O passado não enterrado...
Helen Ribeiro
Cheguei em casa com os passos cansados, sacudi o guarda-chuva ainda úmido e deixei a bolsa sobre o aparador da sala. O cheiro suave do café que eu havia feito mais cedo, ainda pairava no ar. Caminhei pela sala silenciosa, abri o armário da estante e tirei uma antiga caixa de madeira, já marcada pelo tempo. Ao me sentar no sofá e abri-la, espalhei um mar de lembranças sobre o meu colo: fotos amareladas, meus croquis antigos, pequenos fragmentos de um passado que eu acreditei ter enterrado. Meus dedos tremiam ao segurar uma foto minha antiga. Minha mente me transportou novamente para um dia chuvoso, décadas atrás, quando eu tinha apenas 23 anos, cheia de sonhos e inseguranças.
O barulho constante da chuva se misturava com o som das máquinas da lavanderia e do ateliê, onde eu trabalhava. O cheiro do sabão e amaciante impregnava o ambiente. Eu ajeitava algumas peças quando um carro preto e elegante parou diante da porta. O motor desligou e dele desceu um homem que imediatame