esquecer.
Por um instante, ela se perdeu ali. Seus olhos se fixaram no quadro como se ele guardasse segredos que só ela conhecia. Talvez lembranças de um lar que nunca foi lar. Talvez de uma infância onde o afeto era silencioso e condicional. O silêncio no cômodo se tornou denso, preenchido por tudo o que não era dito.
Logo voltou o olhar para Vitor, lentamente, como quem retorna de um lugar distante. Havia uma sombra de vulnerabilidade em seu rosto — uma mistura de cansaço, dor contida e uma força que nã