Era um sábado de sol. Estávamos no parque onde tínhamos ido poucas vezes, mas que ele disse ter gostado “porque o vento aqui parece mais leve”. Caminhávamos de mãos dadas, nossos passos ritmados e silenciosos, como se o mundo inteiro estivesse em pausa.
Matheus parecia distraído, mas não do jeito ansioso de antes. Era como se estivesse lutando internamente com algo que queria muito dizer.
— Tá tudo bem? — perguntei, encostando no ombro dele com leveza.
Ele assentiu, mas não respondeu de imediato. Parou de andar. Eu também parei.
— Eu fico pensando em como as coisas mudaram tão rápido — ele começou, olhando para frente, como se as palavras só saíssem se ele não encarasse diretamente. — Há alguns meses, eu mal conseguia me olhar no espelho. E agora, tô aqui, do seu lado, montando móveis, escolhendo fraldas, fazendo planos...
Ele riu de si mesmo, nervoso.
— E ainda assim, às vezes eu acordo no meio da noite achando que tudo isso é um sonho. Ou pior: que eu vou estragar tudo. Porque... eu