Capítulo 12

— Você está brincando comigo, certo? Você desaparece por anos e de repente volta, mas não para me pedir desculpas ou se explicar pelo abandono, mas veio pedir que eu faça algo por uma irmã que eu nunca vi?! O que você quer, que eu doe um rim ou algo do tipo? — Minha risada sarcástica reverberou entre as paredes. — Você é ridícula!

A mulher também riu, uma risada irônica, mas não parecia nem um pouco abalada com a minha reação.

— Bom, eu esperava que as coisas fossem mais fáceis, mas isso não será agradável. Se você você não quiser colaborar por bem, eu serei obrigada a tomar atitudes que eu não queria.

Isso só podia mesmo ser uma piada. Essa mulher estava louca, essa era a única explicação para tal atitude.

— Deixa eu ver se entendi, você, uma chocadeira sem o mínimo de afeto materno, vai me obrigar a doar partes do meu corpo para sua filha contra minha vontade? Quais métodos você vai usar? Você não tem limites, Maryeva. Eu não vou fazer o que você quer, não importa o que seja e essa é minha palavra final — virei-me e entrei atrás do balcão. — Se você não vai comprar nada, pode pegar seu caminho de volta.

Eu não acredito que algumas vezes no meu passado, eu senti falta dessa mulher.

Respirei fundo e engoli o bolo áspero que se formava na minha garganta, recusava-me a derramar uma lágrima sequer por causa dela.

Ao invés de ir embora, a mulher fixou seus olhos em mim novamente e voltou a falar:

— Sua irmã sofreu um grave acidente, ela está muito mal, está em coma — disse, pela primeira vez aparentava desesperada. A minha irmã era realmente a única que importava e ela não sentir nada ao deixar isso explícito me irritava profundamente.

— E o que eu tenho com isso? Eu nem conheço essa mulher, e nem mesmo conheço você — respondi, erguendo os ombros, também deixando claro que nada delas me importava.

Ela não gostou da minha resposta, seus olhos furiosos mostraram isso, mas ela continuou falando normalmente.

— Você é igual a sua irmã, só os olhos que não, claro! Seus olhos são azuis…

— E daí? No que isso importa? — a interrompi. — Como eu disse, eu não tenho nada com isso.

— Como eu disse, sua irmã sofreu um acidente e por essa razão não pode fazer as coisas que ela planejou, eu estou aqui para lhe fazer uma proposta… — ela não desistiu — Você viaja comigo para São Paulo e ocupa o lugar da sua irmã até ela melhorar — completou sua fala, deixando-me mais perplexa do que antes. Ela verbalizou o absurdo com muita calma, como se fosse a coisa mais normal do mundo.

Não aguentei, eu tive que rir.

— Você está louca?! Certo? Olha, se você me disser o número de telefone do seu marido ou alguém da sua confiança, eu vou ligar e eles vão vir buscar você — falei, ainda rindo do seu devaneio.

— Eu estou falando sério, Isabela! — ela exclamou, aumentando o tom de voz.

— Isso não está acontecendo! Você acha mesmo que eu vou topar fazer isso? — encarei a mulher e ela mantinha-se inabalável — É inacreditável essa proposta.

— Não! Não tem nada de inacreditável, como eu disse vocês duas são idênticas, só muda a cor dos olhos, você pode se passar por ela facilmente se treinar. Além do mais, as pessoas lá em São Paulo não sabem que a Isadora tem uma irmã gêmea.

— Eu não vou fazer isso! — Recusei novamente.

— Eu disse que será apenas por um período de tempo, você vai receber uma quantia generosa de dinheiro quando tudo isso acabar —falou. Querendo me convencer com dinheiro, é sério? Essa mulher não tem limites mesmo.

— E você acha que eu preciso do seu dinheiro? Não, eu não preciso! Assumir a identidade de outra pessoa é crime, você não sabia disso?!

Mais uma vez, ela bufou, agora parecia realmente furiosa.

— Então eu vou ter que tomar medidas extremas. Isabela, eu não queria ter que vir aqui, muito menos obrigar você a vir comigo, mas eu não posso aceitar o seu não. Se você não quiser ir por bem, eu farei você ir contra sua vontade — ameaçou, essa mulher realmente não tinha coração. Tudo isso para ela era só um negócio.

— O que você vai fazer, me prender, me sequestrar e me levar à força?

— Não, eu vou colocar o Antônio na cadeia. Isabela, eu sou capaz de muitas coisas e não vou medir esforços para fazer você aceitar isso.

Olhei a mulher, sem acreditar que eu realmente tinha o sangue dela correndo nas minhas veias. O meu sentimento por ela estava confuso, era uma mistura de nojo, medo e muita incredulidade. Eu nunca imaginei que a mulher que se dizia minha mãe fosse tão cruel.

— Você faria mesmo algo tão cruel? — perguntei, chorando. Não dava mais para segurar as lágrimas.

— Sim, eu faço isso! Se você não acredita pode tentar recusar, mas eu já adianto que isso só causará dor ao seu pai. E pelo que eu soube, ele não está tão saudável ultimamente, então o resultado pode ser catastrófico — falou, sem nenhum sentimento.

Eu não lembro como consegui trabalhar o restante das horas, aquele encontro acabou comigo. A mulher que me colocou no mundo estava me ameaçando para que eu assumisse a identidade da minha irmã, uma irmã que eu nem ao menos conhecia.

Quando cheguei em casa, fiquei olhando meu pai sentado à mesa, vendo vídeos no W******p, ele sorria como uma criança. Ele era tudo o que eu tinha, minha única família, vê-lo sofrendo por minha causa é a última coisa que eu queria.

Subi para o meu quarto e tirei o cartão de visitas que a Maryeva me deu. Ela ameaçou armar para mandar meu pai para a cadeia, caso eu não aceitasse, eu não posso correr esse risco. Depois de pensar por mais meia hora, eu finalmente tomei a decisão.

— Alô! Sou eu, a Isabela. Eu topo! — falei assim que Maryeva entendeu a ligação.

— Tudo bem, viajaremos amanhã, às quatorze horas.

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