ISABELA SILVA
Como todos os dias, minha rotina era acordar cedo, preparar o café da manhã e me arrumar para mais um dia de trabalho na loja. A diferença era que eu estava trabalhando meio período, por causa do estágio na UBS para a conclusão do curso de técnico de primeiros-socorros. O senhor Odines foi um amor de pessoa ao me liberar para meio dia de serviço. — Pai, o café já está pronto! — avisei, enquanto organizava a cozinha. A mesa já estava posta, os pães, as frutas, a caixa de leite e a garrafa de café eram o desjejum de hoje. — Filha, por que você não me pediu para buscar o pão hoje? Eu já falei que você não precisa fazer tudo sozinha — meu pai reclamou, abraçando-me com carinho. — Eu não fui até a padaria, papai, o Luigi trouxe aqui, ele foi comprar para eles e me perguntou se eu queria. O senhor sabe que ele sempre faz isso — falei, enquanto engolia o café rapidamente. — Esse menino é sempre muito prestativo. Por que está comendo tão rápido? Assim você vai acabar se engasgando — me repreendeu. Ele estava sempre reclamando da minha pressa ultimamente. — Eu já estou atrasada, papai. — Você sabe que tem que comer mais, estou notando que de uns dias pra cá quase não come. — Eu estou comendo bem, mas eu prometo que vou comer mais devagar na próxima vez, tudo bem? — ele sorriu ao me ver sorrindo. Eu saí de casa logo depois de dar um beijo em meu pai. Trinta minutos depois de uma longa caminhada até o centro da cidade, cheguei à loja. Eu abri as portas do estabelecimento e comecei minha primeira tarefa do dia, limpar todos os balcões, depois organizar os mostruários e as prateleiras e por último contar o caixa. Eu estava sentada atrás do enorme balcão, quando entrou uma mulher muito bem vestida. Seu perfume, doce demais, encheu o ar do ambiente. — Bom dia, tudo bem? — cumprimentou a mulher, seu sorriso parecia bastante forçando, enquanto ela me avaliava de cima a baixo. — Bom dia! O que a senhora deseja? — perguntei, mas ela não respondeu por longos minutos, apenas continuava me olhando fixamente. — A senhora está bem? Precisa que eu chame alguém? — saí detrás do balcão e fui até a mulher, minha intenção era ajudá-la, mas quando me aproximei, ela se afastou. — Não! Eu não tenho nada — continuou encarando-me, agora parecia confusa. — Ótimo. Então, o que a senhora deseja? — sorri, enquanto voltava para o meu lugar. — Eu quero falar com você, Isabela! — parei imediatamente ao ouvir o meu nome. Virei-me para a mulher, agora a confusa era eu, essa mulher me conhecia de onde? — Você me conhece? — perguntei, tentando lembrar se já tinha visto a mulher antes. Ela olhou ao redor, sua expressão agora era algo mais parecido com desdém. — Parece que não, mas deveria, afinal eu sou sua mãe — falou com naturalidade, sem nenhuma reação, tinha até uma certa frieza no seu olhar. — Você é o quê ? — A resposta me acertou como um soco, tanto que me recusava a acreditar que tinha ouvido certo. Mas não era nenhuma confusão, ela realmente estava aqui. — Sim, Isabela, eu sou a Maryeva, sua mãe. Eu estou aqui porque preciso falar com você sobre algo importante — ela respondeu, enquanto eu apenas olhava fixamente para sua figura. Ela era jovem, com uma pele bem cuidada, roupas extremamente caras, jóias verdadeiras. Ela era com certeza uma mulher muito rica, tão rica que não aparentava ter a idade que tinha. Ela fugiu anos atrás, agora estava aqui, dizendo-se minha mãe? Não, eu não tinha mãe há anos. — Não! Isso não pode ser verdade, você não é minha mãe! — falei, após me acostumar com o choque da presença dela. — Sim, eu sou sim. Eu sou a sua mãe. — Não, você não é nada minha. Minha mãe morreu para mim anos atrás quando me abandonou, quando deixou a mim e o meu pai à própria sorte — expressei minha raiva. A mulher bufou, enquanto revirava os olhos mostrando impaciência. — Eu sou sua mãe, sim, Isabela, queira você ou não! Mas eu não estou aqui para discutir isso, mesmo porque não me interessa. Eu preciso que você faça algo por sua irmã — ela falou sem rodeios. A minha primeira reação diante das suas últimas palavras foi rir. Ela não podia estar falando sério. Não era possível que a mulher que tinha me abandonado anos atrás, estava aqui na minha frente anos depois e não veio para pedir meu perdão, mas sim me pedir que ajudasse uma irmã que eu sequer conhecia? Era uma piada sem a menor graça.