Capítulo 6 – Quebra…

Atenção!! Olá caro(a) leitor(a), este capítulo contém descrição gráfica de violência, depressão e suicídio, por favor, prossiga com cuidado ou pule o capitulo caso o afete. Enfim, boa leitura.

– Segura isso pra mim… – Laura praticamente mandou.

Hellen, a moça que a acompanhava, sequer teve tempo de negar, ou responder, pois, logo, as bolsas e livros estavam sendo jogados em seus braços.

– Deveríamos passar o fim de semana na costa… – Laura resmungou, entretida enquanto editava uma foto para o i*******m. – Você não está planejando furar com a gente de novo, não?

– Com certeza vai passar o fim de semana com aquela ficante que nem conhecemos… – Allen juntou-se à amiga na reclamação, seu tom era de puro deboche. – Poderia ao menos mostrar uma foto dela pra gente. 

Javier ouvia a reclamação dos amigos dando pouca importância, e teria permanecido assim se não tivesse percebido um estranho silêncio ao seu redor. Olhou em volta, seguindo os olhares dos outros estudantes e então percebeu o que tanto chamava a atenção: um rapaz estava no telhado ameaçando se jogar.

– Mas que mer... – Allen começou a murmurar quando viu a cena, mas não conseguiu terminar a frase quando percebeu o que estava prestes a acontecer.

Laura gritou derrubando o celular enquanto cobria o rosto com as mãos, apertando os olhos com força, evitando ver o corpo caindo, sendo imitada por uma Hellen igualmente horrorizada. 

Já Javier, este permaneceu impassível - ao menos, aos olhos dos outros -, imóvel, como se seu corpo tivesse endurecido. E por um momento, houve total silêncio, mesmo que as pessoas corressem gritando ao seu redor. Encarou o rapaz caído no chão, percebendo seu semblante agonizante e trêmulo, o peito ainda se movendo fracamente, subindo e descendo, expelindo sangue pela boca. 

Há muito tempo, o avô de Javier havia contado que todas as pessoas que tentavam terminar suas vidas se jogando de prédios acabavam por se arrepender devido à forte dor, e havia acabado de confirmar aquelas palavras com seus próprios olhos. 

Não era plácido como nos filmes. 

Num gesto mecânico, pescou o celular no bolso e discou o número da emergência, informando em poucas palavras o que havia acontecido, mas antes que a atendente pudesse perguntar mais alguma coisa, encerrou a ligação.

Desviou seus olhos do corpo e tornou a observar o terraço, confirmando seus pensamentos ao ver o vulto de uma segunda pessoa lá em cima. Sem dizer nada, começou a caminhar naquela direção, passou pelos professores que dividiram-se em prestar socorro ao estudante e ligar para a emergência, e seguiu pelos corredores quase vazios - todos estavam lá embaixo -, subiu os seis lances de escada. Seria tempo suficiente para se acalmar, mas não foi o que aconteceu.

“Pelo visto, você conseguiu o que queria…” Pensou consigo mesmo enquanto empurrava a porta de metal. Aquele era um local onde os estudantes costumavam se esconder para fumar, mas naquele momento, era uma cena de crime.

- Satisfeito? Questionou quando seus olhos se encontraram aos do outro rapaz. - Falei pra parar com essa merd*, Matteo.

- E-eu não achei que ele realmente fosse se jogar… - O rapaz gaguejou esboçando um sorriso dclaramente de desespero. - Porr, meu pai vai me matar. 

- Deveria… - Javier disse num tom baixo, quase um sussurro. 

- Que? Matteo engasgou enquanto questionava. - Qual é cara, todo mundo comete erros…

- Erro? Javier repetiu erguendo uma sobrancelha, esperava ouvir algo que o fizesse acreditar no ex-amigo, mas apenas estava vendo-o se afundar ainda mais a cada palavra dita. - Fala como se tivesse perdido dinheiro num caça-níquel.

- Olha cara, relaxa, meu pai vai resolver isso! Matteo exclamou rindo nervoso, mais para si do que para o outro.

- Esse é o problema. - Javier retrucou enquanto afrouxava a gravata e arregaçava as mangas da camisa. - Alguém precisa te dar uma lição no lugar dele, não? 

E não esperou por uma resposta. Sem aviso algum, o golpeou com um soco certeiro no estômago, tão forte que o derrubou imediatamente. Ergueu a cabeça, encarando o céu por alguns segundos, então, fechou os olhos enquanto soltava o ar pela boca. 

Depois de alguns minutos, tornou a encarar o outro.

- Reze para que ele sobreviva! Exclamou num sussurro, em tom de ameaça.

Quando estava prestes a chutá-lo, ouviu passos às suas costas, olhou para trás e notou os outros amigos que se aproximavam às pressas, olhos arregalados como se temessem presenciar algum crime.

Allen se aproximou, encarando-o como se pedisse permissão, e como não foi impedido, agachou-se ao lado de amigo machucado, ajudando-o a levantar, e ambos caminharam para longe a passos trôpegos. 

Laura os observou indo embora, então voltou-se a Javier:

- Vamos… você deveria tomar algo e se acalmar… - Sugeriu, seu tom soando com alguma insegurança, pois não estava certa de que ele a ouviria. 

Contudo, estranhamente ele o fez. Desceram as escadarias novamente, em completo silêncio e somente dentro da cafeteria, já com os cafés em mãos, foi que enfim, a moça puxou assunto.

- Achei que não se importasse… - Laura comentou enquanto retirava a gravata do amigo, que havia rasgado com o puxão violento. 

- Não me importo! Ele respondeu seco enquanto bebia seu americano. - Matteo andava conosco, suja a imagem de quem o cerca com aquele comportamento estúpido. 

Laura sentiu um arrepio ao ouvir isso. Conhecia Javier há anos, mas às vezes, tinha medo dele. Mas antes que pudesse dizer algo, ambos receberam uma mensagem no grupo departamental do colégio,  avisando de uma reunião emergencial, por motivos óbvios. 

Quando voltaram, o estudante já havia sido socorrido, restando apenas as manchas de sangue no chão, e alguns policiais que começavam a perícia. Encontraram Allen no pátio, sozinho, e ficaram ainda algum tempo observando as filas diminuíram para entrar no auditório. 

- Matteo está bem? Laura perguntou baixinho, como se temesse ser repreendida. 

- Tomou remédios… - Allen sussurrou de volta. 

Ela, a todo tempo, evitava olhar o local do acidente, mas assim que seus olhos pousaram sobre ele, a cena horrenda repassou por sua mente, deixando-a enjoada. 

- Acha que ele vai sobreviver? Perguntou baixinho.

- Dessa altura? Allen retrucou, fazendo uma negativa com a cabeça. – É surpreendente ter sido socorrido ainda.

Percebendo que havia deixado a amiga angustiada, ele ainda tentou amenizar suas palavras, mas arregalou os olhos engolindo em seco quando viu uma dupla de policiais se aproximando.

- Achei que não haveria policiais já que foi suicídio… - Murmurou assustado, chegava a gaguejar. - Se for investigado, saberão que estivemos lá  encima. 

Estava tão nervoso que teria saído correndo se Javier não tivesse o segurado pelo braço. Encarando-o como se dissesse: não seja estupido, só vai parecer mais suspeito.

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