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O quarto estava mergulhado em penumbra, apenas o brilho prateado da lua atravessava as cortinas e desenhava linhas sobre nossos corpos. O ar estava denso, carregado de calor e desejo. Lívia se movia sobre mim com firmeza, como se cada gesto fosse uma dança selvagem, cada beijo uma promessa de eternidade.
Eu a segurava pelos quadris, sentindo o ritmo dela me dominar. Sua pele quente contra a minha, o roçar dos seus cabelos úmidos sobre meu rosto, o perfume doce misturado ao suor tudo me deixava embriagado. . Ela mordia meus lábios, provocando-me, e eu respondia com força, como se quisesse gravar em sua pele a certeza de que era minha. O coração batia descompassado, não apenas pelo desejo, mas pela sensação de que aquele momento era mais do que físico: era um pacto silencioso, uma união que desafiava qualquer tradição. — Você é minha perdição — murmurei contra sua boca, e ela sorriu, triunfante, como uma deusa que sabe o poder que exerce. O calor da pele dela misturava-se ao meu, e por um instante a vida parecia simples: apenas amor e desejo, sem máfia, sem obrigações, sem o peso de um sobrenome. Fizemos amor como se fosse a última vez, como se o tempo estivesse prestes a nos roubar. Mas o destino não perdoa homens como eu. O celular vibrou na mesa de cabeceira, um som seco que rasgou o instante. Lívia arqueou o corpo, surpresa, mas não parou. Eu, ofegante, estendi a mão e vi o nome na tela: Richard. Meu pai. O patriarca. O contraste foi cruel. Do êxtase ao gelo. Do prazer ao peso da tradição. Atendi, ainda com o coração acelerado. A voz dele atravessou a madrugada como uma sentença: — Salvatore, já tens trinta e seis anos. Está na hora de assumir teu posto. Mas minha condição é clara: casar. Não com quem desejas, mas com quem eu escolher. Se não obedeceres, não serás meu herdeiro. O choque foi brutal. O corpo de Lívia ainda sobre o meu, o perfume dela queimando minha pele, e aquelas palavras me atingindo como um tiro. — Não pode me impor isso, pai — rosnei, tentando conter a fúria. — Posso. E já escolhi a noiva. Se não aceitares, Alex herdará o trono. Olhei para Lívia. Seus olhos faiscavam, mas agora não de paixão, e sim de medo. O anel em sua mão brilhava como um lembrete cruel do futuro que eu queria, mas que se desfazia diante de mim. Richard encerrou a chamada sem esperar resposta. O silêncio que ficou era mais pesado que qualquer palavra. Lívia se afastou, os olhos marejados. — Então é isso? Ou eu, ou o poder? Engoli seco, incapaz de responder. O peso da escolha me esmagava. Na manhã seguinte, o salão da casa da família estava carregado de tensão. Richard ocupava a cabeceira como um rei cruel, e eu, seu primogênito, estava prestes a ser coroado ou condenado. Alex bufava, sempre pronto para tomar o que era meu, e Sofia, minha irmã caçula, observava em silêncio, como se pressentisse a tempestade que se aproximava. — A Cosa Nostra precisa de um chefe jovem — anunciou meu pai, com a voz grave que fazia o ar pesar. Como todos sabem, Salvatore é meu herdeiro. Mas minha condição é simples: casar. Meu coração disparou. Eu já via o futuro diante de mim: Lívia ao meu lado, oficializada como minha esposa. Mas Richard estreitou os olhos, frio como sempre. — Não está pensando naquela bailarina vulgar, está? Meu peito queimava. — Como você sabe? — Eu mandei te seguir. Escolha, Salvatore. O que vale mais? Sua bailarina ou o posto de comando da máfia? Se escolher ela, será deserdado. O mundo girava. Meus planos, meus sonhos, tudo se despedaçava diante de mim. — Caso não queira seu cargo, seu irmão Alex vai adorar. O silêncio se prolongou. Eu sabia que Alex sorria por dentro, esperando minha queda. Respirei fundo, e pela primeira vez, baixei a cabeça diante de Richard. — Eu aceito, pai. Casarei com quem escolher. As palavras saíram como veneno, queimando minha garganta. Richard sorriu, satisfeito, como um carrasco que vê sua vítima ajoelhar. — Assim deve ser. A lealdade à família está acima de qualquer paixão. De volta ao apartamento, encontrei Lívia sentada na cama, ainda com o anel no dedo, mas com os olhos cheios de perguntas. — Ele sabe de mim, não é? — murmurou. Assenti, incapaz de esconder a verdade. — Sabe. E me deu um ultimato. Ela respirou fundo, tentando conter as lágrimas. — Então você precisa escolher. Aproximei-me, segurei seu rosto entre minhas mãos. — Eu já escolhi. Os olhos dela se arregalaram, buscando esperança. Mas minha voz foi um punhal: — Vou casar com quem meu pai determinar. O silêncio que se seguiu foi mortal. Lívia afastou minhas mãos, como se queimassem. — Então é isso? sussurrou. — Você vai me deixar? Não consegui responder. O peso da decisão me esmagava, mas eu sabia que não havia volta. — Você pode ter o trono, Salvatore — disse, com a voz quebrada. — Mas perdeu a única coisa que realmente era sua. Naquela noite, sozinho em meu escritório, encarei o copo de whisky e o vazio que me consumia. Eu havia escolhido o poder, mas o gosto era amargo. O trono estava ao alcance das minhas mãos, mas custava o preço da minha alma. O relógio marcava meia-noite quando decidi. Peguei o celular e disquei o número do patriarca. — Pai — disse, com a voz firme. — Estou pronto. Do outro lado, silêncio. Apenas o som da respiração pesada dele. — Então prepare-se, Salvatore. O casamento será anunciado em breve. Richard desligou, deixando-me sozinho com minha própria ruína. Olhei para o quarto ao lado, onde Lívia dormia em lágrimas, e percebi que a guerra já havia começado. Não contra Alex, não contra Richard, mas contra mim mesmo. E naquele instante, percebi que o verdadeiro inimigo era a escolha errada e irreversível que eu havia feito.”






