Mundo ficciónIniciar sesiónDesde criança eu sabia que meu futuro não me pertencia. Filha de mafiosos, fui criada para ser moeda de troca, uma peça em alianças que fortalecem famílias e negócios. Na máfia, não há espaço para sonhos: há apenas deveres.
Naquela tarde, meu pai me chamou com solenidade. Sentei diante dele e de minha mãe, que carregava sempre um semblante contido. O silêncio pesava até que sua voz cortou o ar: — Filha, você já é uma mocinha. Chegou a hora de se casar. Baixei os olhos para meus pés. O coração acelerava, mas minha boca não ousava se abrir. — Você irá se casar com Salvatore Mancini, futuro dom da Cosa Nostra. Minha mãe me olhou com compaixão. Eu conhecia a fama de Salvatore: mulherengo, sanguinário, temido. — Leônidas, você acha mesmo que ele é bom para nossa filha? — arriscou ela. — Não fale besteira, Rosana. Ele é filho do líder Master da Cosa Nostra. O pai vai se aposentar e Salvatore ocupará o cargo. Que marido melhor poderíamos arranjar? — respondeu meu pai, firme, sem hesitar. Minha mãe se calou. Meu pai se aproximou de mim, imponente. — Eles virão à noite. Suba e se arrume. Quero você impecável. — Está bem, pai. — Aja como te ensinamos. Seja gentil e educada. — Tudo bem, pai — murmurei, engolindo seco. Subi as escadas lentamente, cada passo ecoando como um presságio. No quarto, tomei um banho demorado, tentando lavar o peso que me sufocava. Ao sair, encontrei minha mãe segurando um vestido azul-turquesa. — Este vestido vai ficar perfeito em você, filha. O tecido abraçou minha cintura, a saia plissada caiu com elegância. Passei apenas um gloss e uma leve maquiagem. Deixei os cabelos soltos. Minha mãe me olhou com tristeza, lágrimas surgindo nos olhos. — Está tão linda... — disse, antes que a voz se quebrasse. Abracei-a, tentando confortá-la, mas também a mim mesma. — Está tudo bem, mãe. Uma batida na porta nos interrompeu. — Os convidados chegaram. O senhor Leônidas pediu para vocês descerem — anunciou a empregada. Minha mãe secou as lágrimas e forçou um sorriso. — Vou descer primeiro, filha. Não demore. Fiquei sozinha diante do espelho. Por fora, parecia forte. Por dentro, era apenas fragilidade. Respirei fundo, reuni coragem e desci as escadas. As vozes masculinas já ecoavam pelo salão. — Boa noite... — disse, tentando soar firme, mesmo que minha alma tremesse. Os três homens me fitaram de cima a baixo, como se eu fosse um animal exposto em julgamento. O peso daqueles olhares me atravessava, deixando-me pequena diante deles. Meu pai ergueu a mão em minha direção, orgulhoso: — Senhores, esta é minha filha, Helena. Helena, este é Richard e Salvatore, o seu noivo. Quando meus olhos se encontraram com os de Salvatore, encolhi. Havia frieza ali, um olhar que me despia e me media, julgador, como se já conhecesse cada fraqueza minha. Cumprimentei richard com polidez. Já Salvatore segurou minhas mãos entre as dele e as levou aos lábios, demoradamente. O gesto, carregado de posse, fez meu rosto corar. Sentei-me ao lado de minha mãe, enquanto meu pai conversava animadamente com os homens sobre negócios. Logo fomos avisados de que o jantar estava servido. À mesa, sentei-me ao lado de Salvatore e, durante todo o tempo, evitei encarar seus olhos. Depois do jantar, meu pai e Richard permaneceram no sofá, bebendo whisky. Mandaram que eu mostrasse Salvatore o jardim. Eu sabia: queriam que ficássemos a sós. Caminhei à frente dele, sentindo o coração bater descompassado. Sua presença era sufocante, sua aura imponente me dominava como uma sombra inevitável. No jardim, paramos diante de um banco de cimento e nos sentamos. O cheiro almíscar de sua pele invadiu minhas narinas. Arrisquei olhar de perto: ele era um homem de beleza perigosa. Rosto simétrico, mandíbula marcada, barba rala, uma cicatriz discreta na bochecha e cabelos compridos e revoltos . — Está gostando da vista? — perguntou, com deboche nos olhos negros. — Eu… — abaixei a cabeça, incapaz de sustentar o olhar. Ele segurou meu queixo, obrigando-me a encará-lo. — Minha noiva… tão bela. Não faz ideia do que lhe espera. Forcei um sorriso, lembrando das palavras do meu pai: seja gentil, seja educada. — O que me espera? — Logo você descobrirá… — murmurou, como se fosse promessa e ameaça ao mesmo tempo. Um arrepio percorreu meu corpo. Tentei me afastar, mas ele me agarrou com força, esmagando-me contra o peito e colando sua boca à minha. Virei o rosto, impedindo seus avanços. Desvencilhei-me e me levantei, pronta para correr. Mas ele também se ergueu, bloqueando minha passagem. — Calma, anjo. Não vou te machucar. — Me deixa ir… Ele estendeu o braço, firme. — Saímos juntos e voltaremos da mesma forma: como um casal. Não tive escolha. Engatei meu braço no dele. Sozinha, jamais conseguiria enfrentar aqueles dois metros de altura e a massa muscular que parecia um muro diante de mim. Voltamos ao salão. Meu pai e Richard nos observaram satisfeitos. — Formam um belo casal… — disse meu pai. Salvatore, lacônico, acrescentou: — Poderia ser um pouco mais velha, ainda é um bebê para mim Meu pai, desconcertado, respondeu: — Quando me casei com a mãe dela a mesma era da idade de Helena, nao tive problemas nenhum, foi uma excelente esposa. Apesar de Helena ter apenas dezenove anos, é muito ajuizada., esteve uma boa parte em um convento onde aprendeu bons modos e a se comportar como uma perfeita dama. você não encontrará uma esposa mais prendada que Helena . Salvatore me lançou um olhar debochado. — imagino que não mesmo. Então, diante de todos, pediu oficialmente minha mão a meu pai. O contrato estava firmado. Não havia como fugir. Eu me casaria com o odioso Salvatore Mancini. Assim que a cerimônia informal terminou, caminhei de volta ao meu quarto. Cada passo parecia mais pesado que o anterior, como se correntes invisíveis me arrastassem. Fechei a porta atrás de mim e, sem forças para manter a postura, me joguei sobre a cama chorando convulsivamente.






